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14 de novembro de 2010

Suu Kyi libertada



Suu Kyi libertada (1)



Figura histórica da oposição e símbolo do combate pela democracia na Birmânia, Aung San Suu Kyi, apareceu finalmente em público, ontem ao final da tarde, no exterior da sua residência em Rangum. Minutos antes, a polícia tinha retirado as barreiras de protecção que cercavam a casa da Nobel da Paz de 1991, enquanto no interior representantes oficiais lhe anunciavam o fim dos 18 meses de prisão domiciliária, a que foi condenada em 2009.

Suu Kyi foi libertada "sem condições", referiu às agências um dirigente do regime militar, a coberto do anonimato. "Ela tem liberdade total", disse aquele responsável. Por seu lado, a televisão oficial anunciou que a oposicionista "obtivera uma amnistia" devido "ao seu bom comportamento".
A decisão do regime birmanês foi recebida com satisfação na generalidade das capitais mundiais, com as ONG de direitos humanos a exigirem a libertação dos restantes presos políticos e apelando ao início de um processo de diálogo entre poder e oposição.

Saudada por milhares de pessoas concentradas desde madruga nas imediações da sua residência, foi uma Suu Kyi sorridente que defendeu, na sua primeira intervenção, "a unidade" de toda a oposição no combate pelo futuro da Birmânia.

"Quero dizer-vos que haverá um momento para sairmos à rua. Não permaneçam em silêncio quando esse momento chegar", declarou a líder da oposição, que falou num tom algo emocionado. Perante estas palavras, segundo as agências, os seus partidários, que a saudavam aos gritos e a aplaudiam constantemente, entraram em verdadeiro delírio.

Os apoiantes da LND já se tinham concentrado sexta-feira diante da casa de Suu Kyi na expectativa de uma libertação antecipada, que não sucedeu. Assim, voltaram a convergir logo de madrugada para o mesmo local, muitos envergando camisolas com a efígie da líder histórica da oposição, em que se podia ler "De pé, com Aung San Suu Kyi".

A Nobel da Paz, que antes de se dirigir à multidão colocara no cabelo uma flor lançada a partir da multidão, convocou para hoje uma manifestação junto da sede do seu partido, Liga Nacional para a Democracia, apesar deste estar oficialmente dissolvido depois de se recusar a participar nas eleições legislativas do passado dia 7.

Será na sede do partido sob sua liderança desde 1988 que irá realizar uma primeira grande intervenção pública. Implicitamente, deixou ontem claro que não tenciona ceder no seu combate pela reconciliação nacional e pela democracia. "Há muitas coisas que tenho para vos dizer, pois há muito tempo que não estamos face a face."

Embora a pena de prisão domiciliária que ontem expirou correspondesse aos últimos 18 meses, na prática Suu Kyi tem sido forçada, de forma quase permanente, a constantes restrições aos seus movimentos desde 2003. De facto, desde 1990 Suu Kyi apenas esteve em liberdade - e por curtos períodos - cerca de cinco anos.

A intervenção de hoje será determinante para entender qual a estratégia que a Nobel da Paz tenciona seguir face à junta militar, que permanece intransigente na recusa de encetar um diálogo político produtivo com a oposição.

Vista nas capitais europeias e muitas asiáticas, bem como nos EUA, como elemento indispensável para uma alternativa ao regime militar, Suu Kyi, de 65 anos, tem como maior desafio a apresentação de uma estratégia que mantenha a mobilização popular e seja, ao mesmo tempo, aceitável para a junta presidida pelo generalíssimo Than Shwe.

Uma estratégia que não pode iludir o facto do poder militar ter criado um simulacro de legitimidade com as legislativas do dia 7 e de terem decorrido duas décadas sobre a vitória nunca reconhecida da LND nas legislativas de 1990.



Reacções internacionais


O grupo de rock irlandês U2, que fez campanha pela sua libertação, saudou este sábado, com prudência, o fim da prisão domiciliária.
«Há um sentimento de alegria contida entre aqueles que fizeram campanha pela libertação de Aung San Suu Kyi», anunciou em comunicado o grupo que há cerca de dez anos lhe dedicou a canção «Walk On». (2)

O secretário-geral da ONU saudou, este sábado, a libertação da opositora birmanesa e apelou à Junta Militar no poder para libertar todos os presos políticos.
«O secretário-geral espera que não lhe seja imposta nova restrição e exorta as autoridades birmanesas a consolidar o gesto de hoje libertando todos os outros presos políticos», refere um comunicado divulgado por um porta-voz de Ban Ki-moon. (3)

A libertação de Aung San Suu Kyi, símbolo da luta pela democracia na Birmânia, «marca o fim de uma condenação injusta que foi pronunciada ilegalmente», considerou a Amnistia Internacional. (4)

O presidente norte-americano congratulou-se, este sábado, com a libertação da líder da oposição birmanesa, acrescentando que Aung Suu Kyi é a sua «heroína» e reclamando a libertação de todos os presos políticos do país. (5)


Cronologia de um luta pela democracia (6)


A dissidente birmanesa Aung San Suu Kyi luta há mais de 20 anos pela democracia no seu país, dirigido pelos militares desde 1962.

Datas chave:

1988
8 de Agosto - Aung San Suu Kyi participa na revolta popular na Birmânia que exige o fim do regime militar e que é esmagada com um saldo de milhares de mortos.

1989
20 de Julho - é condenada a prisão domiciliária.

1990
27 de Maio - a Liga Nacional para a Democracia de Aung San Suu Kyi vence as eleições legislativas conquistando mais de 80 por cento dos lugares. Os militares recusam aceitar os resultados.

1991
14 de Outubro - é atribuído à opositora o prémio Nobel da Paz.

1995
10 de Julho - a dissidente é libertada.

2000
22 de Setembro - Aung San Suu Kyi novamente em prisão domiciliária.

2002
6 de Maio - levantada a proibição de deixar a residência.

2003
30 de Maio - numa visita ao norte, a opositora é detida após um ataque à sua caravana. Quatro mortos segundo a junta militar, 70 a 80 de acordo com a dissidência.
27 de Setembro - terceiro período de prisão domiciliária de Aung San Suu Kyi, que nunca mais foi libertada até agora.

2009
11 de Agosto - a opositora é condenada a três anos de prisão e trabalhos forçados após a intrusão de um norte-americano na sua residência. A pena é comutada em 18 meses de prisão domiciliária.

2010
6 de Maio - a Liga Nacional para a Democracia é dissolvida por se ter recusado a afastar Aung San Suu Kyi, como determinavam as novas leis eleitorais.
8 de Novembro - eleições gerais nas quais a dissidente se recusa a votar por considerar que o escrutínio servia para legitimar os militares no poder.
13 de Novembro - termina pena de prisão domiciliária da opositora.






1. MORAIS, ABEL COELHO DE. Suu Kyi libertada sem condições, DN Glogo online, [url]
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1710475&seccao=%C1sia

2. TSF Rádio Rádio Notícias online, U2 saúdam com prudência libertação de Aung San Suu Kyi, ler+ em http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=1710242&tag=Aung San Suu Kyi


3. TSF Rádio Rádio Notícias online, Ban Ki-moon saúda libertação de Aung Suu Kyi, ler+ em http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=1710065&tag=Aung San Suu Kyi

4. TSF Rádio Rádio Notícias online, Amnistia diz que libertação de Aung Suu Kyi é «fim de uma condenação injusta», ler+ em http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=1710044&tag=Aung San Suu Kyi

5. TSF Rádio Rádio Notícias online, Aung Suu Kyi é a «minha heroína», diz Obama, ler+ em http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=1710033&tag=Aung San Suu Kyi 


6. DN Globo online, [url] http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1710013&seccao=%C1sia


1 comentário:

Anónimo disse...

Até que enfim! Mas não estou muito optimista. Como disse não sei quem, "o mundo, tal como está, não me interessa..." - tanto mais são de admirar os que ainda têm forças para lutar e lutam.
Bom trabalho, Admário, obrigada
Ju