SEGUIDORES

30 de janeiro de 2006

Angolense, Quem Diria!

Quem diria!
Angolense é o nome de um jornal


1.
ANGOLENSE. adj. e s. cd. Angolano; o natural, o habitante ou o que pertence ou se refere a Angola.

CIT.1: “Angolense, adj., mona-ngola, I; mukua-ngola, I.”, Nascimento (1) p. 8.

CIT.2: “Massemba, sub. – Tradicional bailado angolense.”, Victor (1) p. 104.

CIT.3: “Apesar de esgotados e com efectivos cada vez mais pequenos, os angolenses e portugueses de Massangano organizaram uma expedição sob o comando de Diogo Gomes Morales, que foi bater os jagas e avassalar cerca de trinta sobados em rebelião.” , A. de Lemos, História de Angola, cit. in Ribas (1) p. 7.

CIT.4: “Hebo: nome feminino angolense.” , Vilanova (1) p. 100.



2.
Há tempos descobri, em “Ciberdúvidas da Língua Portuguesa” http://ciberduvidas.sapo.pt/ uma controvérsia à volta do termo Angolense. Passo a citar algumas passagens:

Angolense não é sinónimo de angolano. A primeira designação surgiu nos meios culturais luandenses e está ligada ao título de um jornal luandense que se pautou pelo nacionalismo.” , Rui Ramos 23.01.2003.
"”Se me perguntarem, hoje, se sou “angolense”, eu respondo: “Angolense” é o nome de um jornal que se publica em Luanda, eu sou angolano. Isso significa que a expressão histórica e prática aceite pela língua portuguesa para os nacionais de Angola é angolano/a. “Angolense”, nesse sentido, não se usa.”” , Rui Ramos 29.01.2003.

Não basta que um termo exista para que ele signifique. Os termos precisam não só existir, mas, também, ser usados com determinado sentido por um grupo considerável de falantes da língua em circunstâncias equivalentes de forma que entrem no léxico mental dos referidos falantes, os quais ao ouvirem o termo vão automaticamente relacioná-lo a um determinado referente no mundo real.” , Ida Rebelo 30.01.2003.

Do acima enunciado poucos irão discordar. No entanto, isto levanta várias questões:

1º EXISTÊNCIA. Contrariamente ao que afirma o muito respeitável Rui Ramos, este termo não existe apenas como título de um jornal, o que se pode confirmar pela relação de citações apresentadas na ficha acima. Desde, pelo menos, 1903 até à actualidade. A cit3 serve não só para A. de Lemos, mas para o próprio Óscar Ribas que afirma textualmente: “Natural ou habitante de Angola. O mesmo que angolano”.

2º NECESSIDADE. Na realidade, existindo um termo que “a expressão histórica e prática” aceita, não será necessária a existência de outros. Mas, não é menos verdade que a existência de outros termos para um mesmo sentido não possa ser aceite. Não é necessário mas é plausível porque, a meu ver, este facto enriquece a Língua, contrariamente ao que muitos puristas defendem.

3º EXCLUSÃO. Não é pelo facto de um termo não ser usado “com determinado sentido por um grupo considerável de falantes da língua(*) - e o que é um grupo considerável e a que escala? - que uma palavra ou expressão deva ser excluída do léxico.(*) Até porque está por provar que o termo Angolense não contenha em si todas as características que permitam “automaticamente relacioná-lo a um determinado referente no mundo real”.
4º SIMILITUDE. O que fazer, então, com o termo Santareno, em contraponto a Escalabitano? E Lisbonense a Lisboeta ? (in Grande Dicionário Universal da Língua Portuguesa, Texto Editora, edição em CD-ROM).


adaptado de “Cultura Angolense” in http://www.sanzalangola.com/


NB:
Para terminar quero apenas apresentar mais um defensor do Angolense, de seu nome António de Assis Júnior, que deu à estampa, em 1929, O Segredo da Morta (Romance de Costumes Angolenses) – existe uma edição modernamente realizada por Ediciones Cubanas para a União dos Escritores Angolanos, Cuba, Junho de 1985.

(*) A palavra consuetudinário estará incluída neste grupo? Deverá ser abolida?

admário costa lindo

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito complicada é a Língua Portuguesa e muito "dogmáticos" são os seus linguistas! Embora sinta que há uma certa nuance de diferença entre os dois termos - vejo angolense mais como adjectivo, angolano podendo ser adjectivo e substantivo (?), acho muito redutor afirmar que angolense é [apenas] o nome de um jornal!