SEGUIDORES

30 de dezembro de 2009

Prémio Dardos


O ano que agora acaba foi, para o AngolaHaria e por motivos vários, muito fraco. Por tal motivo peço imensas desculpas aos meus leitores, seguidores e amigos.

Não quero, no entanto, virar esta página sem referir o “Prémio Dardos”, indicado que fui pela Adélia Clara Vaz, minha amiga, minha prof e minha irmã mais-velha no seu Aileda Aki.

Com o “Dardos” reconhecem-se os valores que um blogueiro demonstra, o seu empenho em transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais que, em suma, demonstrem a sua criatividade através do pensamento vivo que está subjacente nos seus escritos.


São três, as regras do “Prémio Dardos”:

1- Aceitar exibir a imagem.
2- Linkar o blog do qual recebeu o prêmio.
3- Escolher 15 blogs para entrega do Prêmio.

As minhas indicações:

1. para estas indicações segui dois critérios:
a. blogues não indicados para este prémio, por toda a comunidade (até onde foi possível saber);
b. blogues não indicados por mim para outros prémios. [aqui]

2. a ordem é meramente alfabética.


10encantos (Poemas) de Soberano Canhanga
http://10encantos.blogspot.com/

Alto Hama de Orlando Castro
http://altohama.blogspot.com/

A Matéria do Tempo de Fernando Ribeiro
http://amateriadotempo.blogspot.com/

A Minha Sanzala de JotaCê Carranca
http://sanzalando.blogspot.com/

Angola de Aida Saiago
http://www.angola-saiago.net/index.html

Angola da Utopia para a Realidade, Desabafos Angolanos
http://www.desabafosangolanos.blogspot.com/

Associação 27 de Maio
http://27maio.com/

Brisa Poética de Sílvia Câmara
http://brisapoetica.blogspot.com/

Entre as Palavras (minha alma poética) de Nelson Livingston
http://nelsonlevenaspalavras.blogspot.com/

Malambas de Lobitino Almeida N'gola (Eugénio Costa Almeida)
http://malambas.blogspot.com/

Mulembeira de Decio Bettencourt Mateus
http://mulembeira.blogspot.com/

Partos de Pandora de Violeta Teixeira
http://www.mgrande.com/weblog/index.php/partosdepandora/copyright

Quantos poemas tem a noite? de Sherazade/Mirabilis
http://quantospoemas.blogspot.com/

Quitexe de João Garcia
http://quitexe-historia.blogs.sapo.pt/

Rara Avis de Ana Tapadas
http://raraavisinterris.blogspot.com/

17 de dezembro de 2009

4 de dezembro de 2009

Na Pele da Cidade

Na Pele da Cidade
In the Skin of the City
António Ole


Evento: Na Pele da Cidade In the Skin of the City António Ole
"António Ole; artte"
O quê: Exposição
Início: Sexta-feira, 11 de Dezembro às 18:30
Fim: Sexta-feira, 29 de Janeiro às 17:30
Onde: Centro Cultural do Instituto Camões, Luanda

Convidados confirmados:
Jorge Arrulo
Mário Tendinha
Ricardo Lima Viegas



23 de novembro de 2009

D. Birmingham e o Maio de 77

Hukalilile

A análise história tanto pode constituir uma teoria isenta como um enorme embuste.

Quanto ao que a África em geral e a Angola em particular diz respeito, é politicamente correcto afirmar-se que o acervo histórico produzido no período Colonial “foi pegado por um tropel de marinheiros, soldados, comerciantes, missionários, cartógrafos, publicistas, membros de Sociedades de Geografia, cientistas e políticos europeus que foram cozinhando, para o seu interesse teórico e prático, representações sobre o continente e seus habitantes que eles procuraram impingir aos africanos.” (1)

Barbeitos generaliza e mete tudo dentro do mesmo saco, mas não quer isto dizer que não tenha razão, genericamente falando. E esta verdade não invalida uma outra: que o que se seguiu não foi melhor e que os novos marinheiros, soldados, comerciantes, missionários, cartógrafos, publicistas, membros de Sociedades de Geografia, generalizando também, actuaram da mesmíssima forma.

A nova “visão do homem africano e angolano finalmente ajustada aos seus próprios interesses e idiossincrasias” (2) pode não ser uma visão tão isenta como seria desejável e resultar na transposição da posição oficial do sistema político, como o foi no antigamente.

Vem isto a respeito do relato de David Birmingham sobre a “tentativa de golpe de Estado em Luanda a 27 de Maio de 1977.” (3) Sobre os factos, grosso modo, o que diz Birmingham é o mesmo que diz o Governo e o MPLA, ainda que o autor introduza afirmações como “a história oficial da tentativa de golpe de Maio … cobre a maior parte dos problemas…”, tentando assim afirmar uma pretensa isenção de análise.

Esta posição sobre factos históricos não é estranha. A História de Angola, a partir de 1961, confunde-se com a(s) História(s) do MPLA, porque assim se pretende que seja.

O MPLA nunca foi, ou apenas o foi durante um período muito curto, um movimento democrático, mormente após a chegada ao poder (a direcção do Movimento) de Agostinho Neto. Não existe, na História oficial, referência ao método utilizado por Neto para atingir a Direcção que, é sabido, foi tudo menos democrático. O mujimbo (4) fala em usurpação.

Oficialmente Mário Pinto de Andrade, Gentil Viana e outros dirigentes da primeira hora são vistos como nada tendo a acrescentar à História do Movimento. Viriato da Cruz foi sumariamente riscado dessa História. E convém lembrar que Viriato da Cruz foi um dos primeiros e destacado dirigente do Movimento, por todos reconhecido como uma mente brilhante e de extrema dedicação à causa da libertação. Foi feito prisioneiro na China, pelos mentores da Revolução Cultural, pelo facto de se ter recusado a alterar um seu relatório sobre a contribuição da China para a Revolução em África, nada abonatório para os chineses. O MPLA abandonou-o cobardemente, deixou que passasse os últimos tempos de vida na mais cruel indigência, deixou-o apodrecer nas masmorras onde acabou por morrer, tendo sido sepultado sem a mínima dignidade.

O MPLA tem, a respeito da lavagem histórica e outros itens da castração mental copiados do Big Brother, defensores horripilantes. Veja-se o que se passou com José Eduardo Agualusa, quando afirmou que "Uma pessoa que ache que o Agostinho Neto, por exemplo, foi um extraordinário poeta é porque não conhece rigorosamente nada de poesia. Agostinho Neto foi um poeta medíocre." (5)

Saiu em defesa da causa mitológica um tal João Pinto, pelos vistos jurista e, pelos vistos também, professor de Ciência Política e Direito Público: “Acho mesmo que, deve haver responsabilidade criminal e civil por estarem reunidos todos requisitos do ultraje à moral pública (ofendeu a moral cultural ou intelectual dos angolanos), previsto e punido no Artigo 420º do Código Penal.”

O MPLA de Agostinho Neto sempre lidou muito mal com as opiniões contrárias. Foi assim com a Revolta Activa, com a Revolta do Leste e, por fim, com o Fraccionismo. Foi este último o que ele mais temeu porque, para além do mais, era ideologicamente o mais incómodo.

“Inicialmente os seus textos eram alegadamente baseados em Enver Hoxa da Albânia, mas em 1975 mudaram para os escritos de Mao e Nito Alves perorou largamente sobre a análise de classes ao estilo chinês em Angola. Cita Alves (6) voltou estes grupos para Lenine. Dentro do MPLA, estava agora aberto o debate acerca das interpretações verdadeiras e falsas de ideias políticas comuns.” (7) E o MPLA, por escolha – ou imposição - de Agostinho Neto, transformou-se em partido marxista-leninista.

Mas, antes disso, “Agostinho Neto e os seus estavam preocupados com o debate interno, pois as Comissões Populares de Bairro eram grandes centros de debate com a população. E, como seria natural, também estavam preocupados com o problema dos delegados ao Congresso. Havia que evitar que os nitistas chegassem ao Congresso, anunciado para finais de 1977. Com efeito, existia o sério risco de conquistarem os principais lugares de direcção.” (8)

No período pós-independência o MPLA e Neto impuseram ao país, mais do que o partido único, o pensamento orwelliano único, de resto à semelhança do que sempre se passara dentro do Movimento. O próprio Barbeitos afirma que “circunstâncias locais e internacionais fizeram com que, após a independência, a política de informação angolana não divergisse o necessário da prevalecente na ditadura colonial, para que a população adquirisse a capacidade de acesso e de expressão abertos acerca de certo número de coisas que se passavam no país e fora dele,” não se inibindo em referir “a clausura imposta à formação de uma opinião pública livre.” (9)

É assim que, relatando os factos, Birmingham afirma que “o quadro estava montado para um golpe de Estado que se desenrolou com lentidão incrível, brutalidade inexorável e incompetência ridícula durante os seis dias seguintes”: (10)

1. “O quadro estava montado” realmente, mas por alguém que não os supostos conspiradores,

2. pelo que “se desenvolveu com lentidão incrível”, confirmação da inexistência de golpe; que a teoria da conspiração foi montada para legitimar a actuação subsequente das forças da repressão: “O que se passou em Angola terá sido uma provocação, longa e pacientemente planeada, de modo a levar os nitistas a perderem a cabeça e a saírem à rua, justificando assim um contra-golpe, também minuciosamente preparado.” (11)

3. A “brutalidade inexorável” veio da parte das forças repressivas do sistema e não se prolongou pelos “seis dias seguintes” mas por muitos e longos meses. Não se confinou aos nitistas, alargou-se aos seus amigos, familiares, companheiros ideológicos e deu azo a oportunos assassinatos purificadores indiscriminados e em massa.

“David Birmingham é sem dúvida um dos pioneiros da moderna historiografia angolana”, (12) diz Barbeitos mas se, por mero acaso, o seu texto sobre o 27 de Maio chegar a ser tido como Fonte Histórica, bem mais para diante, quando os nossos filhos o lerem terão uma visão totalmente errada desse período da História de Angola:

“Num aspecto, contudo, os conspiradores angolanos adoptaram uma característica perturbadora da revolução etíope, nomeadamente, o assassinato pessoal e a sangue-frio de líderes antagonistas.” (13)

Ficarão com a noção de que os 20 ou 30 mil mortos (14) resultaram da acção dos nitistas e que eles próprios, Nito Alves, Zé Van Dunem e outros, se assassinaram a si próprios.


admário costa lindo




(1) BARBEITOS, Arlindo. Considerações Preliminares, in BIRMINGHAM, David. Portugal e África, Vega Editora, Lisboa, 2003, pg. 14.
(2) Barbeitos, ob. cit., pg.9.
(3) Birmingham, ob. cit., pg. 183.
(4) Notícia; boato.
(5) A este respeito ler o artigo
Mitologias.
(6) aliás Sita Valles.
(7) Birmingham, ob. cit., pg.190.
(8) MATEUS, Dalila Cabrita e Álvaro. Purga em Angola, Nito Alves/Sita Valles/Zé Van Dunem, o 27 de Maio de 1977, 3ª edição revista e actualizada, Texto Editores, Lisboa, 2009, pg. 176.
(9) Barbeitos, ob. cit., pgs. 19-20.
(10) Birmingham, ob. cit., pg. 185.
(11) Mateus, ob. cit., pg. 176.
(12) Barbeitos, ob. Cit., pg. 9.
(13) Birmingham, ob. cit., pg. 196.
(14) “Os cálculos sobre o número de mortos variam. Um responsável da DISA ouvido por nós fala em 15.000. A Amnistia Internacional fez um levantamento e avançou com 20.000 a 40.000 mortos. Adolfo Maria, militante da chamada Revolta Activa, e José Neves, um juiz militar, falam de 30.000 mortos. O jornal Folha 8 refere 60.000. E a chamada Fundação 27 de Maio foi até 80.000. No meio termo estará a virtude. Quedemo-nos, então, pelos 30.000 mortos, o número mais referido.” Mateus, ob. cit., pgs. 151-152.

19 de novembro de 2009

da Liberdade de Opinião e Expressão





DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM

ARTIGO 19º




Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.



Bable
Tou individuu tien drechu a la llibertá d'opinión y d'espresión, lo que lleva darréu nun pone-y a naide estorbises pola mor de les sos opiniones, y tamién drechu a dir en cata d'informaciones y d'opiniones, lo mesmo qu'a espardeles per cualesquier mediu d'espresión y ensin llendes de fronteres.

Castellano
Todo individuo tiene derecho a la libertad de opinión y de expresión; este derecho incluye el no ser molestado a causa de sus opiniones, el de investigar y recibir informaciones y opiniones, y el de difundirlas, sin limitación de fronteras, por cualquier medio de expresión.

Català
Tota persona té dret a la llibertat d'opinió i d'expressió; aquest dret inclou el de no ser molestat a causa de les pròpies opinions i el de cercar, rebre i difondre les informacions i les idees per qualsevol mitjà i sense límit de fronteres.

Crioulo da Guiné
Kada pekadur tem diritu di liberdadi di opinion, tambi di konta ke ki na sinti, ku sedu diritu di ka kalantadu pabia di si opinions; i tem diritu di buska, risibi i konta utru jinti informason ku ideias, pa kalker meiu, sin limitason di fronteras.

Deutsch
Jeder hat das Recht auf Meinungsfreiheit und freie Meinungsäußerung; dieses Recht schließt die Freiheit ein, Meinungen ungehindert anzuhängen sowie über Medien jeder Art und ohne Rücksicht auf Grenzen Informationen und Gedankengut zu suchen, zu empfangen und zu verbreiten.

Diola
Anoosan nababaj druwa, ebaj kawonoor kiiya di káyiisen ko nen manumaŋumi eeno.Yoo elakomi an awarut ajaakali ebaj siwonoor soola. Naŋooleŋoolen ayab kurim mba siwonoor san aŋoolene afasiken dóo ésukool mba tíyaŋ.

~Donga (Otxivambo)
Omuntu kehe oku na uuthemba womadhiladhilo noku ga popya mo; uuthemba mbuka owa kwatelela mo emanguluko okukala nomadhiladhilo gontumba nopwaa na etompakanitho, osho wo okupewa nokugandja uuyelele nomadhiladhilo tadhi ziilile miikundaneki yoludhi kehe.

Dutch
Een ieder heeft recht op vrijheid van mening en meningsuiting. Dit recht omvat de vrijheid om zonder inmenging een mening te koesteren en om door alle middelen en ongeacht grenzen inlichtingen en denkbeelden op te sporen, te ontvangen en door te geven.

English
Everyone has the right to freedom of opinion and expression; this right includes freedom to hold opinions without interference and to seek, receive and impart information and ideas through any media and regardless of frontiers.

Esperanto
Ĉiu havas la rajton je libereco de opinio kaj esprimado; ĉi tiu rajto inkluzivas la liberecon havi opiniojn sen intervenoj de aliaj, kaj la rajton peti, ricevi kaj havigi informojn kaj ideojn per kiu ajn rimedo kaj senkonsidere pri la landlimoj.

Euskara
Gizabanako guztiek dute eritzi-eta adierazpen-askatasuna. Eskubide horrek barne hartzen du erlijioa eta sinismena aldatzeko askatasuna eta bakoitzaren eritziengatik inork ez gogaitzeko eskubidea, ikerketak egitekoa eta informazioa eta eritziak mugarik gabe eta nolanahiko adierazpidez jaso eta zabaltzekoa.

Forro
Tudu nguê tê dirêtu di liberdade di opinión e di flá. A na ca pô plijudicá nê ua nguê fa punda ê manifestá opinión dê e ê ca pô goló, lêcêbê e uangá , ni qualqué xitu cuê mêssê, tudu pensamentu dê, tudu ideia dê, modo cu ê mêssê.

Français
Tout individu a droit à la liberté d'opinion et d'expression, ce qui implique le droit de ne pas être inquiété pour ses opinions et celui de chercher, de recevoir et de répandre, sans considérations de frontières, les informations et les idées par quelque moyen d'expression que ce soit.

Galego
Todo individuo ten dereito á liberdade de opinión e de expresión; este dereito inclúe o de non ser molestado por mor das súas opinións, o de investigar e recibir informacións e opinións e o de difundilas, sen limitación de fronteiras, por calquera medio de expresión.

~Gangela
Munu woxewo ali na vulemu vwa vukule na vusungameso vwa manyonga co na kulyendekela mu cizango.

Guarani
Maypa tapicha iderecho oguerekóvo ijidea ha iñeñandu tee, ha upéva oikuaaukávo ojejuru mboty´yre ichupe; ko deréchope oike avavépe nonnemolestáivo marandu ha opinión kuéra, ha avei oñemosarambivo ko´âva opaite hendárupi, mayma tembiporu upevarâ oiva rupive.

Ibinda
Woso mutu midi na luve ayi mswa yi kimpwanza ki baka dyandi dibanza, yandi mbadulu ayi dyandi dituba, ayi bo-bwawu, widi na mswa ukhembo bundulu va yilu mabanza mandi evo widi luve lu kutomba madi mkinza mo kayamba ayi katyakisa, mu kukambu ku minkaka evo zindilu, mambu ayi mayindu mandi moso mu yoso kwandi phila mbemo.

Juca sampa


Italiano
Ogni individuo ha diritto alla libertà di opinione e di espressione incluso il diritto di non essere molestato per la propria opinione e quello di cercare, ricevere e diffondere informazioni e idee attraverso ogni mezzo e senza riguardo a frontiere.

Kabuverdianu
Tudo individe tem drêto di tem liberdadi di opinion e di papiâ, sim porblema; assi el tem drêto di ca ser incomodado por causa di sês opinion e el pôdê porcurâ ricebê e spádjâ, sem consideraçon di frontêra, calquer informaçon e idêa, di calquer modo qui el crê fazê êl.

Kikongo/Kituba
Konso muntu ke na luve ya kimpwanza ya mabanza mpe ya kinzonzi ni yawu yina yandi lenda ve kutala boma samu na mabanza ya yandi, dyaka mpe na kusosa kuzwa mpe kumwangisa nsangu ya mabanza ya yandi kisika ni kisika na mutindu yina yandizola nsangu ya yawu.

Kimbundu
Ngamba woso wala kutokala o kubuluka dya kubalula ni dya kuzwela.

Lëtzebuergeusch
All Mënsch huet d'Recht op eng fräi Menong a fir se fräi auszedrécken, an deem och d'Recht mat dran as op eng Menong fräi vu Fuurcht an dat Recht fir Informatiounen an Iddiën ze sichen, ze kréien an ze verbrede mat all dene Mëttele fir sech auszedrécken, déi et gët an ouni sech mussen u Grenze vu Länner ze halen.

Lingala
Moto nyonso azali na likoki ya bokanisi pe bolobi; yango ekopesa ye ndingisa ya kozala na bomo na motema te likolo ya makanisi na ye ndingisa ya koluka, kozwa pe kopanza mayebisi na makanisi esika na esika, na ndenge alingi koyebisa yango.

Lunda
Muntu wejima wenkewa ing'ovu yakutong'ojoka nikuhosha hansang'a yidi yejima chakadi kutiya womaku mukukeng'a kwiluka wunsahu walala hansang'u yinakuleng'ayi kwiluka chiwahi.

Luvale
Mutu wosena analusesa lwavishinganyeka nakuhajika, lusesa kana lunapu lwakushinganyeka vishinganyeka vyenyi chakuhona kupwa nawoma kaha nakuzanga kutambula nakunangula mazu navishinganyeka kuhichila mukala mazu amijimbu chakuhona veka kumukinga.

Makonde
Munu avele na wasa wa kutongola palikuwa. Avele na wasa wa kuwunila ding’ano dyake bila kun’mahani. Avele na wasa wa kuhumya na kupwechela ding’ano, na hata usumba mapalu la vilambo, akalambela.

Makua
Wakunla mutthu ohaana edireito y’ohimya enimmwa m’muru mwawe, ehopipihiwaka ekiiso sa itthu sin’himyawe, ni opheela wakhela ni olalea nuulumo nawe, mulaponimwawe ni ilapo sokhopela.

Tetum
Ema hotu-hotu iha direitu ba liberdade atu iha opiniaun no hato’o nia opiniaun; direitu ida-ne’e inklui mós liberdade atu iha opiniaun ne’ebé laiha interferénsia, no atu buka, simu no hato’o informasaun no ideia sira hosi média sá de’it, no la haree ba rai-ketan.

Tonga
Muntu oonse ulaangulukide kwaamba zyili kumoyo; kwaanguluka ooku kulajatikizya akubuzya, kulaigwa alimwi akupa mizeezo kwiinda mumapepa antela mulisikapepele kakunyina munyinza.

Tsonga
Wini na wihi à thxusekili ku khuluma kumbe ku veka mavonele; hi kolàho a svi faneli ku miyetiwa. Hi ku yengetà , à thxusekile a ku yamukeka ni ku hàxa, na a nga tchuvuki ndzelekani, a tindzava ni mapimo hi ma mayendlele lawa a ma lavàkà.

Txiluba
Muntu yonsu udi ne bukenji bwa kwela meji ne kwakula mudiye muswe. Mbwena kwamba ne kabena mwa kumukwata bwa mine malu aa. Udi ne bukokeshi bwa kukeba, kupeta ne kumwanglaja ngumu ne meji emde myaba yonsu mu mishindu yonsu.

Txinhanja
Munthu aliyense ali ndi danga la ufulu wa maganizo ndi malankhulidwe; ufuluwu ukhudza maganizo a munthu kopanda msokonezo wina wace, kupempha ndi kulandira nzeru ndiponso kuphunzitsa ena nzeru kapena maganizo mogwiritsa nchito njira iriyonse.

Txokwe
Muthu mweswe kanatela kuhana cyulo nyi kuhanjika liji ali nalyo.

Umbundu
Omunu eye omunu okwete omoko yeyovo lyesokolwilo kwenda okuvangula.

Xona
Munhu wese anekodzero yokuva norusununguko rwemaonero ake pasina kukanganiswa, rwekutsvaga, rwekuudzwa kana rwekuzivisa mashoko nemafungiro neipi zvayo nzira zvisineyi nezvemiganhu yenyika.

International Society for Human Rights (ISHR)

2 de fevereiro de 2009

Palavras Aventureiras VI

Dembos


Os cafés, tanto o conteúdo quanto o continente extenso, podem ser oportunidade para uma conversa substantiva ou um fútil desperdício de tempo. Tudo depende da companhia. Na internet passa-se o mesmo, com a variante da anulação de distâncias e a enorme diversidade de interesses que se encontra frente a um computador.

Vem este intróito a propósito das últimas aventuras loquazes provocadas por Denodado, um amigo do Angola Haria desde o primeiro momento.

No comentário que fez ao artigo anterior esclarece, com propriedade e conhecimento, que “o nome Dembo, na verdade, não designa o natural da região do mesmo nome, a qual é constituída, tanto quanto julgo saber, pelo município dos Dembos propriamente dito, cuja sede se chama Quibaxe e que pertence à província do Kwanza-Norte, e pelo município de Nambuangongo, que fica na província do Bengo, além de algumas franjas de municípios vizinhos, como o do Dange (cuja sede é Quitexe), na província do Uíje” e que o nome Dembo é “dado aos detentores da autoridade tradicional máxima na região referida, os quais são herdeiros dos soberanos de antigos estados independentes minúsculos, resultantes de uma separação do reino do Congo.”

Só quem ama verdadeiramente Angola, muito para lá das paisagens idílicas, conhece a História daquela terra. Em Portugal pouca gente sabe que, no tempo daqueles outros senhores, em Angola quem se interessasse pela sua História e por todos os outros aspectos do conhecimento – etnológicos, geográficos, zoológicos, botânicos, arquitectónicos – tinha que ir em sua busca, porque nas escolas ensinavam-nos as serras de Portugal, os rios de Portugal, os caminhos-de-ferro de Portugal, os portos de Portugal, mas de Angola… nada! Talvez pensassem que os matumbos tinham mais era que olhar para céu, para as águas, para os muxitos, para os montes e esperar que se despenhasse a sabedoria aos trambolhões. Ou cadavez tinham medo de nós! Porque sabiam que só quem conhece verdadeiramente pode amar. Aqueles que apenas mastigam o supérfluo e deixam escapar o suco por entre os dedos podem, quanto muito, ter apenas um devaneio amoroso.

Em Nova Lisboa, durante o tempo de tropa, convivi com um amigo muito folgazão, que fazia de tudo para evitar que aquele nefasto período das nossas vidas fosse levado com muita sisudeza. Demo-nos bem com essa postura. Era conhecido por Quibaxe, o nome da sua terra e para mim ficou sendo, para sempre, o Quibaxe. O único convívio que tivemos foi durante o tempo de instrução, mas consigo recordar este episódio, com pormenores vívidos que não vou aqui descrever, trinta e oito anos depois. E esta particularidade, de se dar o nome da terra a pessoas e vice-versa, vai fazer-nos compreender o que vou analisar de seguida.

Tudo o que Denodado escreveu consubstancia um grande conhecimento da região. Nada tenho a rectificar. Irei apenas acrescentar outros pormenores.

Dei a esta série de artigos o título “Palavras Aventureiras” exactamente porque é disso que se trata: a aventurosa vida das palavras – ab aeterno.

A ciência dessa característica dos vocábulos e expressões – a variabilidade de significação durante períodos distintos – é a semântica. Por mais comuns que sejam, ou por isso mesmo, eles e elas têm personalidade e história próprias, pese embora os maus-tratos que lhes damos muitas vezes. Não merecem essa afronta porque, bem vistas as coisas, são dos nossos melhores amigos; tanto, que tudo fazem para nos obsequiar, incluindo a mudança.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades
.” (Camões)

Há duas formas de derivação das palavras: a evolução morfológica – referente à grafia – e a evolução semântica – do significado ou sentido. A evolução semântica ocorre (muitas vezes a par da morfológica) na passagem de um vocábulo de uma língua para outra – como do Latim para o Português, como das línguas Bantas para o Português. Mas acontece também dentro da própria Língua. Há termos que têm hoje uma acepção diferente da original. A significação inicial pode perder-se, mas pode também manter-se a par do(s) novo(s) significado(s).

Ministro – não é necessário escolher antropónimo porque todos são iguais nesta faceta – já não é o que era: significava em Latim (Ministru) aquele que serve ou ajuda, o criado ou servente, o escravo. Hoje o Ministro é o membro de um Governo (alguns dizem-se ainda escravos do ministério), a quem incumbe um cargo ou função. É também o sacerdote ou pastor de uma religião. Os dicionários registam ainda as acepções auxiliar, criado e executor.

Estilo é uma palavra com uma história sui generis. Eis a sua evolução semântica:

instrumento de escrita > escrita > composição > forma especial de escrever > maneira de se exprimir > característica artística.

Um dos suportes da escrita, entre os Romanos, para além da folha de papiro e do pergaminho, era uma pequena tábua encerada. Para gravar as palavras sobre a tábua utilizavam o Stilus, um ponteiro metálico com duas pontas, uma aguçada para escrever e outra achatada para rasurar. Evoluiu para o português Estilo, vocábulo que passou mais tarde a designar o próprio trabalho que fazia, a Escrita. De escrita evoluiu para Composição, aquilo que se consegue com a escrita. Não contentes, os homens deram-lhe novo conteúdo e passou a designar a forma ou maneira própria de um escritor redigir as suas obras. Hoje apresenta algumas novas evoluções/extensões: forma de falar ou discursar, feição própria da expressão de um artista, costume, praxe, hábito, prática.

Vejam no que deu o ponteiro stilus: de instrumento de escrita chegou a feição própria ou particular de uma obra de arte.

A palavra Dembo derivou – mais correctamente, adaptou-se morfologicamente – do termo quimbundo ~Dembu (pl. ji–), “título que usavam os capitães subordinados do Rei do Congo e seus parentes e que, na organização fundada pelos portugueses, exerciam, nas capitanias, a autoridade militar e administrativa.” (Galvão).

Dembo não fugiu à evolução semântica. “O título passou depois para os chefes indígenas, como equivalente de Soba noutras regiões e, por fim, abrangeu todo o povo e toda a região.” (Galvão).

Outras acepções para Dembo (cf. Ribas) :

– s.cd. Natural da região dos Dembos, ao norte do rio Cuanza;
– s.m. Dialecto falado nessa região;
– s.m.pl. População dessa área, pertencente ao grupo étnico dos Quimbundos;
– adj. Relativo a essa população;
– s.m. Autoridade suprema tradicional, da região dos Dembos; Régulo; Soba que tem sob a sua jurisdição outros sobas.

Significados diversos do tema tratado: (cf. Ribas)
– s.m. Medicamento externo gorduroso para fricção;
– (kimb. ~Dembu) Espírito feminino que, sob a dependência de Lemba (entidade espiritual feminina que promove a procriação), a auxilia na sua missão.

Como vimos, “Dembos eram os chefes, dembos são os súbditos e Dembos é a região.” (Galvão).


admário costa lindo







bibliografia:
CAMÕES, Luis Vaz de. Obras Completas, Edição Comemorativa do IV Centenário da Morte do Poeta, Lírica I, Editorial Verbo, Lisboa, 1980.
GALVÃO, Henrique. Outras Terras, Outras Gentes, Livraria Francisco Franco, Lisboa, 1942.
RIBAS, Óscar. Dicionário de Regionalismos Angolanos, Contemporânea Editora, Matosinhos, 1997.

abreviaturas:
adj. = Adjectivo.
cd = Comum de dois.
cf. = Conforme, de acordo com.
ji– = Prefixo.
Kimb. = Kimbundu.
m. = Masculino.
pl. = Plural.
s. = Substantivo.

31 de janeiro de 2009

Palavras Aventureiras V

O – ndi – mba


At Sex Jan 23, 01:03:00 AM 2009, Denudado said…

(...)a palavra mbondo não tem prefixo do singular, apenas o do plural(...)

Li algures, já não me lembro onde, que a palavra mbondo e todas as outras palavras da mesma classe (é assim que se chama?) têm mesmo um prefixo, o qual não é mais do que a própria nasalação inicial da palavra...

Segundo o autor (uma pessoa muito versada no assunto, se não me falha a memória), mesmo as palavras que não são pronunciadas com a dita nasalação inicial também "possuem" essa mesma nasalação. O que não dá é jeito usá-la com algumas consoantes, isto é, trata-se apenas de uma questão de eufonia (é assim que se diz?). Por exemplo, a palavra hoji (leão em kimbundu) "tem" uma nasalação inicial, só que não dá jeito nasalar a letra H.

O autor lembrava ainda que, se a nasalação inicial não existe em kimbundu para algumas consoantes, ela pode existir para essas mesmas consoantes em outras línguas bantas, dando como exemplo a letra P, que não é nasalada nunca em kimbundu, mas que pode sê-lo em kikongo.


( Comentário a “Palavras Aventureiras V )


O meu caro amigo Denudado tem toda a razão.

Porém, antes de pormenorizar a questão levantada, devo dizer que tudo isto se deve ao meu cavalo de batalha, a nasalação (ou nasalização) da consoante inicial banta.

É um cavalo de batalha por uma razão muito simples: a representação gráfica dessa nasalação tem provocado graves erros de pronúncia do falante português não ilustrado nestas coisas da linguística avançada (e será apenas o português?).

Muitos dos meus leitores conhecem a célebre marca de café Negola. Isso só aconteceu porque se convencionou escrever a palavra ~Gola como NGola.

Os amantes do futebol lembram-se bem de um futebolista congolês que passou pelos relvados portugueses, a quem os locutores da especialidade chamavam Nedinga. Pois o nome do senhor é ~Dinga.

Temos também – e exemplarmente – o sempre presente erro do topónimo Negaje, cidade da província angolana do Uije, que continua assim chamada… e assim continuará porque este é o tipo de erro Histórico sem emenda possível. O mesmo não aconteceu, felizmente, com o Angaje dos Dembos. [1]

Imaginem se Angola se chamasse, hoje, Negola!

Como disse, tudo isto deriva da representação gráfica da nasalação. Fixemos, em primeira análise, que nasalação é o acto de tornar nasal um som, uma palavra, ou a própria voz. Desta forma as palavras pronunciam-se “com o véu palatino abaixado total ou parcialmente, permitindo que uma parte do ar pulmonar saia pelas fossas nasais, produzindo aí uma ressonância.” (Houaiss)

Quem disser que o português não sabe nasalar as consoantes, não está a ser inteiramente correcto. Na língua portuguesa há duas consoantes nasais, precisamente o M e o N, como em cama e em cana; mas, também, como em banho, caso ligeiramente próximo do banto, mas não usualmente inicial. Portanto, os portugueses sabem muito nasalar. Mas não tanto quanto os bantos. Os portugueses não conseguem nasalar o B (~Banze, filtro do amor), o D (~Dende, fruto do dendezeiro) , o F (~Fumu, fidalgo do Congo), o G (~Gana, senhor ou senhora), o J (~Jimbu, búzio), o K (~Khala, água pura), o P (~Puisa, maré), o T (~Themo, flor), o V (~Vula, maré), e o Z (~Zimbu, búzio). [2]

Aqui bate o ponto: o M e o N [3] (que eu substituí por til), antepostos aos grafemas indicados, não são a nasal de si próprios – nasalam, sim, as consoantes que se lhes seguem.

Conclui-se portanto que os tiranos M e N podem bem ser substituídos pelo til, por um traço vertical, por uma barra horizontal, por um asterisco ou por outro sinal qualquer. Quero com isto dizer que aquelas duas consoantes são grafemas contingentes e deveriam ser um simples sinal diacrítico. O sinal diacrítico, muito embora haja quem use chamar-lhe grafema, não passa disso – um sinal sem vida própria.

Falemos então da questão levantada por Denudado.

Em 1851 o bibliotecário do governador da cidade do Cabo, Wilhelm Bleek, estudioso das línguas bantas, descobriu as regras da prefixação dessas línguas, propondo 16 [4] “géneros” (como lhes chamou). Em 1856 o número aumentou para 18. Nesta classificação Bleek inclui o prefixo ou “género” N- (classe 9). (d'Andrade)

De igual forma procederam, por exemplo, Guthrie (1967, 19 classes, N- nas classes 9 e 10) e Meeussen (1969, 23 classes, N- nas classes 9 e 10)

Refere d’Andrade na ob.cit., anotando as diferenças de classificação entre Bleek e Guthrie:
“ […] o prefixo N-, (consoante nasal cujo ponto de articulação é igual ao da consoante seguinte)”.

Quanto a mim Bleek, Guthrie, Meeussen e outros cometem um erro monumental: o que é verdadeiramente nasal em nZambi ou ~Zambi (Deus), não é o N mas o Z.

Aqui está o motivo pelo qual eu não posso concordar com a transformação do sinal de nasal, o N, em prefixo.

“A linguística africana, propriamente dita, não existe. Existe sim a linguística que estuda a faculdade de linguagem humana, qualquer que seja a língua utilizada.” (d’Andrade)

Assim sendo:

Afixos são morfemas usados na formação ou derivação das palavras. Designam-se Prefixos se antepostos ao radical, raiz ou semantema, Infixos se dividem a palavra em duas partes descontínuas e Sufixos quando pospostos.

Acho que o acto de nasalar não pode ser considerado um Prefixo. Nem sequer Infixo ou Sufixo, porque mesmo aí – podendo, com normalidade, tomar a forma de M e Nnão têm vida própria para além da consoante a que servem de muleta. Seria, em termos simples, o mesmo que considerar o N, da palavra Caminho, um infixo.

Quem me dá razão? Pelo menos Óscar Ribas, o maior vulto de sempre da Cultura Angolana. Ribas, justificando a inutilidade destes M e N, ignora-os na ordenação alfabética. A palavra nDele (alma de pessoa falecida), por exemplo, está colocada na ordem das palavras iniciadas por D. Como deve ser!

Para terminar, falemos de outros pontos (do mesmo) focados por Denudado:

– Em Hoji (leão), não há nasal alguma. O que acontece é que, nas línguas bantas, o H é sempre aspirado o que, convenhamos é como que o oposto de nasalação. A representação do fonema NH é, por isso, outro problema não resolvido. Há quem escreva Olunyaneka e Kwanyama, quando eu escrevo Olunhaneka e Kwanhama. É uma excepção que promovo, uma vez que é essa a forma mais inteligível para os portugueses.

– É verdade que o quicongo nasala o fonema P, coisa que não acontece com o quimbundo – (eis alguns exemplos, pela ordem quicongo – quimbundo– português, de palavras com o mesmo significado):

~Pangi – Pange – irmão(ã)
~Paxi – Paxi – angústia, pena, sofrimento
~Polo – Polo – cara, face, aspecto
~Ponda – Ponda – faixa, cinto.

Este pormenor, no entanto, não é justificação seja para o que for. Uns nasalam umas consoantes, outras nasalam outros e alguns outros, ainda, fazem aquilo que fez o português antigo para chegar a Imbondeiro – acrescentam uma vogal à nasalação, como no Zulo e no Txilungu (Zambia).

Não nos admiremos e lembremo-nos que acontece o mesmo no Olunhaneka, no Umbundu, no Kwanhama, no Txihelelo. E não nos esqueçamos que, mesmo nestes casos, o que é nasal é a consoante:

Ondimba, coelho » O – ndi – mba.



admário costa lindo



bibliografia:
d’ANDRADE, Ernesto. Línguas Africanas, Breve Introdução à Fonologia e à Morfologia, A. Santos, Lisboa, 2007.
HOUAISS e Mauro de Salles Villar, António / Instituto António Houaiss. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Global Notícias Publicações, Lisboa, 2005.
RIBAS, Óscar. Dicionário de Regionalismos Angolanos, Contemporânea Editora, Matosinhos, 1997.

notas:
[1] Angaje é sinónimo de Dembo, o natural da região do mesmo nome, a N do Cuanza.
[2] Os exemplos são em Kimbundu, excepto os das letras F, P e ZKikongoK e TOlunhaneka.
[3] Cf. as regras do Alfabético Fonético Internacional, o M nasala B, F, P e V; o N nasala as restantes.
[4] Bleek considera (como outros sucessores seus) as classes independentes do número; se considerarmos o sistema de classificação dependente da dicotomia singular-plural, teremos que dividir por dois o número de géneros de Bleek.

22 de janeiro de 2009

Onde anda a Polícia ?

Hoje, mal abri a newsletter do Correio da Manhã, apanhei com este encharcado:

22 Janeiro 2009 - 02h00
Chefs de culinária e historiadores denunciam falta de folhas em pastas
Torre do Tombo: Receitas conventuais perdidas

António Silva, filho do cozinheiro chef Silva, herdou o gosto pela culinária, principalmente pela pastelaria. Apaixonado pelos doces conventuais, decidiu pesquisar na documentação dos conventos, que está depositada na Torre do Tombo, os segredos da sua confecção. Um mês depois de ter iniciado a pesquisa ficou desiludido. A maior parte das receitas ancestrais tinha desaparecido. "Vi quase todos os conventos de Lisboa e nas listagens de alguns vinham referências aos receituários, mas depois encontrei as pastas vazias", contou, sublinhando que tinha consultado livros que na bibliografia referiam como fonte a documentação original.

Dos comentários à notícia destaco este (andará longe da verdade?):

22 Janeiro 2009 - 12h28 andre couto
Vejam nos sites de leiloes, com sorte acham nos manuscritos ou antiguidades!


Receitas conventuais perdidas ?


Onde anda a Polícia?

Haverá investigação?

E, caso haja, como terminará?

Quem zela pelo acervo da Cultura Portuguesa?

Que país é este?

São questões que gostaria de ver respondidas.

admário costa lindo

20 de janeiro de 2009

Palavras Aventureiras IV

Tenho bué de frio



É verdade que tenho, mesmo. Devo confessar que sou um friorento irrecuperável. Diz o meu irmão que faz as vezes de kabasa, [1] “nem parece que nasceste cá!” Quem nos acompanha de perto apercebe-se rapidamente que, efectivamente, nascemos com os azimutes trocados: eu, poveiro, deveria ter nascido em Angola e ele, angolano, é quem mais parece poveiro – nessas coisas do frio e assim! Por isso ando sempre, de inverno e mais, com bué de frio.

Alguns estudiosos referem a palavra francesa Beaucoup [2] como raiz do termo Bué.

A linguagem popular angolana é, reconhecidamente, pela lei do menor esforço empregada na eliminação simultânea de vários elementos de uma palavra ou expressão.

Analisando esta derivação teremos,

beaucoup > bôcu (forma fonética) > bô (apócope).

Uma norma popular, a que chamo a norma rítmica, é a que permite a duplicação da sílaba final de uma palavra, ou o acrescento (paragoge) de um e tónico, aberto (é) ou fechado (ê), por vezes prolongado, ou as duas formas em simultâneo, com o intuito de lhe dar uma expressão carinhosa ou rítmica, como em

Angola > Angolê

e no celebérrimo

Monangamba > Monangambééé, de António Jacinto e Ruy Mingas.

Desta norma podemos estabelecer a evolução completa:

beaucoup > bôcu > bô > boé > bué (metafonia).

A minha dúvida quanto a esta etimologia deve-se à ocorrência temporal. Diz-se que o termo teria surgido depois da chegada a Angola dos refugiados idos do Zaire, após a independência, em finais de 1975 ou princípios de 1976, portanto.

O meu primeiro contacto com a gíria luandense deu-se em 1972, quando abalei do sul para o norte de Angola, em situação laboral. Aquela linguagem atraiu-me de imediato e passei a estudá-la mas, infelizmente, todos os escritos que acumulei se perderam na voragem da guerra, devido ao deambular constante entre Uije, Porto Alexandre, Luanda e Portugal. Não tenho, portanto, documentos de análise para poder justificar que

escutei este termo bué de vezes, desde 1972.

É inquestionável que o termo Bué nasceu na gíria Calú (de Kaluanda, o natural de Luanda), uma linguagem popular, por vezes caracterizada como linguajar marginal. As palavras e expressões desta gíria nascem de corruptelas/derivações/evoluções do Português, a língua oficial e do Kimbundu, a língua étnica da região, mas a linguagem contém também termos intrínsecos e expressões idiomáticas (incluindo, actualmente, palavras/expressões de língua inglesa, maioritariamente norte-americanas) de grupos marginais com características de organização secreta ou similar. A existência do calú justifica-se, ou justificou-se, por duas ordens de razões:
1ª - resistência cultural ao colonialismo e
2ª – hermetismo de auto-protecção/identidade dos referidos grupos.

RuiRamos, que sabe disto como poucos, também considera que a palavra “nada tem a ver com o kimbundu”. [3] Tavez tenha razão,

mas vejamos, atendendo sempre a que a evolução fonética e a evolução semântica podem ocorrer simultaneamente:

1. mbuwe / mbwe, abundância ou fartura; confesso que desconhecia esta forma quimbunda – poderá ser um arcaísmo e os criadores do bué a tenham recolhido dos seus ancestrais; tal como
Rocha, [4] não consegui provas que possam confirmar ou desmentir a sua existência; a existir de facto, é a melhor candidata a mãe do bué;

2. existe em quimbundo o advérbio Buè, sinónimo de , Bèbi e Búebi [5], aonde ou em que lugar ;
3. outro advérbio quimbundo, [6] ou Buí, significa muito ou completamente escuro.

Luanda, pela sua condição de capital, sempre foi uma cidade grandemente cosmopolita. Então, por que não considerar que o termo Bué possa ter sido tomado de outra(s) língua(s), que não o quimbundo? Digo isto porque

4. existe em olunhaneka o radical mBwe [7], que significa cesta grande;

5. muito escuro diz-se mbu /uu/ em umbundo. [8]

Como já antes afirmei, sou de opinião que o significado original nem sempre é determinante. Mas, para isso, é necessário que tenhamos a certeza absoluta da etimologia. Ora, isso está longe de acontecer, no presente caso.

A palavra Bué ou, mais propriamente, a expressão Bué de, é entendida na gíria (hoje alargada, não só a Portugal mas também ao Brasil e a outros países de expressão portuguesa) como - abundante, em grande quantidade, muito, excessivamente, profundamente.

Eu já nem liguei mais à gasosa, fiquei a olhar a estante com bué de fotos da família do Lima.” [9]

Zeca, viste mesmo a carne? Bocados pequenos sebo misturado, mas se cortar aproveita-se aí bué.“ [10]

Eventualmente nenhuma das palavras aqui sugeridas será a raiz de Bué. São, no entanto, pistas para uma tentativa de identificação. Ou nem isso: Bué pode, pura e simplesmente, ser apenas uma invenção do linguajar marginal que,

não obstante,

se internacionalizou.

Penso que a afirmação de J.M. Costa [2] (que pertence à coloquialidade de estratos alargados da população mais jovem portuguesa de zonas suburbanas) foi ultrapassada pela dinâmica da expressão; o próprio também o considerará, porventura. A utilização do termo nos Países de Expressão Portuguesa, com maior incidência em Angola e Portugal, na linguagem coloquial generalizada e na literatura, fez com que a sua primeva suburbanidade seja hoje um mero apontamento histórico.

É por essa razão que não vejo com bons olhos a afirmação de T.A. [11] - que o bué pode ser retirado dos dicionários.

Qu’é qu’é isso meu!? - banzar-se-ia o Jorge. Tás malaico?



O filho do bué


Como justificação de discordância, acrescento três à achega de Rui Ramos – “a língua portuguesa não se constrói só por via erudita desde os tempos dos lusitanos”: [3]

- a condição de razoabilidade e de bom senso é discutível e, quiçá, imensurável por quem quer que seja;

- dicionarizada ou não, eruditismo ou modismo, gíria ou calão, uma palavra pode viver eternamente, não obstante os eruditos, porque a Língua também evolui por via popular.

Um pequeno parêntese: o bué já tem um filho chamado buereré.

Esta derivação (extensão?) poderá estar relacionada com uma característica fonética do quimbundo que atribui ao D duas fonias, de acordo com a região ou o dialecto – tanto pode ser como o D do português digo, ou como o R de aro (razão pela qual o prefixo di também aparece como ri),

como em

Kombaditokua / Kombaritokua (varrição das cinzas, após óbito),

Kitadi / Kitari ou Ditadi / Ritari (dinheiro).

[ Existe uma característica similar, no Umbundo e nas línguas do SW de Angola, que atribui também dois valores, R e L, ao fonema R (ou ao L, como no ovo de Colombo). No final do texto surgirá uma palavra que é um exemplo: Otxiri / Otxili (verdade), como Otxindere / Otxindele (branco, indivíduo de raça branca) ]

Tudo visto, eis então a evolução para buereré:

bué de > bué re > bueré > buereré (norma rítmica).


- Só quem não conhece a história do termo em causa pode partilhar essa afirmação obituária –

– o bué nasceu nos musseques, envergonhado, receoso como santo-e-senha, ganhou o asfalto, chegou à Mutamba, zarpou mar afora pela baía, vadiou na Metrulha, atravessou o Atlântico e ecoa já pelas amazónias da esperança. Ainda assim, da esperança!

Disse você que vai morrer!

Mas de morte morrida… ou de morte matada?

É que, caro senhor, o muadié está a raciocinar em função do português do Putu, e está esquecer o calú!

É uma doença infantil.

A Bíblia


Se bem repararam, tenho citado vários textos do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

A razão é simples: sou, desde sempre, um internauta assíduo daquela que é (não tenho dúvidas) a Bíblia Virtual da Linguística em Português. Esta Bíblia, contrariamente à outra, não justifica dogmas, apresenta formas várias de observar o mesmo e, por isso, temo-nos dado bem assim. Otxiri muene! [12]

Bem-haja João Carreira Bom, por onde quer que ande,
Bem-haja José Mário Costa.


notas e bibliografia:
[1] De acordo, desta vez abro uma excepção: Kabasa /ss/ designa, em quimbundo, o gémeo que nasce em segundo lugar, sendo o primeiro o kakulu. É bom de ver que não somos gémeos, embora possa parecer que sim.
[2] COSTA, José Mário. Bué de…, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 01.02.1997,
[url] http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=348:
“A origem é angolana e já pertence à coloquialidade de estratos alargados da população mais jovem portuguesa de zonas suburbanas. É nestas áreas que se cruzam as maiores influências étnico-culturais das comunidades africanas residentes na área de Lisboa, em particular. Bué é um calão luandense, que tem o significado do «beaucoup» francês, «muito de»: bué de charros, bué de confusão, bué de preconceitos.”
[3] RAMOS, Rui. Ainda a palavra “bué”, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 21.01.2003:
[url] http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=11100:
“parece que os dicionários portugueses agora incluem palavras do calão luandense. Óptimo, isto quer dizer que a língua portuguesa não se constrói só por via erudita desde os tempos dos lusitanos, «bárbaros», romanos, gregos, árabes..”
“quem introduziu esse calão de Luanda (que nada tem a ver com o kimbundu) em Lisboa foram os jovens luandenses”
“Parabéns aos jovens luandenses da diáspora que conseguiram o autêntico milagre de introduzir calão luandense no mais conceituado dicionário português.”
[4] ROCHA, Carlos. O uso de bué (= «muito»), novamente, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 10.11.2006:
[url] http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=18744:
“no Dicionário Etimológico Bundo-Português do P. Albino Alves (1947), encontro a forma mbuwe, que significa «abundância, fartura». Contudo, não consegui confirmar noutras obras se é esta a origem do bué português nem pude saber quais eram as propriedades sintá(c)ticas e semânticas da forma «mbwe».”
Nota: este é o texto (aliás, parte do) publicado no sítio, conforme acesso de 14.01.2009. Fiquei com dúvidas – a palavra é «mbuwe» ou «mbwe»?
[5] MATTA, J. D. Cordeiro da. Ensaio de Diccionario Kimbúndu-Portuguez, Casa Editora António Maria Pereira, Lisboa, 1893.
[6] NASCIMENTO, J. Pereira do. Diccionario Portuguez-Kimbundu, Typographia da Missão, Huilla, 1903.
[7] BONNEFOUX, Pde. Benedicto M. Dicionário Olunyaneka-Português, Missão da Huíla, Sá da Bandeira, 1940.
[8] DANIEL, Rev. Henrique Etaungo. Ondisionalu Yumbundu, Dicionário de Umbundo, Umbundo-Português, Edições Naho, Lisboa, 2002.
[9] ONDJAKI. Os da Minha Rua, Caminho, Lisboa, 2007, p. 20.
[10] MONTEIRO, Manuel Rui. Quem Me Dera Ser Onda, Edições Cotovia, 6ª edição, Lisboa, 1991, p. 49.
[11] T.A. Implementar/Bué, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 11.10.2001:
[url] http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=9390:
“«Bué» é um modismo juvenil, e é bem provável que em futuras edições venha a ser retirado, utilizando-se o único mecanismo de eliminação razoável: o bom senso”
[12] É como se diz em umbundo, nhaneca e outras línguas do SW- É mesmo verdade! ou (expressão genuinamente angolana)
Juro com Deus!


admário costa lindo

Palavras Aventureiras III

Kauha, o ilusionista

Na tradição cultural africana há duas classes de heróis: os Heróis Deificados, divinizados pela grandeza dos seus actos, e os Heróis Fundadores, cuja história explica a origem dos vários reinos e povos.

Reza uma lenda !Kung que Kauha foi o maior ilusionista alguma vez conhecido. Maravilhava o povo com os seus malabarismos e ilusões que, para os pobres mortais, eram feitos apenas ao alcance dos seres imortais. Foi deificado e subiu ao Reino Eterno, que fica muito para lá da Lua. Como Deus, continuou brincalhão. Durante uma visita ao Reino do Efémero, solicitada por um aflito mortal, galhofava ele com tudo e todos quando resolveu descansar à sombra de uma árvore porque, na verdade, os deuses também se cansam. A árvore, incomodada com o conchego de Kauha no seu tronco e sem medir as consequências do acto, resolveu pregar-lhe uma partida. Soltou o maior fruto que gerara e este, qual cabaça gigante, rebentou em cheio na cabeça de Kauha, inundando-o de polpa húmida e peganhenta e inúmeras sementes minúsculas e irritantes. Não sabia a árvore dos maus fígados dos deuses, em vista de certos comportamentos humanos. Kauha levantou-se enfurecido, mirou a árvore de alto a baixo, estendeu as mãos e com os seus divinos poderes arrancou-a, inverteu-a e voltou a plantá-la, mas de pernas para o ar. É por isso que o imbondeiro, assim se passou a chamar a árvore cazucuteira, com a copa enterrada e as raízes ao léu, incha, incha, incha e toma aquele volume todo, tanto que é possível construir uma grande casa dentro do seu tronco, escavacando-o.

Imbondeiro ou Embondeiro?

Para designar em Português a Adansonia digitata, o gigante da flora africana também conhecido por baobá, há duas palavras dicionarizadas, ambas presentes na literatura angolana: Imbondeiro e Embondeiro

- Porque sofre você? Eu não entendo
o motivo do seu pranto...
derrubaram embondeiro,
onde você comeu muita múkua, no gozo
[1]

E depois de Calomboloca, a chuva grossa caindo, o cheiro bom da terra molhada entrando nas narinas, os campos verdes do algodão vigiados pela sanzala de imbondeiros grandes, floridos ainda, sem múcuas pendendo.” [2]

Dizem os entendidos que a única grafia oficial é embondeiro, segundo “o grande Gonçalves Viana”. [3] Eu não concordo, como não concordei com o, também oficial, Cochilar.

O étimo é o vocábulo quimbundo mBondo, que designa a árvore em causa. Vamos tentar entender como mBondo evoluiu foneticamente para Imbondeiro ou Embondeiro.

Convém desde já clarificar um erro cometido por Fernando Fonseca no artigo “ Embondeiro”, publicado no sítio Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. [3] Diz Fonseca a dado passo:

“Nas próprias designações da língua bunda surgem variantes com as sílabas iniciais am (ambundo) e/ou um (umbundo), provenientes, julgo eu, duma nasal inicial diversamente interpretada.”

A verdade daquilo que acontece é a seguinte:

Ao radical mBundu (condição de preto ou de natural de Angola), junta-se o prefixo MU para formação do singular, Mumbundu (preto, natural de Angola) e o prefixo A para a formação do plural, Ambundu (pretos, naturais de Angola) . (4) São as regras da Classe I (que compreende os nomes de entes racionais) de formação dos substantivos em Kimbundu, a língua dos Ambundu.

A sílaba inicial de Ambundu não é am, como refere Fonseca, mas a e a divisão silábica completa da palavra é como segue:

a – mbu – ndu,

pela razão de que o m e o n representam um sinal diacrítico (o til, cuja utilização seria mais consentânea, como já referi em “ o N de Negaje”) e servem para nasalar a consoante que se lhes segue. O m e o n não nasalam o a nem o u, mas sim o b e o d, respectivamente.

O mesmo acontece com Umbundu = U – mbu – ndu (singular) e O – vi – mbu – ndu (plural).

Fonseca diz mais: “Veja-se ainda a grafia ‘Ngola (por Angola), que às vezes se encontra, demonstrativa da instabilidade da vogal nasal reduzida que o ‘n deve representar.”

nGola não é, foneticamente, o mesmo que a versão portuguesa Angola. O n não representa uma (hipotética) vogal nasal instável (an), serve, isso sim, para nasalar a consoante g, coisa difícil de entender por alguns, uma vez que em português não existem consoantes nasais.

A divisão silábica é

nGo – la.

Para melhor entendimento direi que a divisão silábica An-go-la (correcta em Português) será, nestes termos,

A – ngo – la.

Para tentarmos compreender eficazmente a evolução do vocábulo mbondo, consideremos um português antigo chegado a uma sanzala mbundu, apontando para aquelas enormes árvores e indagando o seu nome. [5] A resposta dos angolanos pode ter sido apenas uma, ou várias para melhor se fazerem entender.

Nessa altura, o falante português, em presença de gramática tão estranha (as consoantes nasais e, mais difícil ainda, a pronúncia dessa nasalação) segue o que lhe diz a sua língua materna e sente que necessita de uma prótese no radical africano, uma vogal que, então, nasalará para que o vocábulo fique mais consentâneo com o arranjo fonético a que está acostumado – daqui deriva o erro de Fonseca.

Mas onde vai ele desencantar essa vogal? Não a inventa, não, vai à própria língua africana. E como, se ele não a domina minimamente? Simplesmente pelo ouvir falar, que é assim que ele apreende os novos termos e expressões.



Façamos nós três exercícios de análise.


1º exercício -

Seguindo Rui Ramos no texto “ Imbondeiro ”, do Ciberdúvidas,[5] temos

a expressão ii mbondo, aquele é um mbondo,

ii mbondo > iimbondo > imbondo (crase).



2º exercício

Em quimbundo, pela regra da concordância, faz-se concordar os atributos com o nome que lhe está associado, por meio de prefixos concordantes ou pronominais, derivados dos prefixos nominais.

ex: kinama kiami (a minha perna) e inama iami (as minhas pernas),
dilonga diami (o meu prato) e malonga mami (crase de maami) (os meus pratos);

Para mbondo vamos analisar o plural, cujo prefixo é ji - de “os meus bondos” teremos

jimbondo jiami > jimbondo j’ami > jimbondo jami.

No plural da Classe IX, à qual pertence mbondo, pode omitir-se o prefixo nominal, quando se segue o prefixo concordante ou o genitivo. [6]

jimbondo jami > mbondo jami

O português antigo pode não ter seguido esta regra mas, apenas, ter provocado uma aférese simples,

jimbondo jami > imbondo jami.

Querendo fazer a concordância do singular, teremos

mbondo iami,

mas a palavra mbondo não tem prefixo do singular, apenas o do plural, ji como se viu. Assim sendo, no singular não há lugar à aplicação da regra de concordância, precisamente pela ausência desse prefixo nominal.



Não satisfeitos com os resultados até aqui obtidos, avancemos para o

3º exercício

Há uma terceira hipótese para o surgimento de imbondo:

a aproximação fonética ao vocábulo Imbonde ou Imbondo, vagens, [4] que o português antigo já tinha ouvido algures e que presumiu ser a mesma palavra .

Sobre a derivação/evolução dos vocábulos, para que se não pense que isto não passa de treta, uma vez que o povo não anda de gramática a tiracolo, é bom referir que isso é uma falsa questão - o povo não necessita, absolutamente, de regras. Quando os avoengos lusitanos, na sua prática diária, fizeram evoluir do Latim aquelas que seriam mais tarde as Línguas Galaico-Portuguesas, fizeram-no empiricamente – via popular. Mais tarde os estudiosos descobriram as regras dessa evolução e, em posse de tão valioso instrumento, foram ao latim, ao grego e a outras línguas fortes da época, trabalhar palavras – via erudita - que eram fundamentais para se tornar o Português naquilo que é hoje – uma das línguas mais criativas do mundo. Ainda hoje surgem constantemente novas palavras por essas duas vias.

Findos os exercícios, penso que podemos estabelecer correctamente a primeira parte da evolução, a mais difícil,

mbondo > imbondo.

Verifica-se que chegámos sempre a imbondo e nunca a embondo.

Mete só óleo de palma com lufazema e casca de imbondo, arranjam na cidade.” [7]

Como se trata de uma árvore há que acrescentar a imbondo o sufixo português eiro, o indicado para este tipo de nomes,

imbondo > imbondoeiro > imbondeiro (assimilação regressiva)

chegando-se à evolução completa:

mbondo > imbondo > imbondeiro.

Penso ser claro que Imbondeiro é a forma correcta.

E mais: pelas análises feitas podemos afirmar peremptoriamente que nem sequer é viável uma evolução divergente, uma vez que, para chegarmos a embondo, teremos que passar, forçosamente, por imbondo, uma vez que

Embondeiro é uma corruptela, pela mutação do im em em, comum na língua portuguesa, mormente na linguagem popular (importar-se < emportar-se), pelo que

embondeiro « imbondeiro

Embondeiro não evoluiu de mBondo, mas corrompeu-se de Imbondeiro, a palavra portuguesa correcta.


notas e bibliografia:
[1] VICTOR, Geraldo Bessa. Cubata Abandonada, Agência-Geral do Ultramar, Lisboa, 1958, p. 25.
[2] VIEIRA, José Luandino. A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, Edições 70, 4ª edição, Lisboa, 1988, p.35
[3] FONSECA, Fernando V. Peixoto. Embondeiro, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 25.07.1997,
[url] http://www.ciberduvidas..sapo.pt/controversias.php?rid=901, ac. 14.01.2009
[4] MATTA, J. D. Cordeiro da. Ensaio de Diccionario Kimbúndu-Portuguez, Casa Editora António Maria Pereira, Lisboa, 1893.
[5] RAMOS, Rui. Imbondeiro, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 24.07.1997,
[url] http://www.ciberduvidas.sapo.pt/controversias.php?rid=903, ac. 14.01.2009:
“Quando um português antigo chegou a uma sanzala mbundu e apontou para aquelas enormes árvores indagando o seu nome, as pessoas teriam talvez respondido: «ii mbondo» (aquilo é um mbondo, aquele é um mbondo).”
[6] Por esta regra também concordam dois nomes por meio do genitivo, o que não vem agora ao caso.
[7] MONTEIRO, Manuel Rui. Rioseco, Edições Cotovia, 2ª edição, Lisboa, 1999, p. 91.


admário costa lindo

17 de janeiro de 2009

Palavras Aventureiras II

Em louvor de Vilanova



Cochilar. Cabecear com sono, dormitar, oscilar.

Os meus leitores já escutaram, certamente, uma frase como esta:

- É mesmo de angolano! Este povo, se não existisse, teria que ser inventado!

É bem verdade que o angolano tem características que os europeus, talvez os que nunca tenham passado por África, não aceitam de bom grado ou não entendem muito bem.

Uma característica que lhe é atribuída é a preguiça, a mangonha. A história verdadeira não é bem essa e é um tanto rebuscada, não vou agora dissertar sobre ela, poderá ficar para outra altura. Pergunto apenas àqueles que assim pensam: quem gostaria de trabalhar de sol a sol, a troco de 50 angolares, com “porrada se refilares”?

Característica verdadeira é a sua alegria de viver, a exuberância perante a vida… e a morte que, para o angolano, é apenas um estádio, uma passagem.

Em Angola ao velório é mais apropriado chamar-se serão obituário. Nesses serões não há coros de lamentações e choros (que não se evitam, evidentemente) intermináveis. Há mais uma roda de estórias, adivinhas e cantos… mas nenhum anedotário estupidificante.

Esse serão tem, porém, uma regra de ouro: é terminantemente proibido coxilar, sob pena de se incorrer em pesada multa, cobrada em dinheiro ou géneros. O produto das coimas, é bom de saber, reverte a favor do orçamento dos comes-e-bebes da noitada.

Há muito boa gente que desconhece que a portuguesíssima cochilar é uma palavra de raiz angolana, registada na língua desde 1671-1696. [1]

“Minha velha mulemba...
À sombra dela (eu era monandengue),
com outros meninos brincando,
eu ensaiei
meus passos de massemba...
Tantas vezes ali deitei meu luando
e ali fiquei cochilando,
à sombra da mulemba.”
[2]

Este verbo deriva do quimbundo Kukoxila, cabecear, toscanejar ou escabecear.[3] Deu-se, como indicado no I artigo para a palavra Banzar, a queda do prefixo verbal quimbundo – Ku – e o acrescento da terminação – ar - da 1ª conjugação verbal em português; paralelamente houve uma adaptação morfológica, com a mutação do K em C, já que o Português não admite aquela primeira letra senão para algumas excepções muito restritas, mesmo no Novo Acordo Ortográfico.

Até aqui tudo na santa paz das almas. Há, no entanto, um quiproquó: não foi respeitada a raiz. Se a palavra deriva de Kukoxila a grafia correcta tem que ser Coxilar.

Eu bem procurei, esfalfei-me, mas concluí amargamente que apenas três pessoas estão de acordo quanto a esta questão: Ribas, Vilanova e eu. Nem mesmo o Luandino, pópila!

“Patrão Abelho dava as santas noites que amanhã é dia, a tia Guidinha nunca cochilava – fechava os olhos só para ser nova outra vez.” [4]

Será resultado do grande peso dos dicionaristas?

Ando a reler toda a literatura angolana, da minha biblioteca e de outras, por via do sonho antigo de publicar o Mulonga em livro. É aí que reside a esperança de que mais alguém se junte ao grupo.

Aqui vai a palavra dita pelo Vilanova, com a variante nacionalista do K:

“os passos de novo me trazendo
donde que o sal do exílio me chamou

minha irmã minha irmã
na tonga te busquei inutilmente

a sexa interroguei e a serpente
na honga koxilando sob a folha da mubanga

na lagoa às kitutas procurei
e Nâmbua dei-lhe encontro a caçadora

e quando de teu óbito me contavam
já a tarde tombara em Tunda-a-M’bulu

minha irmã minha irmã
nossa casa de adobe é preciso levantar”
[5]

Esta é a palavra toda do poema inteiro, Meu coração habita na Kileba. Não resisti inteirá-lo.

João-Maria Vilanova é a condição perfeita do pseudónimo. Muita gente tentou adivinhá-lo, já foram aventadas várias hipóteses que passam por todos os grandes escritores angolanos, mas ninguém o sabe. Acho mesmo que nem os editores o conhecem. Nem mesmo o Orlando Albuquerque o conheceu, embora tenha sido ele quem o revelou ao mundo com os “Cadernos Capricórnio” de saudosa memória. De uma coisa eu não abdico: com pseudónimo se não for nome ungido, ou com nome verdadeiro se não for pseudónimo, o muito esquecido João-Maria Vilanova é, para mim, o maior poeta angolano de sempre, logo-logo junto a Ruy Duarte de Carvalho.

Os dois poetas preenchem(-me) a eternidade!


notas e bibliografia:
[1] HOUAISS e Mauro de Salles Villar, António / Instituto António Houaiss. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Global Notícias Publicações, Lisboa, 2005.
[2] VICTOR, Geraldo Bessa. Cubata Abandonada, Agência-Geral do Ultramar, Lisboa, 1958, p. 24.
[3] MATTA, J. D. Cordeiro da. Ensaio de Diccionario Kimbúndu-Portuguez, Casa Editora António Maria Pereira, Lisboa, 1893.
[4] VIEIRA, José Luandino. Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto & Eu. Editorial Caminho, Lisboa, 2006, p. 29
[5] VILANOVA, João-Maria. Poesia, Editorial Caminho, Lisboa, 2004, p. 79.

outra nota:
Não se apoquente quem aqui encontrar palavras ou expressões desexplicadas. A seu tempo todas elas se tornarão límpidas.


admário costa lindo

Palavras Aventureiras I

Navegantes



Vamos aqui gandiar pela história de algumas palavras de raiz angolana, ou por Angola perfilhadas - e pelo mais. Não será o mesmo que o “Mulonga, a palavra”, mas uma variante aprofundada.

Não sei quantificar as palavras angolanas que, desde a época da escravatura, navegaram e continuam a navegar pelas sete partidas do mundo, que não apenas pelos países de expressão portuguesa. Sei apenas que enriqueceram muito a Língua Portuguesa e que algumas foram mais além.

Também o poveiro, “tipo de pescador original e inconfundível na beira-mar portuguesa”, que vive “na orla da angra ou enseada de Varzim”,[1] se aventurou por esse mundo fora, provavelmente mesmo nas caravelas henriquinas. Esteve em Angola, principalmente na província de Moçamedes, actual Namibe, onde constituiu uma das comunidades mais numerosas e com influência decisiva no desenvolvimento daquela que foi a maior região piscatória de Angola.[2] Muitos dos termos portugueses daquela região, mormente os relacionados com a arte da pesca, são genuinamente poveiros.

Gandiar é um belíssimo regionalismo poveiro, que significa passear sem cuidados, aquilo que se pretende com esta série de artigos.

Peguemos então no assunto.

Para se investigar a origem, a identidade ou a história de determinado termo é fundamental, antes do mais, procurar saber de que língua(s) tratamos, ou cairemos em erros crassos.

Depois há que atender a que uma palavra ou expressão pode:

a) simplesmente, ser criada ou inventada –
ex: Xaxualhar (sussurrar das folhas das árvores pela acção do vento) é um neologismo de origem onomatopaica, ao que sabemos criado por Luandino Vieira;
“só um quente novo, um fresco bom, melhor que o vento que soprava xaxualhando as pequenas folhas verdes das acácias” [3];

b) derivar de outra, da mesma língua ou de língua estranha com a qual o falante esteja em
contacto, dominando-a ou não –
ex: Banzado é um adjectivo formado do verbo Banzar, que derivou do quimbundo Kubanza (pensar, meditar, cogitar, raciocinar) [4]; deu-se a queda (aférese) do prefixo verbal quimbundo – Ku – e ao radical Banza foi acrescentada a terminação ar da 1ª conjugação verbal em português ;
“- «É tão bonita!» – «Seu negro!» -
Ela foi feroz, tão franca,
que ele nem quis replicar:
- «Mas eu tenho a alma branca…»
- Ficou calado, banzado,
com vontade de chorar.”
[5]

c) ser transposta de língua estranha na sua totalidade, sem transformação (podendo sofrer apenas as necessárias adaptações morfológicas) –
ex: Kabalu (quimbundo) [4] é uma adaptação do Cavalo português;

d) evoluir para um termo totalmente novo –
ex: Batuque (bombo, tambor) – evoluiu do quimbundo Ba atuka (onde de salta ou se pino-teia) [6] => Baatuka > Batuka > Batuke > Batuque;
“quando passou ao largo da sua antiga senzala, a caminho do Posto do Cuilo, ouviu os patrícios cantarem ao som dos atabaques do batuque”; [7]

e) manter o mesmo significado ou adquirir significação diferente ou, mesmo, antónima do
original –
ex: mBolo (quimbundo) [4] – adaptou-se do Bolo português, passando a designar o Pão.

E assim iremos, de preferência ao sabor doce, de café em pingo.


notas e bibliografia:
[1] GRAÇA, António dos Santos. O Poveiro, Publicações Dom Quixote, 3ª edição, Lisboa, 1992, p. 17.
[2] MEDEIROS, Isabel. Contribuição para o Estudo da Colonização e da Pesca no Litoral de Angola ao Sul de Benguela, Instituto de Investigação Científica Tropical / Junta de Investigações Científicas do Ultramar, Lisboa, 1982, p. 19:
“A Capitania de Moçamedes”, que contribuiu “com mais de 60% do total de pesca desembarcada no país, agrupava 35% dos pescadores matriculados, 22,2% do total de embarcações com 51% da tonelagem de arqueação bruta (dados de 1970-71, últimos disponíveis) e detinha 4,5% do valor das exportações angolanas dos derivados da pesca, que no conjunto representavam 5,4% daquelas exportações”.
[3] VIEIRA, José Luandino. Luuanda, Edições 70, 11ª ed., Lisboa, 2000, p.42.
[4] MATTA, J. D. Cordeiro da. Ensaio de Diccionario Kimbúndu-Portuguez, Casa Editora António Maria Pereira, Lisboa, 1893.
[5] VICTOR, Geraldo Bessa. Cubata Abandonada, Agência-Geral do Ultramar, Lisboa, 1958, p. 29.
[6] RIBAS, Óscar. Dicionário de Regionalismos Angolanos, Contemporânea Editora, Matosinhos, 1997.
[7] SOROMENHO, Castro. Terra Morta, Campo das Letras, Porto, 2001, p. 49.


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