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29 de maio de 2008

O Estado da Nação III

ou A Excepção e a Regra
ou Pura Filosofia

a Excepção

1. A Amnistia Internacional (AI) voltou a incluir Portugal no seu relatório anual. Segundo este organismo (referindo dados fornecidos pelo Governo Português) 39 mulheres foram mortas pelos maridos ou companheiros durante o ano de 2007. E são apenas os dados conhecidos e apurados de facto.

Aqueles que espancam, por vezes até à morte, mulheres (e também crianças, é bom lembrar) julgam-se civilizados e riem-se alarvemente quando, refastelados no sofá em frente a um televisor com uma bejeca na mão, comentam documentários sobre povos do dito “terceiro mundo” escarnecendo-os pelo simples facto de a sua cultura apresentar ritos e situações consideradas (por eles, “civilizados”) aberrantes. E acham, do alto da sua purulenta “superioridade”, que matar uma companheira, mãe dos seus filhos as mais das vezes, não é uma aberração. E a soçaite bate palmas porque andar por aí com um osso atravessado nos beiços não tá com nada! O que dá mesmo é matar de uma vez por todas.

Mentecapto é a palavra mais prazenteira que encontro para esses energúmenos .

2. A AI refere também que “as alegações de maus tratos por parte da polícia e subsequente impunidade dos envolvidos persistiram durante o ano de 2007”.

O Ministro da Administração Interna, sr. Rui Pereira, disse, a este respeito, que reafirma a sua “profunda confiança nas forças de segurança portuguesas, que têm um comportamento dedicado” e afirma “com toda a clareza, tal como me foi dito pela própria Amnistia que quaisquer comportamentos desviantes são a absoluta excepção e nunca a regra”.

Apetece-me parafrasear um cantor meu amigo: “Pois é, senhor Zé!”, não foi consigo nem com familiar seu.

Acho abominável quando os políticos tratam as pessoas como números ou regras gramaticais.

As excepções às regras gramaticais, Senhor Ministro, não fazem mossa. As excepções que o senhor refere magoam, maltratam e ferem, por vezes irreversivelmente, muitos cidadãos. E a revolta seria absolutamente a mesma se a excepção se referisse apenas a UMA pessoa.

Mas esta não é sensibilidade dos políticos que temos.

a Regra

A Regra, neste Estado super-liberal, é a subserviência do(s) Governo(s) face aos grandes Grupos Económicos. Neste caso sem Excepções.

Acho imensa graça (coitada da piada salutar!) quando oiço os comentadores políticos, da área económica, analisar a lengalenga do situacionismo (ressalvando algumas honrosas exclusões). As teorias que apresentam contravertem sempre as histórias da carochinha, aqui incluídas a do capuchinho vermelho, a dos três porquinhos e do lobo mau. Olha! Por coincidência aparece sempre um lobo. De quatro patas, que os há – e muitos – de duas apenas. Esses, sim, sãos os verdadeiros lobos das fábulas. E talvez seja por uma qualquer deficiência de discernimento humano que estes carnívoros estão em perigo de extinção, eles que não têm culpa absolutamente nenhuma do estado do planeta mas, antes, vítimas indefesas dos lobos-de-duas-patas.

Na infância ficávamos felizes porque os maus perdiam a contenda. Chegados à idade adulta verificamos que é mentira, os maus vencem sempre, nem que para tal seja necessário inverter a moral da história.

Fiquei a saber há dias, pela imprensa, que o Sr. Governo afirmou não haver hipóteses de sustentar ajudas à classe média. Mas das ajudas à classe alta não falou. Nunca, em tempo algum, se esclareceu o povo por que motivo, por exemplo, à Banca todo-poderosa, que apresenta lucros anuais pornográficos, se aplica uma taxa de IRC inferior aos demais contribuintes. Nunca se explicou por que motivo as gasolineiras constituíram um Cartel descarado na formação do preço dos combustíveis, sem que o Estado faça cumprir a Lei.

(parêntesis): Lei que é implacavelmente imposta às Organizações Não-Governamentais de ajuda aos desfavorecidos, às Sopas dos Pobres, obrigando-as a cumprir regras de acondicionamento idênticas à dos Restaurantes. Lei que acha (segundo uma entendida governamental) que é mais salutar para os pobres não comer nada do que tragar um pedaço de carne acondicionado num normal frigorífico caseiro.

É certo que o Governo já afirmou que irá chamar à Assembleia da República a Autoridade da Concorrência para explicações sobre os preços dos combustíveis. Mas, quando? Após o 30º ou o 50º aumento de preços? Ou será que ando eu distraído?

Após o 21º aumento de preço dos combustíveis a argumentação mudou de tom, precisamente porque se seguiu a uma baixa do preço do crude: a questão é que aquele que está nas refinarias ainda foi comprado ao preço anterior! “Pois é, Senhor Zé!” Mas aquando do primeiro aumento também havia muito crude à espera de refinação e o aumento aconteceu na mesma!

a Filosofia

A isto chama-se falta de vergonha!

Há quem ache que não, que é apenas pura Filosofia. E pergunto eu: mas que mal fez o homem, falecido há tantos séculos, para o desvirtuarem tão despudoradamente?


admário costa lindo

23 de maio de 2008

Sociedade Secreta




Hoje descobri um sítio chamado Angola Museke.

Como tudo o que diz respeito a Angola me interessa (não sei se já repararam!) tentei entrar.

Tão lépido ia que, não se abrindo a porta, bati com o nariz na dita.

O Angola Museke é um sítio privado para membros devidamente registados.”



Nada de anormal. Há imensos sítios, fóruns, blogs, comunidades e tudo o mais que reclamam a inscrição prévia, grátis ou mediante o pagamento de determinada quota. O aviso era tão explícito que não hesitei nem olhei para trás. Corri a inscrever-me

e não é que voltei a bater com o nariz da dita. A porta!


Ah! “Este fórum só é aberto a pessoas convidadas pelos membros já inscritos.”

Tudo bem, vamos lá à procura dos tais membros já inscritos. Pode ser que encontre algum kamba ou conhecido que me convide a entrar.

Nada! Nada de nada! Dê as voltas que der, acabo sempre na mensagem inicial:



Ou seja, em resumo: o Angola Museke é um fórum privadíssimo, apenas são permitidos membros inscritos e só estes podem convidar alguém…

… mas não há meio de saber quem eles são!

Dizer deste fórum que é um condomínio fechado é pouco. O sítio é tão hermético que é proibido “divulgar, transcrever, copiar ou utilizar a informação privada de cada membro assim como as suas mensagens, para fora das paredes do Museke.”

Exactamente assim! Cliquem na (3ª) imagem para aumentar e confirmem.

E pensamos nós que a internet é a globalização da informação. Será, mas não para todos.

George Orwell bem tinha razão. E eu bem me farto de alertar. O Grande Irmão anda por aí. Está também no Angola Museke, não tenho dúvida alguma.

O mais sensato e verdadeiro, ao fim e ao cabo, seria colocar, bem à vista, um aviso simples - SOCIEDADE SECRETA.


admário costa lindo

18 de maio de 2008

O Estado da Nação II

Estive sem acesso à internet durante um mês, por questões relacionadas com a linha telefónica. A este respeito apetece-me aqui registar que a PT (porque é ela quem faz o débito) nos deve em dobro, a mim e aos meus vizinhos, a Taxa Municipal de Direitos de Passagem. Não estranhem porque a razão é simples: os cabos telefónicos da zona onde residimos são aéreos e passam pelas nossas propriedades. A questão do dobro é também de fácil explicação: uma parte pela restituição dos débitos até agora liquidados e outra parte, de igual valor, pelos direitos de passagem que nos assistem mas dos quais a telefónica faz tábua rasa.


A zona em causa, na cidade da Póvoa de Varzim, é uma parcela do território municipal esquecida por todas as entidades, oficiais ou oficiosas, excepção feita aos períodos eleitorais. Há alguns anos atrás, quando foi instalada na zona uma grande superfície comercial, a artéria principal, Rua de Sacra Família, foi desventrada e aproveitou-se a altura para colocação das infra-estruturas da TV Cabo. Toda a população da dita rua e seus ramais colaterais beneficiaram com essa implementação, com excepção do nosso bairro que fica, com precisão milimétrica, a dois passos da dita artéria principal. A TV Cabo bem tentou impingir-nos o sistema mais dispendioso, via satélite, mas enganou-se redondamente: ninguém aderiu.


Durante este interregno (de privação de acesso à internet) a Terra não parou, nem a rotação nem a translação, e muita água correu sob as pontes.


Os combustíveis aumentaram em Portugal, durante o corrente ano, 15 vezes (e pelos vistos a coisa não pára por aqui). A Autoridade da Concorrência será chamada à Assembleia da República para explicações sobre o assunto. Mas não será suficiente que esta Autoridade esclareça por que motivo a formação de cartel por parte das gasolineiras tem passado em claro, escandalosamente. Será necessário que o Governo defina se está, realmente, aberto à diminuição da enorme carga fiscal sobre os combustíveis, que ultrapassa os 60%.


A questão do Acordo Ortográfico continua na berra. Para Pinto Ribeiro, ministro da Cultura, a uniformização da grafia é essencial e “vai ajudar a afirmar a língua portuguesa no mundo”. Os ingleses que não saibam desta tirada do nosso ministro, caso contrário ficam logo a saber qual o mal que tem impedido que o Inglês seja a língua mais utilizada no mundo.


Na China um terramoto fez, até ao momento, mais de 22.000 mortos e uma enormidade de situações de carência alimentar e sanitária. Como sempre, em situações destas, os mais prejudicados são as populações mais desfavorecidas. Ainda assim o governo chinês teve o desplante de colocar entraves às primeiras ajudas humanitárias. E todos os governantes se rebaixam ao governo daquele país asiático, organizador dos próximos Jogos Olímpicos. Como é o caso do senhor Albano Nunes, chefe de uma delegação do PCP que visitou a China. O senhor Nunes elogiou os êxitos das conquistas chinesas na construção do socialismo: desrespeito pelos Direitos Humanos, repressão, implantação de um sistema capitalista ultraliberal, desemprego, salários de miséria, segurança social inexistente, injustiça social com um fosso abissal entre ricos e pobres, inexistência de liberdade de opinião e reunião, imprensa manietada, etc. e tal.


O espantoso é que o combate a tudo isto é o cavalo de batalha do PCP na Assembleia da República… em Portugal. Duas posições antagónicas ou apenas a constatação que o que reclamamos para nós não é o mesmo que defendemos para os outros?

Angola ultrapassou, com a média de 1.873 milhões de barris de petróleo, a produção da Nigéria, que tem sido o maior produtor africano do ouro negro. Talvez assim as condições de sobrevivência do povo angolano sofram uma significativa dignificação.


Pôde ler-se no Jornal de Angola (1): “A liberdade de Imprensa teve sempre inimigos confessos e alguns idiotas úteis que, mesmo sem o saberem, são os inimigos mais difíceis de conter ou de enfrentar. São aqueles que os patrões usam para todos os abusos, para todos os fins, para todas as manobras.”


Para uns ninguém se atreverá a contestar esta posição de defesa da liberdade de imprensa. Para outros terá sido um tiro no pé.


Seja como for, o jornal que assim “fala” emprega, num artigo de opinião (ou será uma mucanda?), 12 vezes as palavras quadrilha/quadrilheiro, 6 vezes idiota, 5 vezes dono/a voz do dono, para além de alarves, ladrão, cleptomaníaco, roubou, salteadores, etc., referindo-se a jornalistas portugueses e tendo como pano de fundo as declarações de Bob Geldoff em Lisboa.


Outras tiradas filosóficas inseridas no artigo em causa:


1. “… são os angolanos que decidem do seu presente e do seu futuro…” Não se diz quem são esses angolanos que decidem, nem com que instrumentos isso é conseguido. Será por meio de eleições livres e democráticas?


2. “… diamantes de sangue…” A este respeito será aconselhável a leitura da reportagem “Operação Kissonde: Os Diamantes da Humilhação e da Miséria”, de Rafael Marques.

3. “Por uma questão de decência e como forma de nos solidarizarmos com o Povo Português, que merece uma imprensa livre e responsável.” Sem comentários!


Este artigo do Jornal de Angola termina desta forma: “Basta de abusos e insultos!”


Só me resta concluir que, numa “imprensa livre e responsável”, só escreve desta forma quem veicula “a voz do dono”.


E que mesmo os tiros no pé têm limite!


admário costa lindo


(1) “A quadrilha dos abusadores”, Jornal de Angola, 12.05.2008