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9 de julho de 2015

o sorriso da lua






Canivete é um Mukuankala que todos dias, durante a primeira classe, me acompanha na escola, no ir e no vir. Adoro as estórias que ele me conta. Aprecio sobremaneira as suas explicações sobre as palavras e termos da sua língua-mãe, cantaroladas e abundantes de estalinhos da língua que se entremeiam nas estórias. Acho, até, que foi ele o primeiro responsável pela minha apetência pela Cultura Angolana.

Nem sinto a longa caminhada. A escola fica quase no princípio da vila e eu moro no extremo oposto, onde não há estrada nem de terra-batida, bem para lá da barreira de casuarinas, na pescaria do Venâncio Pobre.

Naquele dia sexta-feira paro, já perto de chegar em casa, sento-me no areal e puxo Canivete pela mão para que faça o mesmo, Queres ver, Canivete, eu já sei ler!?

Abro o livro de leitura da 1ª classe. Canivete parece mais feliz, mais criança do que eu, a criança verdadeira. Aprecia os desenhos bonitos e a arquitectura das letras.

I, g-r-e gre, j-a ja, igreja. Vês como sei! Lê agora tu, aponto para o desenho de uma árvore - não é casuarina mas é uma árvore ainda assim - e para as letras correspondentes.


Eu não sabe ler, minino, diz-me Canivete com os olhos tristes que falam mais do que a boca.


continuar a ler »»»»»»