Segundo o Índice Global da Fome (IGF) 2010, dos países de expressão oficial portuguesa listados apenas o Brasil caminha para o abandono do espectro da fome e apresenta um nível Baixo. Os restantes estão na fasquia Alarmante:
Guiné Bissau 22.6 – 63º lugar
Moçambique 23.7 - 66º lugar
Timor 25.8 – 71º lugar
Angola 27.2 – 73º lugar
Embora Angola tenha sido dos países que conseguiram maiores progressos desde 1990 (decresceu de 40.6 para 27.2), confirma um dos pressupostos da fome no mundo:
“Os países com os níveis mais elevados de Produto Interno Bruto (PIB) per capita, um indicador importante do desempenho económico, tendem a apresentar taxas baixas no IGF 2010 e países com níveis mais baixos tendem a apresentar taxas elevadas.” (1)
Índice Global da Fome (IGF) 2010 (2)
À medida que o mundo se aproxima de 2015, prazo final para se alcançarem as Metas do Desenvolvimento do Milénio - que incluem o objectivo de reduzir para metade a proporção de povos com fome –, o IGF 2010 oferece um panorama útil e multidimensional da fome no mundo. Apresenta algumas melhorias em relação ao de 1990, com uma queda aproximada de um quarto dos níveis. Todavia, o índice para a fome no mundo permanece a um nível caracterizado como “Sério.” O resultado não surpreende uma vez que o número total de povos com fome ultrapassou 1 bilhão em 2009, mesmo que o número diminua para 925 milhões em 2010, de acordo com a FAO - Organização para a Agricultura e a Alimentação das Nações Unidas.
Os resultados regionais mais elevados do IGF registam-se no sul da Ásia e na África subsariana, embora no sul da Ásia tenha havido grandes progressos desde 1990. No sul da Ásia a baixa condição nutricionista, educacional e social da mulher está entre os principais factores que contribuem para uma elevada predominância do défice de peso das crianças com menos de cinco anos. Por outro lado, na África subsariana a ineficácia dos governos, os conflitos, a instabilidade política e as altas taxas de HIV-SIDA estão entre os principais factores que conduzem à elevada mortalidade infantil e a uma enorme proporção de populações que não conseguem satisfazer as suas necessidades calóricas.
Alguns países conseguiram progressos absolutos significativos, melhorando o seu índice IGF. Do índice de 1990 ao de 2010, Angola, Etiópia, Gana, Moçambique, Nicarágua e Vietname alcançaram as melhorias mais significativas. Vinte e nove países têm ainda níveis de fome “alarmantes” ou “extremamente alarmantes.” Os países com índices “extremamente alarmes” em 2010 – Burundi, Chade, Republica Democrática do Congo e Eritreia – situam-se na África subsariana. A maioria dos países com índices “alarmantes” pertencem à África subsariana e ao sul da Ásia. O índice mais elevado de deterioração das contagens IGF ocorreu na Republica Democrática do Congo, maioritariamente devido ao conflito ocorrido e à instabilidade política.
O desempenho económico e a fome estão inversamente correlacionados. Os países com os níveis mais elevados de Produto Interno Bruto (PIB) per capita, um indicador importante do desempenho económico, tendem a apresentar taxas baixas no IGF 2010 e países com níveis mais baixos tendem a apresentar taxas elevadas. No entanto, nem sempre esta relação ocorre. Os conflitos, as doenças, as desigualdades, a administração ineficaz e a discriminação são os factores que podem empurrar um país para níveis de fome mais elevados do que se poderia esperar, tendo em linha de conta o seu PIB. Em contraste, o crescimento económico pro-pobre – a favor da pobreza –, o forte desempenho agrícola e o aumento crescente das igualdades podem reduzir a fome bastante mais do que seria espectável pelo índice do PIB.
A elevada predominância da desnutrição infantil é a principal contribuição para a fome persistente. Globalmente, o maior contributo para os índices IGF é o défice de peso das crianças. Embora a percentagem do subpeso nas crianças até à idade de cinco anos seja apenas um de três elementos que contribuem para a elaboração do IGF, determina quase metade da contagem mundial. A desnutrição da criança não está uniformemente espalhada pelo globo, mas concentra-se preferencialmente em alguns países e regiões. Mais de 90 por cento das crianças enfezadas (cuja estatura se situa abaixo do estabelecido para a sua idade) vivem em África e na Ásia, onde as taxas de enfezamento são de 40 e 36 por cento, respectivamente.
Para melhorar as contagens do IGF, é necessário que os países acelerem o progresso, reduzindo a desnutrição infantil. Conclusões de estudos recentes mostram que a oportunidade para melhorar a nutrição da criança se situa no período de -9 a +24 meses (isto é, nos 1.000 dias entre a concepção e o segundo aniversário). Este é o período em que as crianças mais necessitam de quantidades adequadas de alimentação nutritiva, cuidados médicos preventivos e curativos e práticas apropriadas de cuidados para o desenvolvimento saudável e em que as intervenções são mais capazes de impedir que a desnutrição se instale. Depois dos dois anos de idade os efeitos da desnutrição são, na maior parte dos casos, irreversíveis.
Para reduzir a desnutrição infantil os governos devem investir em intervenções eficazes visando a nutrição das mães e das crianças durante aquele período. Estas intervenções devem centrar-se no melhoramento da nutrição materna durante a gravidez e no aleitamento, promovendo a amamentação sadia e práticas de alimentação complementares, fornecimento de micronutrientes essenciais e adopção da iodização pelo sal, assegurando ao mesmo tempo a imunização apropriada. Alcançando uma cobertura elevada destas intervenções pode conseguir-se um impacto rápido na melhoria da nutrição infantil precoce.
Os governos devem igualmente adoptar políticas que combatam mais eficazmente as causas subjacentes à desnutrição, tais como a insegurança alimentar, a falta do acesso aos serviços de saúde e as práticas impróprias de cuidados e de alimentação, agravadas pela pobreza e pela discriminação. As estratégias para a redução da pobreza centradas na diminuição das desigualdades sociais são, consequentemente, parte da solução para melhorar a nutrição infantil, como o são as políticas que visem especificamente a melhoria da saúde, da nutrição e do estatuto social das meninas e das mulheres.
1. “Taxas baixas” e “Taxas altas” referem-se aqui ao nível de redução da fome e não ao Índice de Fome, que determina a classificação no ranking. A uma taxa baixa de redução da fome corresponde um Índice de Fome alto - e vice-versa. O país que aparece em primeiro lugar no Índice é, dos listados, aquele onde a Fome é menor.
2. adaptado de
IFRI - International Food Policy Research Institute. 2010 Global Hunger Index online, [url]
http://www.ifpri.org/publication/2010-global-hunger-index
descarregue o IGF 2010
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