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30 de janeiro de 2006

O "N" de Negaje

Quando pensámos introduzir, no primeiro número do Angola Haria, a regra de que a seguir se trata, o jornal estava já pronto para distribuição. Resolvemos, assim, manter a norma usualmente tida como válida.

Uma das características das línguas da família Bantu é a nasalação de certas palavras iniciadas por consoante. A norma internacionalmente aceite para assinalar este facto é antepor-se um “N” (ou “M”) à consoante inicial. Por vezes essa grafia apresenta um apóstrofo entre as duas consoantes (o que achamos correcto por se entender que o “N” não faz parte da palavra). Mas isso nem sempre acontece.

O aportuguesamento de termos das línguas étnicas angolanas nem sempre apresenta grandes transformações. Por vezes essas palavras sofrem apenas uma adaptação morfológica/diacrítica: acomodação da grafia sónica ao Português escrito. Aconteceu com Kamba = Camba e com Misoso = Missosso. Aconteceu também, por via defeituosa, com Ngaji = Negaje.

Aquela norma (a da nasalação) tem dado azo a inúmeros equívocos, por parte de quem não é erudito em linguística. Alguns deles tornaram-se erros históricos, como é o caso de Negaje, cidade da província angolana do Uije. Negaje deriva do termo quicongo Ngaji, que significa dendém. O aportuguesamento incorrecto de Ngaji / NGaji / N’Gaji em Negaje, a nosso ver, deriva precisamente da norma utilizada.

O aportuguesamento oral nunca pode provocar erros deste jaez, uma vez que na linguagem falada não há sinais gráficos, apenas sons. Os erros nascem com a transformação dos fonemas em sinais escritos. Pela pronúncia vernácula, os fonemas sem sinais, a palavra deveria ter evoluído para Angaje, Ingaje ou, quando muito, Engaje. Como Ngola se transformou em Angola.

E se a grafia adoptada tivesse sido outra? ~Gaji, por exemplo! Teria acontecido o mesmo? Não há resposta possível, uma vez que esta norma nunca foi utilizada, mas não custa a crer que não. Parece-nos ser esta a forma mais correcta de representar esta nasalação. Os leigos, que nunca pensaram na existência de consoantes nasais, mesmo esses nunca transformariam ~G em Neg.

É assim que, a partir deste número do Glossário do Angola Haria, salvo quando se proceda a citações de outros autores e obras, a nasalação das consoantes iniciais será sempre representada por um til ( ~ ) antecedendo a consoante em causa. Logicamente, este sinal de nasalação transforma-se em “m” ou “n” no interior das palavras compostas.

Outra questão relacionada com a nasalação em “m” e “n” diz respeito à colocação dessas palavras por ordenação alfabética: deveriam seguir sempre a ordem da consoante verdadeira e não a dos símbolos “m” e “n”, o que é raro verificar-se. NGaje deveria ser, sempre, ordenada em “G” e não em “N”. Com a regra do til, essa questão desaparece.

Depois de consultado este Glossário, comparando-o com o anterior, o leitor aquilatará da pertinência desta questão.

admário costa lindo

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