SEGUIDORES

23 de dezembro de 2008

Festas Felizes 2009

crédito Albano Júnior



desejamos a todos os



leitores e amigos



FELIZ NATAL



e



PRÓSPERO ANO NOVO






14 de dezembro de 2008

Dinossauros em Angola

Há conhecimentos que é necessário procurar. Em Angola há bem mais do que baixa política, como pretendem fazer crer as grandes agências noticiosas.

Uma equipa de investigadores de Angola, E.U.A., Holanda e Portugal desenvolve uma campanha de estudos paleontológicos, com trabalhos de campo no Namibe entre 2005 e 2007. Descobriram o primeiro dinossauro angolano. [ler mais]

O deserto do Namibe nasceu há 100 milhões de anos, numa altura em que o Atlântico era ainda um projecto da Natureza e Pangeia não se tinha dividido totalmente. É de supor, portanto, que a costa angolana seja um lugar privilegiado para os estudos paleontológicos.

Eu que por lá vivi tantos anos reconheço, por experiência própria, a verdade desta afirmação. Lembro-me do tempo da juventude, quando empreendia longos passeios pelas dunas em busca das pedrinhas que reflectiam as cores todas do mundo e que só se encontravam ali, para lá das casuarinas - aquela barreira de árvores plantada pelo homem para impedir o avanço das areias. Lembro-me bem que era um espaço sem fim, um mar de areia a perder de vista que me fazia sentir mais pequenino do que aquilo que eu era, minúsculo, mas que, paradoxalmente, me fazia sentir como que um ser aumentado pela simples razão de estar em comunhão com a Natureza. É que esta coisa que assim se chama, Natureza, é tão sublime que nos transforma quando com ela contactamos, seja uma floresta, um rio, um mar ou um – dizem alguns – desolador deserto. Eu não tenho do deserto essa noção. Para mim o deserto e a floresta são apenas formas diversas de vida. Se lá vivemos há que aproveitar aquilo que nos é oferecido e transformar todas as noções em estádios, em valores e em consciência de vida. Temos a possibilidade de assim proceder porque temos a faculdade de discernir. Teórica. Porque, na verdade, o que mais tem faltado ao Homem tem sido a capacidade de distinguir o que é bom daquilo que é a destruição. Conseguimos, do simples, alcançar o mais espantoso - ainda não nos demos conta do mal que estamos a perpetrar contra nós próprios!

Sinto-me, neste momento, como me sentia no deserto em busca das pedrinhas - banzado com a Natureza. É que, mesmo no deserto, a beleza e a força natural são tais que nos sentimos como um simples grão de areia, ou de pó, no universo.

Lembro-me de, nessas alturas de descoberta, ter ficado pasmado com um facto agora descodificado: como era possível encontrar, nas dunas, conchas de moluscos marinhos igualinhas àquelas que apanhávamos na língua da maré, tão longe daquele lugar?

Alguns de nós conhecem, hoje, a resposta jurássica a essa questão, outros nem tanto, mas todos deverão ter a noção de que, com a nossa superior inteligência inúmeras vezes sublimada, somos apenas – paradoxo dos paradoxos - o elo mais fraco da cadeia natural. Disso não tenhamos dúvidas, quer queiramos, quer não, pelo simples facto de termos sido dotados com essa coisa chamada consciência, que tem um reverso – a não-consciência, a inconsciência, a falta de consciência … como se quiser!

admário costa lindo

4 de dezembro de 2008

A índia sabe

O Angola Haria esteve de férias forçadas. Continua ainda, na verdade. Foi o pulso direito que parti e que me impediu de escrever, é agora (desde 17 de Outubro, imagine-se) um problema qualquer na linha telefónica que não há meio de se resolver… (já aqui disse que a zona onde moro é desprivilegiada, tirando a época de eleições… depois chamam-me nomes… e qualquer dia levam-me a tribunal… modismo cá pelo burgo!)

Foi tempo de aproveitar para pôr a leitura em dia, escrever e arrumar biblioteca e arquivos.

Foi assim que revi e reli isto que vos mostro. [ler tudo em ”Amor de índio”]

15 de outubro de 2008

o Ó / the O




o Ó



bOca de comer
(com O de fOme)

palha como enchimento
diariamente gástrico

arroto oco
eco do choro da miséria

fOme de comer
(com O de bOca)






the O



mOuth to eat
(with an O like ravenOus)

stuffing of straw
daily gastric

hollow belch
echo of misery weeping

ravenOus to eat
(with an O like mOuth)

admário costa lindo
Uije, 1974

Este poema é a minha contribuição para o Blog Action Day 2008 - Poverty, uma ligação de mais de 12 mil blogs com um objectivo comum: a consciencialização de que a pobreza e a fome são fenómenos mundiais que nos cercam cada vez mais de perto.

Para saber - um pouco mais - como é possível acabar com a fome em África, siga esta ligação
O Fim da Fome em África

This poem is my contribution for the Blog Action Day 2008 - Poverty, a linkage of over 12 thousand blogs with one common purpose: the consciousness that poverty and famine are universal phenomenon that surrounds us closer and closer.

To know - a little bit more about - how to end famine in Africa, follow this link
O Fim da Fome em África (The End of Famine in Africa)

22 de agosto de 2008

O Acordo I - Grelhas explicativas ( II )


ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA ( 1990)



BASE XI
Da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas



Base XII
Do emprego do acento grave


Base XIII
Da supressão dos acentos em palavras derivadas


Base XIV
Do trema


Base XV
Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares



Base XVI
Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação



Base XVII
Do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver



Base XVIII
Do apóstrofo




Base XIX
Das minúsculas e maiúsculas



Base XX
Da divisão silábica



Base XXI
Das assinaturas e firmas

fim



última actualização: 4.09.2008





a seguir
O Acordo II – Algumas questões pertinentes

21 de agosto de 2008

Os ideais olímpicos


As relações internacionais pautam-se, grosso modo, pelos interesses politiqueiros e economicistas. Provam-no à saciedade as guerras que não param de matar.

A Solidariedade e o Humanismo são coisas abstratas e delas se sabe pelos livros de reclamações. Confirmam-no a pobreza e a miséria do chamado terceiro mundo e dos países remediados, mas também das grandes potências económicas.

O Comité Olímpico Internacional – COI rejeitou um pedido da Espanha para permitir que a sua bandeira fosse colocada a meia haste e os seus atletas usassem uma tira preta, em sinal de pesar pelos mortos no acidente de aviação de Barajas . Não se trata apenas de NÃO SENTIREM, arrogam-se o direito de impedir que OUTROS SINTAM.

Não me interessam as justificações que o COI possa dar. A posição que este organismo desportivo tomou, que condiz perfeitamente com aquilo que é a política chinesa, a quem entregaram a realização destes jogos, não se coaduna com os tão propalados ideais de paz, esperança e inclusão. Pierre de Coubertin, se fosse vivo, usaria a burka de vergonha.

Não é próprio de Humanos.

admário costa lindo

19 de agosto de 2008

O Acordo I - Grelhas explicativas ( I )


ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA ( 1990)


NB:
A redação da série de artigos que ora se inicia, salvo possíveis lapsos resultantes da falta de rotina, respeita as regras do novo Acordo Ortográfico.



[clique nas grelhas para aumentar]



BASE I
Do alfabeto e dos nomes próprios estrangeiros e seus derivados


BASE II
Do h inicial e final


BASE III
Da homofonia de certos grafemas consonânticos


BASE IV
Das sequências consonânticas


BASE V
Das vogais átonas


BASE VI
Das vogais nasais


BASE VII
Dos ditongos


BASE VIII
Da acentuação gráfica das palavras oxítonas


BASE IX
Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas
(acento agudo)

BASE IX
Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas
(acento circunflexo)

BASE IX
Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas
(acentuação prescindível)


BASE X
Da acentuação das vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas



O Acordo I – Grelhas explicativas ( II )

27 de julho de 2008

Oratura...dos Ogros...e do Fantástico





A "Oratura...dos Ogros...e do Fantástico" é um ideia do pintor Mário Tendinha, angolano do Namibe que, baseado na tradição oral angolana, organiza uma exposição de pintura representando esse tema com a participação de artistas de outras áreas.
As fotografias serão da autoria do fotógrafo José Pinto (Tonspi).
A montagem coreográfica e encenação estarão a cargo da coreógrafa Ana Clara Guerra Marques. (1)


Para o efeito será criada uma trilha sonora original com recurso às novas tecnologias.
O grupo de percussionistas estará à responsabilidade do Mestre Abraão Kumba ("Maradona").
Esta articulação das várias áreas artísticas estender-se-á a uma interacção com o público, de forma dinâmica e surpreendente, transportando-os até ao mundo dos Ogros e do Fantástico imaginado pelo pintor, a partir da oratura popular.



A exposição será inaugurada a 1 de Agosto no Namibe, na Estufa Municipal, no Horto e poderá ser acompanhada »»» AQUI.





(1) PNC 2006 para a Dança.



Entretanto [VEJA MAIS]

19 de junho de 2008

Onde está a vergonha?



Tentei evitá-lo mas não foi possível. Não resisti! Esta pérola da falta de vergonha,foi-me enviada por e-mail.
TENTEI COMPRAR UM IATE,
A TROCO DO MEU CARRITO
VAT'EMBORA AMIGO, VATE!
E TROCA-O POR UM BURRITO.

GASÓLEO A 0,80€ PARA OS IATES

O Governo democrático e maioritário do PS tem por hábito quando é confrontado com realidades, apontar os canhões para o PSD, seu parceiro do «Bloco Central de Interesses».

Mas agora, todos ficam a saber : os que têm iates e embarcações de recreio, através do Artº 29 do Cap. II da Portaria 117-A de 8 de Fevereiro de 2008, beneficiam de gasóleo ao preço do que pagam os armadores e os pescadores.

Assim todos os portugueses são iguais perante a Lei, desde que tenham iates…

É da mais elementar justiça que os trabalhadores e as empresas que tenham carro a gasóleo o paguem a 1,42 €, e os banqueiros e empresários do 'Compromisso Portugal' o paguem a 0,80 €, e é justo, porque estes não têm culpa que os trabalhadores não comprem iates!


Porreiro pá !


NB:
a quadra é da autoria do João Manuel Mangericão (Neco)

11 de junho de 2008

Portugal 3-1 Rep. Checa


[imagem retirada de http://noticias.sapo.pt/desporto/]



Portugal havia derrotado a Turquia, na 1ª Jornada (Grupo “A”) do Euro’2008, por 2-0. Hoje foi a vez da República Checa. É isto, Sr. Pinto Ribeiro, Ministro, o que ajuda “a afirmar a língua portuguesa no mundo”. Não o acordo ortográfico. (1)

Não obstante (agora dirijo-me aos jogadores das Selecções Nacionais, mas o “recado” também serve para os governantes e outros homens de Estado), não é o suficiente.

É bom que todos os angolanos, brasileiros, cabo-verdianos, guineenses, macaenses, moçambicanos, portugueses, santomenses e timorenses, nos areópagos mundiais, seja numa cimeira da ONU ou no rescaldo de um jogo de futebol, se exprimam em português. (2)

Eu sei que existe a tentação, nesses momentos, de mostrarmos que falamos (a verdade é que na maior parte das vezes apenas “arranhamos” ) o alemão, o castelhano, o francês ou o inglês.

Porém o entendimento não se faz com subserviência. Quando nós temos disso necessidade arranjamos intérpretes. Por que não o contrário?

São vocês, as figuras públicas internacionais, o melhor veículo de afirmação da língua portuguesa.

Nesses momentos a nossa Pátria deverá ser a mesma de Fernando Pessoa: “a Língua Portuguesa”! Esse é o instrumento do nosso entendimento.


admário costa lindo


(1) O Estado da Nação II.
(2) E penso que os Galegos devem proceder de igual modo: os filhos do Galaico-Português nada devem a Castela! Sem desprimor para Espanha.

4 de junho de 2008

Candidatura Luso-Galega a Património da Humanidade



É impressionante a quantidade de milhões de euros que se gastam, num país a braços com uma crise (demasiado) prolongada, com a promoção de eventos que se promovem por si próprios.

Eu sei que, em alturas determinadas, há sempre aqueles que aproveitam certas situações para aumentar a conta bancária pessoal, inventando necessidades ilusórias. Mas digam-me qual é a necessidade de um gasto tão milionário na promoção, por exemplo, do campeonato europeu de futebol, Euro 2008? Será que os amantes do desporto, particularmente do futebol, não sabem o que se passa? Ah!, já sabia!

E sabia que em 2005 a “Associação Cultural e Pedagógica Ponte… nas Ondas” promoveu a Candidatura Multinacional de Património Imaterial Galego-Português e concorreu à III Proclamação das Obras-Primas do Património Oral e Imaterial da Humanidade (Masterpiece of Oral and Intangible Heritage of Humanity), que se decidiu em Julho daquele ano?

Não sabia? Pois essa Candidatura aconteceu, na verdade!

E sabia que, não obstante todo o esforço posto ao serviço da Candidatura, a proposta não foi escolhida pela UNESCO por apresentar uma lista de património muito vasto?

Também não sabia? Pois a Candidatura refere “as tradições orais galego-portuguesas, reporta-se a uma marca distintiva das expressões culturais das regiões do Norte de Portugal e da Galiza (Espanha), que as caracteriza como uma unidade de práticas sociais e simbólicas, de que a tradição oral é uma manifestação original […] alia-a às manifestações materiais e simbólicas no Noroeste Peninsular porque nela encontram sentido e têm origem as comunidades humanas aqui residentes e que têm consciência da importância deste mundo da oralidade na construção da sua identidade cultural. […] A excepcionalidade desta candidatura reside no facto de ela ser testemunho de um passado e de um presente que ultrapassa as barreiras políticas, através do sentimento de pertença a uma cultura comum posta em causa por alguns ditames da história e pelas transformações da sociedade contemporânea e de que a experiência de novos contactos reavivou e exigiu a salvaguarda. “

E sabia que em Setembro de 2008 a Unesco, em reunião realizada em Tóquio, decidiu abrir o processo para nova inscrição e que o seu Director, Kochiro Maatsura, se tem mostrado muito empenhado e tem insistido na nossa recandidatura, prova de que a proposta de 2005 não foi em vão e mostrou a sua importância e viabilidade?

Pois, não sabia, que pena!

“Desde então, Ponte...nas ondas! coordenada por um grupo de especialistas de universidades galegas e portuguesas continuou a trabalhar na reformulação do dossier da Candidatura do Património Imaterial Galego-Português, de acordo com as sugestões feitas, na altura, pela própria Unesco.

“Esta reformulação foi já remetida ao Ministério de Cultura de Portugal para a submeter à sua aprovação, para que a proposta seja enviada, depois de aprovada pelos dois governos, para a Divisão de Património Imaterial antes de 30 de Agosto deste ano e possa concorrer às inscrições na Lista Representativa do Património Imaterial que a Unesco tornará pública em Setembro de 2009.”

A Ponte… nas Ondas, em Março do corrente ano, pediu uma audiência ao ministro da Cultura de Portugal, José António Pinto Ribeiro. O Jornal de Notícias (JN) refere hoje que, quase TRÊS MESES DEPOIS, na ausência de resposta “o investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Alexandre Parafita e os deputados do PSD eleitos por Bragança manifestaram preocupação por temer que o Norte de Portugal pudesse ficar arredado da candidatura.” E sabe-se que o prazo para a apresentação da candidatura termina no próximo dia 30 de Agosto.

À boa maneira portuguesa o Ministério da Cultura diz que “já foram dadas instruções ao Instituto dos Museus e da Conservação, entidade que tem competências na área do património imaterial, para receber em audiência a associação Ponte… nas Ondas.” E informou dessas instruções a associação?

“Ainda não foi definida uma data para o encontro, mas vai acontecer em breve" (JN). A confiarmos no sentido de brevidade do Governo, nem o pai morre nem a família almoça.

Para terminar, como não há bela sem senão, ou como tantas vezes se esconde o gato com o rabo de fora, atentem no primeiro parágrafo da notícia do JN:
“O Ministério da Cultura mostrou interesse em acompanhar e, eventualmente, apoiar uma candidatura luso-galaica à lista representativa do Património Imaterial da Humanidade da Unesco. A garantia foi dada ao JN por fonte ministerial.”

admário costa lindo

Sociedade Secreta II

Consegui, finalmente, entrar no “Angola Museke”, o tão restrito fórum a que se refere o meu artigo “Sociedade Secreta”.

Vou aqui transcrever o artigo que lá publiquei, comemorando tão importante acontecimento.

Não estou com isto a transgredir qualquer Lei do fórum, tampouco a sua regra de ouro, porque NÃO vou “divulgar, transcrever, copiar ou utilizar a informação privada de cada membro assim como as suas mensagens, para fora das paredes do Museke.”

O artigo que se segue é de minha autoria e, assim sendo, apenas eu tenho o direito e a liberdade de dispor dele plenamente.

- transcrevendo:

Caríssimos,
sou o membro mais recente desta comunidade. Devo esse privilégio à SIAM LI.

Ao entrar no fórum cumpri TRÊS TAREFAS:

1

A primeira foi consultar o perfil da Siam Li. Fiquei sem saber se a conheço pessoalmente, ou não. Sei que a re-conheço de outras memórias. Pode ela não ter nascido em Angola, ou nunca ter calcado o solo daquela saudosa Terra mas, tenho a certeza, tem dentro de si aquilo que aprendi desde candengue, nas douradas areias do Namibe, a reconhecer como genuinamente angolano [1] (e que deveria ser apanágio de toda a Humanidade): a capacidade de saber dar sem esperar contrapartidas.

A Siam colocou um comentário no meu blog que dizia apenas isto: “Admário Podes dizer que eu te convidei Um abração”. Fico-te imensamente grato por isso.

Penso que não é normal, ou não será muito usual, que um novo membro entre com um handicap. Acontece que eu entrei com isso de handicap. Por via do meu artigo “Sociedade Secreta”, publicado no Angola Haria, o meu blog, a 23 de Maio p.p.

Pode isto parecer um discurso desconexo, mas não é. Esperem por aquilo que fiz de seguida.

2

Não sabendo, nem tendo premeditado, qualquer esquema para o périplo inicial, cliquei aqui e ali. Depois do ali entrei no “Jornal do Museke” e, como faço sempre em qualquer fórum, fui de imediato para a última página porque sei que aí se fica a saber muito do que é necessário conhecer antes de nos embrenharmos nos meandros de qualquer fio.

Há quem diga que o destino define apenas o término de uma viagem ou o destinatário de uma carta. Para lá disso nada nos garante a existência de um Destino, digamos esotérico, para que estejamos fadados. Não vou aqui filosofar sobre essa possibilidade, ou impossibilidade, por pensar que estaríamos daqui a pouco, mais palavra menos linha, a discutir o sexo dos anjos.

Sobre o sexo dos anjos, ou equiparados, já tenho a minha dose. Tinha a minha filha ainda a espontaneidade infantil quando, durante uma certa procissão, em determinado momento, parou à nossa frente um andor de Santo António com o Menino ao colo. Reparei que a minha filhota admirava com atenção redobrada aquele andor, quando se saiu com esta (tendo em vista que o Menino ia nu, como o Rei da estória):

“Pai, o Jesus não tem pila?!”

Não lhe expliquei que Deuses e Anjos não têm precisão de pila para coisa alguma - é, pelo menos, o que se diz! - não fosse a criança continuar com os porquês e eu me visse na contingência de terminar a questão com o eloquente “porque sim”! Disse-lhe apenas que a falta da pila se devia a um esquecimento (providencial ou eloquente - parêntese omitido na altura) do artista-autor da peça.

Com tudo isto queria eu dizer que, não sei por que artes do Destino ou desígnio de desconhecido Kalundu, encontrei o meu artigo “Sociedade Secreta” transcrito no “Jornal”. Cedo concluí que o tal Destino ou Kalundu usa também a alcunha XPTO. E até fica bem porque XPTO também não tem sexo. Não falo de pila ou pombinha, é de Sexo mesmo.

Conclui-se, assim, que o artigo em causa é já do conhecimento da população do Museke e dos seus órgãos administrativos. Assim sendo, vou reafirmar, depois de cá ter entrado, o que disse quando ainda estava do lado de fora: este fórum é Elitista, uma vez que o acesso é extremamente restrito.

Pode estar no pensamento dos seus mentores torná-lo um espaço controlado (daí a questão do Grande Irmão), podem até dizer “civilizado”, onde a possibilidade de existência de conflitos, como noutros lados já aconteceu, é minimizada ou mesmo eliminada. De qualquer forma, não é restringindo o acesso que isso se consegue.

A SELECÇÂO é, como nos ensina a Natureza, sempre NATURAL.

3

E é neste parágrafo que entra a terceira tarefa que cumpri ao entrar no fórum: tentar conhecer-vos.

Reparem que eu bem tinha razão, a SOCIEDADE é tão SECRETA que os próprios membros não se conhecem: a maior parte deles não tem nome, nem morada, nem telefone, nem e-mail, nem interesses, nem ocupação… nem Sexo!

Pensem apenas nisto: não é por isso que o mundo vai deixar de girar ou passar a rodopiar à nossa feição. Nós é que vamos ficar fechados numa redoma com ar viciado.

Kandandu grande
admário.

[1] O Meu amigo Zèdu-o-Outro diz que essa capacidade está em vias de extinção. Eu já lhe fiz ver que não, o Povo continua o mesmo.

- fim de transcrição.

publicado a 3.06.2008 em
http://www.casafricana.net/museke/thread.php?threadid=226

1 de junho de 2008

Ser Criança

Ser criança é pintar o mundo de luz e cor,

É rebolar na relva e sentir o seu sabor!

É rir e chorar de alegria e emoção,

É conseguir guardar o mundo junto ao coração!


Graça Torres Lindo

29 de maio de 2008

O Estado da Nação III

ou A Excepção e a Regra
ou Pura Filosofia

a Excepção

1. A Amnistia Internacional (AI) voltou a incluir Portugal no seu relatório anual. Segundo este organismo (referindo dados fornecidos pelo Governo Português) 39 mulheres foram mortas pelos maridos ou companheiros durante o ano de 2007. E são apenas os dados conhecidos e apurados de facto.

Aqueles que espancam, por vezes até à morte, mulheres (e também crianças, é bom lembrar) julgam-se civilizados e riem-se alarvemente quando, refastelados no sofá em frente a um televisor com uma bejeca na mão, comentam documentários sobre povos do dito “terceiro mundo” escarnecendo-os pelo simples facto de a sua cultura apresentar ritos e situações consideradas (por eles, “civilizados”) aberrantes. E acham, do alto da sua purulenta “superioridade”, que matar uma companheira, mãe dos seus filhos as mais das vezes, não é uma aberração. E a soçaite bate palmas porque andar por aí com um osso atravessado nos beiços não tá com nada! O que dá mesmo é matar de uma vez por todas.

Mentecapto é a palavra mais prazenteira que encontro para esses energúmenos .

2. A AI refere também que “as alegações de maus tratos por parte da polícia e subsequente impunidade dos envolvidos persistiram durante o ano de 2007”.

O Ministro da Administração Interna, sr. Rui Pereira, disse, a este respeito, que reafirma a sua “profunda confiança nas forças de segurança portuguesas, que têm um comportamento dedicado” e afirma “com toda a clareza, tal como me foi dito pela própria Amnistia que quaisquer comportamentos desviantes são a absoluta excepção e nunca a regra”.

Apetece-me parafrasear um cantor meu amigo: “Pois é, senhor Zé!”, não foi consigo nem com familiar seu.

Acho abominável quando os políticos tratam as pessoas como números ou regras gramaticais.

As excepções às regras gramaticais, Senhor Ministro, não fazem mossa. As excepções que o senhor refere magoam, maltratam e ferem, por vezes irreversivelmente, muitos cidadãos. E a revolta seria absolutamente a mesma se a excepção se referisse apenas a UMA pessoa.

Mas esta não é sensibilidade dos políticos que temos.

a Regra

A Regra, neste Estado super-liberal, é a subserviência do(s) Governo(s) face aos grandes Grupos Económicos. Neste caso sem Excepções.

Acho imensa graça (coitada da piada salutar!) quando oiço os comentadores políticos, da área económica, analisar a lengalenga do situacionismo (ressalvando algumas honrosas exclusões). As teorias que apresentam contravertem sempre as histórias da carochinha, aqui incluídas a do capuchinho vermelho, a dos três porquinhos e do lobo mau. Olha! Por coincidência aparece sempre um lobo. De quatro patas, que os há – e muitos – de duas apenas. Esses, sim, sãos os verdadeiros lobos das fábulas. E talvez seja por uma qualquer deficiência de discernimento humano que estes carnívoros estão em perigo de extinção, eles que não têm culpa absolutamente nenhuma do estado do planeta mas, antes, vítimas indefesas dos lobos-de-duas-patas.

Na infância ficávamos felizes porque os maus perdiam a contenda. Chegados à idade adulta verificamos que é mentira, os maus vencem sempre, nem que para tal seja necessário inverter a moral da história.

Fiquei a saber há dias, pela imprensa, que o Sr. Governo afirmou não haver hipóteses de sustentar ajudas à classe média. Mas das ajudas à classe alta não falou. Nunca, em tempo algum, se esclareceu o povo por que motivo, por exemplo, à Banca todo-poderosa, que apresenta lucros anuais pornográficos, se aplica uma taxa de IRC inferior aos demais contribuintes. Nunca se explicou por que motivo as gasolineiras constituíram um Cartel descarado na formação do preço dos combustíveis, sem que o Estado faça cumprir a Lei.

(parêntesis): Lei que é implacavelmente imposta às Organizações Não-Governamentais de ajuda aos desfavorecidos, às Sopas dos Pobres, obrigando-as a cumprir regras de acondicionamento idênticas à dos Restaurantes. Lei que acha (segundo uma entendida governamental) que é mais salutar para os pobres não comer nada do que tragar um pedaço de carne acondicionado num normal frigorífico caseiro.

É certo que o Governo já afirmou que irá chamar à Assembleia da República a Autoridade da Concorrência para explicações sobre os preços dos combustíveis. Mas, quando? Após o 30º ou o 50º aumento de preços? Ou será que ando eu distraído?

Após o 21º aumento de preço dos combustíveis a argumentação mudou de tom, precisamente porque se seguiu a uma baixa do preço do crude: a questão é que aquele que está nas refinarias ainda foi comprado ao preço anterior! “Pois é, Senhor Zé!” Mas aquando do primeiro aumento também havia muito crude à espera de refinação e o aumento aconteceu na mesma!

a Filosofia

A isto chama-se falta de vergonha!

Há quem ache que não, que é apenas pura Filosofia. E pergunto eu: mas que mal fez o homem, falecido há tantos séculos, para o desvirtuarem tão despudoradamente?


admário costa lindo

23 de maio de 2008

Sociedade Secreta




Hoje descobri um sítio chamado Angola Museke.

Como tudo o que diz respeito a Angola me interessa (não sei se já repararam!) tentei entrar.

Tão lépido ia que, não se abrindo a porta, bati com o nariz na dita.

O Angola Museke é um sítio privado para membros devidamente registados.”



Nada de anormal. Há imensos sítios, fóruns, blogs, comunidades e tudo o mais que reclamam a inscrição prévia, grátis ou mediante o pagamento de determinada quota. O aviso era tão explícito que não hesitei nem olhei para trás. Corri a inscrever-me

e não é que voltei a bater com o nariz da dita. A porta!


Ah! “Este fórum só é aberto a pessoas convidadas pelos membros já inscritos.”

Tudo bem, vamos lá à procura dos tais membros já inscritos. Pode ser que encontre algum kamba ou conhecido que me convide a entrar.

Nada! Nada de nada! Dê as voltas que der, acabo sempre na mensagem inicial:



Ou seja, em resumo: o Angola Museke é um fórum privadíssimo, apenas são permitidos membros inscritos e só estes podem convidar alguém…

… mas não há meio de saber quem eles são!

Dizer deste fórum que é um condomínio fechado é pouco. O sítio é tão hermético que é proibido “divulgar, transcrever, copiar ou utilizar a informação privada de cada membro assim como as suas mensagens, para fora das paredes do Museke.”

Exactamente assim! Cliquem na (3ª) imagem para aumentar e confirmem.

E pensamos nós que a internet é a globalização da informação. Será, mas não para todos.

George Orwell bem tinha razão. E eu bem me farto de alertar. O Grande Irmão anda por aí. Está também no Angola Museke, não tenho dúvida alguma.

O mais sensato e verdadeiro, ao fim e ao cabo, seria colocar, bem à vista, um aviso simples - SOCIEDADE SECRETA.


admário costa lindo

18 de maio de 2008

O Estado da Nação II

Estive sem acesso à internet durante um mês, por questões relacionadas com a linha telefónica. A este respeito apetece-me aqui registar que a PT (porque é ela quem faz o débito) nos deve em dobro, a mim e aos meus vizinhos, a Taxa Municipal de Direitos de Passagem. Não estranhem porque a razão é simples: os cabos telefónicos da zona onde residimos são aéreos e passam pelas nossas propriedades. A questão do dobro é também de fácil explicação: uma parte pela restituição dos débitos até agora liquidados e outra parte, de igual valor, pelos direitos de passagem que nos assistem mas dos quais a telefónica faz tábua rasa.


A zona em causa, na cidade da Póvoa de Varzim, é uma parcela do território municipal esquecida por todas as entidades, oficiais ou oficiosas, excepção feita aos períodos eleitorais. Há alguns anos atrás, quando foi instalada na zona uma grande superfície comercial, a artéria principal, Rua de Sacra Família, foi desventrada e aproveitou-se a altura para colocação das infra-estruturas da TV Cabo. Toda a população da dita rua e seus ramais colaterais beneficiaram com essa implementação, com excepção do nosso bairro que fica, com precisão milimétrica, a dois passos da dita artéria principal. A TV Cabo bem tentou impingir-nos o sistema mais dispendioso, via satélite, mas enganou-se redondamente: ninguém aderiu.


Durante este interregno (de privação de acesso à internet) a Terra não parou, nem a rotação nem a translação, e muita água correu sob as pontes.


Os combustíveis aumentaram em Portugal, durante o corrente ano, 15 vezes (e pelos vistos a coisa não pára por aqui). A Autoridade da Concorrência será chamada à Assembleia da República para explicações sobre o assunto. Mas não será suficiente que esta Autoridade esclareça por que motivo a formação de cartel por parte das gasolineiras tem passado em claro, escandalosamente. Será necessário que o Governo defina se está, realmente, aberto à diminuição da enorme carga fiscal sobre os combustíveis, que ultrapassa os 60%.


A questão do Acordo Ortográfico continua na berra. Para Pinto Ribeiro, ministro da Cultura, a uniformização da grafia é essencial e “vai ajudar a afirmar a língua portuguesa no mundo”. Os ingleses que não saibam desta tirada do nosso ministro, caso contrário ficam logo a saber qual o mal que tem impedido que o Inglês seja a língua mais utilizada no mundo.


Na China um terramoto fez, até ao momento, mais de 22.000 mortos e uma enormidade de situações de carência alimentar e sanitária. Como sempre, em situações destas, os mais prejudicados são as populações mais desfavorecidas. Ainda assim o governo chinês teve o desplante de colocar entraves às primeiras ajudas humanitárias. E todos os governantes se rebaixam ao governo daquele país asiático, organizador dos próximos Jogos Olímpicos. Como é o caso do senhor Albano Nunes, chefe de uma delegação do PCP que visitou a China. O senhor Nunes elogiou os êxitos das conquistas chinesas na construção do socialismo: desrespeito pelos Direitos Humanos, repressão, implantação de um sistema capitalista ultraliberal, desemprego, salários de miséria, segurança social inexistente, injustiça social com um fosso abissal entre ricos e pobres, inexistência de liberdade de opinião e reunião, imprensa manietada, etc. e tal.


O espantoso é que o combate a tudo isto é o cavalo de batalha do PCP na Assembleia da República… em Portugal. Duas posições antagónicas ou apenas a constatação que o que reclamamos para nós não é o mesmo que defendemos para os outros?

Angola ultrapassou, com a média de 1.873 milhões de barris de petróleo, a produção da Nigéria, que tem sido o maior produtor africano do ouro negro. Talvez assim as condições de sobrevivência do povo angolano sofram uma significativa dignificação.


Pôde ler-se no Jornal de Angola (1): “A liberdade de Imprensa teve sempre inimigos confessos e alguns idiotas úteis que, mesmo sem o saberem, são os inimigos mais difíceis de conter ou de enfrentar. São aqueles que os patrões usam para todos os abusos, para todos os fins, para todas as manobras.”


Para uns ninguém se atreverá a contestar esta posição de defesa da liberdade de imprensa. Para outros terá sido um tiro no pé.


Seja como for, o jornal que assim “fala” emprega, num artigo de opinião (ou será uma mucanda?), 12 vezes as palavras quadrilha/quadrilheiro, 6 vezes idiota, 5 vezes dono/a voz do dono, para além de alarves, ladrão, cleptomaníaco, roubou, salteadores, etc., referindo-se a jornalistas portugueses e tendo como pano de fundo as declarações de Bob Geldoff em Lisboa.


Outras tiradas filosóficas inseridas no artigo em causa:


1. “… são os angolanos que decidem do seu presente e do seu futuro…” Não se diz quem são esses angolanos que decidem, nem com que instrumentos isso é conseguido. Será por meio de eleições livres e democráticas?


2. “… diamantes de sangue…” A este respeito será aconselhável a leitura da reportagem “Operação Kissonde: Os Diamantes da Humilhação e da Miséria”, de Rafael Marques.

3. “Por uma questão de decência e como forma de nos solidarizarmos com o Povo Português, que merece uma imprensa livre e responsável.” Sem comentários!


Este artigo do Jornal de Angola termina desta forma: “Basta de abusos e insultos!”


Só me resta concluir que, numa “imprensa livre e responsável”, só escreve desta forma quem veicula “a voz do dono”.


E que mesmo os tiros no pé têm limite!


admário costa lindo


(1) “A quadrilha dos abusadores”, Jornal de Angola, 12.05.2008

10 de abril de 2008

Inqualificável



Nunca saberei tudo do que é capaz a parte mais infame dessa espécie animal a que pertenço e que dá pelo epíteto de Homo sapiens. Um dos seus espécimes, um tal Habacuc, Guillermo Habacuc Vargas - que deve fazer parte da espécie por puro engano uma vez que, dentro do esqueleto, terá, quando muito, rochas em vez de carne, nervo e sangue e serradura no lugar de cérebro - cometeu um crime hediondo e inimaginável… pelo menos para mim.

Em 2007, durante a Bienal Costarricense de Artes Visuales (Bienarte), aquele energúmeno atou um pobre cachorro a uma das paredes do centro de exposições e manteve-o ali, sem alimentação, até à morte.

“Segundo me foi dado saber o cão morreu no dia seguinte por falta de alimentação. Durante a inauguração fiquei a saber que o cão fora perseguido durante a tarde por entre as casas de chapa e papelão de um bairro de Manágua com nome de um santo que Habacuc não soube precisar na altura. Cinco das crianças que ajudaram na captura receberam, pela colaboração, gorjetas de 10 córdobas. Durante a exposição algumas pessoas pediram a libertação do cãozinho mas o artista recusou-a. O nome do cão era (foi) Natividad [Natal] e foi deixado morrer à fome à vista de todos, como se a morte de um pobre cão fosse um desavergonhado show mediático, durante o qual ninguém fez nada, senão aplaudir ou observar com olhares desorientados.”

Este facto é do conhecimento público mas o endemoninhado continua impune. E mais: pelos vistos há quem ache graça e considere aquilo uma “obra de arte”. Vai daí o dito selvagem foi convidado a repetir a proeza durante a Bienal Centroamericana Honduras 2008.

Inqualificável.


Se estás tão revoltado quanto eu, assina a petição online

Boicot a la presencia de Guillermo Habacuc Vargas en la Bienal Centroamericana Honduras 2008


admário costa lindo

nota:
A citação e as imagens são do blog El Perrito Vive

9 de abril de 2008

Mitologias



é evidente que é preciso ter em conta a mediocridade…” (1)


Há muito quem aspire ao estatuto de mito, neste mundo e em outros. Os mitos, como os deuses, constroem-se para serem idolatrados, alguns para lá de várias eternidades. Isto porque, é bom de ver, a cada um a sua eternidade. Mas os mitos, como os deuses, também se desmoronam dado que têm, todos eles, pés de barro.

Mais do que de qualquer outro aspecto, como o respeito pelas pessoas visadas e pela sua acção cívica que Agualusa expressamente ressalvou, tendo em atenção o rumo que as coisas tomaram aqui se falará de Mitos, de Liberdade e de Sipaios.

José Eduardo Agualusa, autor de “O Vendedor de Passados”, afirmou ao Angolense sobre o autor de “Sagrada Esperança”:

"Uma pessoa que ache que o Agostinho Neto, por exemplo, foi um extraordinário poeta é porque não conhece rigorosamente nada de poesia. Agostinho Neto foi um poeta medíocre", adiantando ainda que António Cardoso ou António Jacinto “a quem reconhece destaque na luta nacionalista angolana, são igualmente fracos poetas". (2)

Até aqui nada se nos afigura como anormal - nem o conceito legítimo, tampouco a adjectivação, uma vez que medíocre é melhor que mau que, por sua vez, vale mais que péssimo.

A opinião de Agualusa é partilhada, em Portugal e para já, por Vasco Graça Moura : "Conheço relativamente mal a poesia angolana. Mas daquilo que conheço, estou inteiramente de acordo com aquilo que diz o José Eduardo Agualusa. Penso que ele faz uma apreciação do ponto de vista literário e isso está no exercício pleno da sua liberdade de expressão e do seu direito à crítica." (2)

Da polémica em Angola, Artur Queiroz acha que “a grandeza da obra literária de Agostinho Neto foi reconhecida em todo o mundo por académicos, professores, críticos literários e confrades.” (3)

Sousa Jamba contraria-o ao afirmar: “Tenho dado aulas e feito conferências de e sobre Literatura Africana em várias partes do mundo. Muitos dos meus alunos e participantes dessas conferências nunca ouviram falar de Agostinho Neto.” (4)

Laurindo Vieira afirma que não é “crítico literário, nunca fui e acredito que não o serei por não dispor de formação nesta área”, mas lá vai dizendo que “a poesia de Agostinho Neto apresenta uma dimensão estética em que predomina o belo e o seu efeito sobre os sentidos é avassalador” e “retrata um tempo de sonhos desfeitos, de hetero-utopias constantes em que o sonho e a realidade do sujeito retratado se manifestavam no desejo da Liberdade.” (5)

Não é por essas mas por outras que Barthes considera que “é a escrita do recitativo, e não o seu conteúdo, que reintegra o romance sartriano na categoria das Belas-Letras.” (1)

“Agostinho Neto guiou o seu povo pelo caminho das estrelas. Que outro poeta na História Universal libertou a sua pátria com poemas e fuzis?”, questiona(-se) Queiroz. (3)

Abomino o mito. Essa dos fuzis é um tanto forçada, embora faça parte da argamassa utilizada para a construção do dito. Seja como for, com as duas coisas em simultâneo - poemas e fuzis - confesso que não me recordo, de momento. Mas lembram-se que há não muito tempo atrás se exaltava o conceito e a prática da Negritude, como arma libertadora? Pois então, nesse contexto, que tal lembrar Léopold Sédar Senghor ? E, já agora, o que tem isso a ver com a qualidade literária?

“... o presumível escritor voltou a atacar, desta vez três poetas que estão mortos e por isso nem sequer podem fazer a sua defesa.” (3)

Xé! Calma aí, para ver se entendi: por terem morrido, já não se pode falar deles? Fala-se, sim ... mas só se for em tom elogioso! É isso?

Bem vistas as coisas, nada de verdadeiramente dramático se passou, até esta fase da maka. Argumentar desta forma é tão normal, em sociedade, como tomar uma aspirina para a enxaqueca.

Em sociedade, ou em democracia como é mais correcto discorrer. Há, porém, quem oiça falar em democracia e trate imediatamente de sacar a pistola.

“Vem agora uma flatulência retardada do colonial fascismo sujar a sua memória com uma tentativa de assassinato de carácter.” (3)

Grande pensamento, camarada! Antológico! Estamos a tratar de qualidades de carácter ou de qualidades literárias? Então que tal falarmos do nacional-fascismo ou fascismo-nacionalista?

“A cobardia aqui assume a dimensão de um assassinato de carácter o que faz de Agualusa uma figura com todos os predicados para entrar na minha lista pessoal dos leprosos morais.” (3)

Arrepio-me quando alguém que está no poder, ou encostado a ele como é o caso, fala em listas pessoais. Nem todos têm a memória curta e é preciso ter cuidado porque não se trata, aqui, da lista de Schindler.

Grosso modo estas opiniões, por serem salutares, não obstam a que estejamos de sobreaviso em relação a quem argumenta com um porrinho na mão. Porém, chegados à argumentação de João Pinto é inevitável que sintamos calafrios. As afirmações que este senhor faz - e só as faz porque tem as costas quentes - são aterradoras. Pelo exacerbado mitismo que encerram e pela evidente intenção de repressão que exaltam. Tanto mais que surgem de uma área que deveria ser um garante fundamental da liberdade - o Direito e a Justiça.

João Pinto (6) disse de sua justiça: (7)

“Ao escritor importa narrar, verdades ou inverdades, mas cabe aos professores, intelectuais ou sábios ensinarem o que é verdadeiro, científico, afastando os embustes, malabarismos; e aos políticos servirem em nome do bem comum.”

Esta tirada, no que se refere à ficção, e à poesia em particular, são palavras ocas. Depois há a velha questão de saber o que é a Verdade, ou as verdades. Quanto ao “servirem em nome do bem comum” caiu-lhe a boca para a verdade: servirem em nome de e não servirem O bem comum.

“Mas, ao sê-lo, não pode mentir, [o escritor] ofender a honra dos outros, muito menos impor seus gostos pessoais ou estéticos, mesmo que apresentados; por serem susceptíveis de discussões, … é uma questão de interesses da comunidade, é gestão de interesses, ou seja, é política, cidade, tem haver com lideranças dos sujeitos, elites naquilo que é a expressão máxima na estética literária, política, económica ou social.”

O que aí vai de estapafúrdio. A literatura tem uma estética própria, melhor, estéticas concretas que não se devem confundir nem misturar com a politiquice de que V.Exª trata.

“Neto é Kilamba, kituta, kiximbi sendo-o é intérprete das divindades aquáticas do Kwanza, é o antropónino de crianças que nascem com poderes especiais, segundo o antropólogo Virgílio Coelho (1989). Quando o fazem rompem, revolucionam, atacam dando origem aos conflitos ou xinguilamentos, atendendo os interesses espirituais, por razões inerentes à religiosidade, nzumbi, kalunga, malunga, ituta, segundo Heli Chatelain.”

O Mito em avançado estadio de construção, mais concretamente.

“… o texto da entrevista de Agualusa, no Jornal Angolense de 15 a 22 de Março de 2008, e no seu Artigo de defesa no Semanário a “Capital”, de 29 de Março a 5 de Abril de 2008, mostra um arrazoado intelectual de uma elite que a todo custo quer ser livre e fazer o que lhe apetece sem ser respondido! São democratas quando xingam os outros, quando dizem qualquer baboseira e ainda por cima se agradece! Que tamanha liberdade, que ética defendemos, que humanismo! Que educação, que conhecimento manifestamos, onde está afinal a cultura...

De humanismo falarei num próximo artigo sobre o encerramento do Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Angola.

Por outro lado, quem lê o seu artigo na íntegra fica com a clara sensação que este pedaço de prosa se vira contra si, como a pescadinha-de-rabo-na-boca. E, ademais, ao “fazer o que lhe apetece sem ser respondido” V.Exª vai já esclarecer:

“Acho mesmo que, deve haver responsabilidade criminal e civil por estarem reunidos todos requisitos do ultraje à moral pública (ofendeu a moral cultural ou intelectual dos angolanos), previsto e punido no Artigo 420º do Código Penal. É preciso moralizar, sob pena de banalizar a figura mais importância da nossa memória colectiva contemporânea.”

V.Exª enganou-se, não tem estofo de jurista, nem de homem de Direito. Talvez de sipaio ou capataz de roça. Que me diz?

De todos aqueles que correram atrás das declarações de Agualusa, Sousa Jamba surge como o mais equilibrado e sensato:

“Temos de agradecer a Agualusa por ter levantado a questão. Agora cabe-nos ler ou reler as obras dos autores que ele menciona para tirarmos as nossas conclusões.” (4)

E assim sendo, sejam quais forem as conclusões, urge que os sipaios de Angola interiorizem de uma vez por todas que Opinião não é um Crime.


admário costa lindo


notas e fontes:
(1) Roland Barthes. O Grau Zero da Escrita, Edições 70, Lisboa, 1997.
(2)
José Eduardo Agualusa considera Agostinho Neto ”poeta medíocre" e é ameaçado com processo judicial, Lusa, 8.04.2008.
(3) Artur Queiroz.
O comerciante desalmado, Jornal de Angola, 18.03.2008
(4) Sousa Jamba,
Em defesa de José Eduardo Agualusa, Angolense cit. AngoNotícias, 22.03.2008.
(5) Laurindo Vieira.
Sobre a poesia de Agostinho Neto, Jornal de Angola, 30.03.2008.
(6) João Pinto é Jurista e Ensina Ciência Política e Direito Público na UnIA e Faculdade de Letras e Ciências Sociais da UAN (Universidade Agostinho Neto).
(7) João Pinto,
Literatura identidade e política, Jornal de Angola, 6.04.2008.

1 de abril de 2008

Aileda. Bio


Aileda


Nascida no Algarve (Olhão), cresceu em Angola até 1975.

Faz do seu "mata-saudade" o Desenho e a Pintura, como a Poesia que, além de hobbies, foram suporte à interacção com alunos e outros, no seu percurso como Professora.

Autodidacta, com sonhos... (inspira-se no Tempo dos Sonhos... em "Memórias de memória"), ensaia experiências plásticas, por técnicas variadas.

Aileda - assina os seus trabalhos, apenas reconhecidos no seu meio restrito (familiares, amigos e colegas).


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29 de março de 2008

O País que Falta




Numa altura em que o baile é mandado pela questão do Acordo ortográfico, daqui afirmo que à comunidade lusófona, ou CPLP (Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa), falta um país.

Não sou apenas eu quem o diz. Em lugares tão distantes quanto a Galiza e o Brasil, há muitas vozes que o reclamam.

Aqui ficam alguns apontamentos a respeito:

1.
“Este é o sítio web do Movimento Defesa da Língua (M.D.L.). Somos uma organização de acção social de base nascida no 1995 como aposta dos grupos de base que existiam na altura, e que como eles procura a naturalização da língua própria da Galiza, conhecida internamente como galego e internacionalmente como português. Queremos ser o referente das pessoas que acreditam na reintegração das falas galegas no sistema linguístico a que pertence, a Lusofonia, especialmente para reverter o processo de substituição do galego/português polo castelhano na população da Galiza e recuperá-lo para todo o uso linguístico.

Somos um colectivo democrático, aberto e horizontal que se rege por assembleia; independente de qualquer outro colectivo e partido político; e que aceita e ainda fomenta a liberdade de pensamento, salvo práticas ou condutas anti-sociais intoleráveis. Mais informação na secção Sobre o MDL.

Um fito importante foi que conseguimos fazer pola primeira vez que todos os colectivos lusistas da Galiza se reunissem em Compostela em Dezembro de 2001. Ali nasceu o Manifesto unitário reintegracionista do 15 de Dezembro (M15D), que defende a opção da Lusofonia como a única válida para a naturalização e recuperação da língua. O Comunicado sobre a reforma ortográfica e a língua na Galiza é muito parecido e além disso mais actual.

Convidamos-te a veres o nosso trabalho durante este tempo, e o que temos preparado para dentro de pouco. Convidamos-te também a contactar-nos e remeter-nos quaisquer sugestões. Estamos cá na defesa da língua na Galiza.”

( página principal do portal MDL )


2.
“Por muitos anos, chefes políticos galegos derrotados optaram pelo exílio em Portugal, inconformados com a sujeição de sua pátria aos reinos de Castela e Aragão. Um desses exilados foi o avô paterno de um poeta que, hoje, tem o seu nome ligado indissociavelmente à Língua Portuguesa: Luís Vaz de Camões (1524-1525?/1580). Se as circunstâncias políticas fossem outras, com certeza, Camões também seria reverenciado como o maior poeta da língua galega, ao lado de Rosalía de Castro (1837-1885)…
Carlos Quiroga, 45 anos, nascido em Vilazante, é professor de Literaturas Lusófonas na Universidade de Santiago… Continua a defender a liberdade e o final da censura promovida por aqueles setores comprometidos com os interesses político-económicos de Madri, apesar das últimas mudanças políticas que permitiram ao galego pelo menos recuperar sua auto-estima.
Essa liberdade, obviamente, só será completa quando a Galiza puder se filiar como nação independente à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), integrando-se ao mundo lusófono de mais de 200 milhões de pessoas, já que os galegos continuam a ser portugueses que ficaram além do Minho como os portugueses são galegos que ficaram do lado de cá.”

( Adelto Gonçalves, “Periferias” ou a viagem da língua, Vértice nº 136, Setembro-Outubro 2007, pp.140/142)


3.
Rosalía de Castro (1837-1885)

Este vaise e aquel vaise

Este vaise i aquel vaise,
e todos, todos se van,
Galicia, sin homes quedas
que te poidan traballar.

Téns, en cambio, orfos e orfas
e campos de soledad,
e pais que non teñen fillos
e fillos que non tén pais.

E téns corazóns que sufren
longas ausencias mortás,
viudas de vivos e mortos
que ninguén consolará.

¡Olvidémo-los mortos!



Corre o vento, o río pasa

Corre o vento, o río pasa;
corren nubes, nubes corren
camiño da miña casa.

Miña casa, meu abrigo:
vanse todos, eu me quedo
sin compaña, nin amigo.

Eu me quedo contemprando
as laradas das casiñas
por quen vivo suspirando.

Ven a noite..., morre o día,
as campanas tocan lonxe
o tocar da Ave María.

Elas tocan pra que rece;
eu non rezo, que os saloucos,
afogándome parece
que por min tén que rezar.

Campanas de Bastabales,
cando vos oio tocar,
mórrome de soidades.


admário costa lindo

24 de março de 2008

Luanda-a-Velha ou Luanda-a-Nova? III











3. Luanda-a-Nova

Neste tempo consumista em que vivemos, quando as pernas de uma cadeira se desengonçam é mais apropriado comprar uma nova mobília completa.

Os Bancos estão aí para ajudar. Fazem empréstimos ao preço da uva mijona, sem entrada e sem juros, com prazos a perder de vista e sem necessidade de garantias. Há até aqueles que nos pagam o seguro do carro e as contas da água, luz, telefone, internet e TV Cabo. É por estas e por outras que se diz que o Prémio Nobel da Paz de 2006 foi mal atribuído a Muhammad Yunus, porque o que ele faz é a mesmíssima coisa que fazem os grandes bancos capitalistas. Isso e muito mais: os grandes bancos, na Páscoa, põem à disposição dos clientes, nos seus balcões, tigelinhas de cristal com amêndoas e caramelos, oferecem serpentinas pelo Carnaval e cartões de boas festas no Natal. A Banca usurpou as funções das Misericórdias.

Voltando à pacassa fria, é mais fácil comprar o novo do que consertar o velho. No estado em que se encontra Luanda, diz-se à boca cheia, é melhor construir uma capital nova. Esta questão não é de agora mas acentuou-se nos últimos tempos, segundo me confidenciou um amigo que visitou Angola há pouco tempo. Contou-me isso e mais: que Luanda está edificada sobre uma mina de diamantes e é por essa razão que os governantes não se interessam em renovar ou requalificar a cidade. Deixa-se apodrecer e depois é só catar diamantes.

Mujimbos [5] à parte, o certo é que, segundo esse amigo, Luanda-a-Nova já está em construção, de Belas para sul. O ministro diz que é mentira, mas não deixa de esconder o gato com o rabo de fora:

“Diríamos que, quando se fala em nova capital, significa, essencialmente, a transferência, por assim dizer, do centro superior do poder político. Do que eu saiba, isto não está ainda na agenda do Governo”. [6]

1. Antes que tudo, caro Ministro, quando se fala em capital, em Angola, sabe tão bem como eu, fala-se de Luanda-a-cidade.

2. O que está verdadeiramente em causa é algo mais do que o “centro superior do poder político”.

3. Quando diz que “não está AINDA na agenda do Governo” quer significar que não há fumo sem fogo!? Mentira?

4. O que é necessário esclarecer: aquilo que está a ser construído para sul de Belas,
a) é uma nova cidade,
b) ou apenas está a ser posto em prática o plano de urbanismo que, afirmou V.Exª na entrevista citada, ainda está em estudo… e nem sequer tem competências atribuídas?

admário costa lindo













[5]
Boatos.
[6] Sita José, entrevista citada.


Para ler na íntegra a entrevista de Sita José:
aceder ao “Jornal de Angola online/
fazer a pesquisa por “criação de uma nova capital”.



imagens Google Earth 24.03.2008:
1. Sambizanga e Mercado Roque Santeiro
2. São Paulo
3/8. Belas


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