SEGUIDORES

31 de julho de 2006

27 de Maio

Ao Baptista Neto,
que foi mandado colher café
e nunca mais voltou.


Longe de mim julgar quem quer e o que quer que seja. Nunca tive vocação para tal.

Posso, quando muito, ter opinião sobre questões que me toquem particularmente.

Posso, quando muito (e não seria a primeira vez) sofrer as consequências de ter opinado.

Sem dados concretos, no caso os papéis (que nunca se escrevem) sobre determinadas questões. Por exemplo: não tenho papelada alguma que confirme que existem fortunas colossais de membros do Governo e do Partido no poder em Angola, nascidas do nada (os cogumelos levam mais tempo a nascer).

Assim sendo, de acordo com alguns puristas da legalidade (!?), essas fortunas não existem, são pura especulação. Quem trata esses assuntos, seja jornalista ou simples cidadão interessado, não passa de um qualquer membro de uma qualquer organização mafiosa que apenas pretende denegrir o país, que é aquilo que Angola (pretendem, na verdade, significar o Governo de Angola) menos precisa no momento, atarefada como está na reparação das vias de comunicação destruídas pela guerra, na construção de mais e melhores escolas e centros hospitalares, na reconversão dos sistemas de saneamento básico, no combate à pobreza, na melhoria das condições de vida dos órfãos, viúvas e mutilados de guerra…

Querem de fechemos os olhos, que tapemos os ouvidos, que atentemos na corrupção que se passa por esse mundo fora, Portugal incluído, porque os governos africanos e o de Angola também têm direito ao seu quinhão.

Ainda hoje um amigo que muito prezo me disse para deixar para lá. Que ninguém, em Angola (Governo obviamente), irá reconhecer o que se passou.

Na História nada constará. As vítimas dos fuzilamentos (que não houve, segundo a História oficial) continuarão insepultas. Da História constará, talvez, aquilo que me disseram outros presos na cadeia da DISA, no Uije em 1978: que “aqueles camaradas foram mandados para a colheita do café”. Muito longa, a colheita!

Sigo, no entanto, um princípio que considero sagrado: toda a pessoa tem direito à dignidade.

A dignidade pressupõe a liberdade de expressão, quer seja ou não a favor dos nossos princípios particulares.

A liberdade de expressão pressupõe o manifesto publico daquilo que nos vai na alma mas, no mesmo nível de liberdade, o saber ouvir o que outros têm para contar.

Ninguém me vai impedir, nunca, seja quem for e a que pretexto for, de dizer aquilo que penso. Ou, como é o presente caso, ouvir o que outros têm a dizer.

Das suas mágoas. Das suas feridas.

Cada um terá a sua opinião sobre o “27 de Maio de 1977”.

Os familiares e amigos das vítimas desaparecidas também.

Que ninguém o ouse negar, para bem da sua consciência.


admário costa lindo





CARO VISITANTE do site 27MAIO.ORG
2006-07-28

Esperamos manter o site operacional e em permanente evolução para o tornar cada vez mais útil a todos aqueles que se interessam pelos acontecimentos do 27 de Maio de 1977 em Angola. Entretanto, permita-nos apresentar muito sumariamente quem somos.

A Associação 27 de Maio foi constituída por escritura pública realizada em Cartório Notarial em Lisboa, Portugal, em 2005, por iniciativa de alguns sobreviventes, familiares de vítimas, e amigos que também foram atingidos por aqueles acontecimentos.

A Associação 27 de Maio tem como seu objectivo principal a investigação, esclarecimento e divulgação dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977 em Angola.
Nesse sentido, um dos trabalhos da Associação tem sido o da recolha de testemunhos de sobreviventes, familiares, amigos, vítimas daqueles trágicos acontecimentos, e sua inventariação para que a memória não se perca, recolha essa feita quer pela participação das pessoas no site, quer por contacto directo com elas. Esses depoimentos serão classificados e reservados no nosso arquivo, garantindo-se a confidencialidade dos mesmos quando solicitada pelo seu autor, e a possibilidade de serem utilizados quando necessário.
É nossa convicção que este trabalho é um sustentáculo básico para todos aqueles que, melhor que nós, estão apetrechados para o continuar – historiadores, investigadores sociais, organismos internacionais, bem como para uma entidade independente capacitada para concretizar o que preconizamos como nossos objectivos: trazer a verdade dos factos ao domínio público, contribuindo de forma pacífica e objectiva para repor a verdade histórica, doa a quem doer, honrar os mortos e serenar o espírito dos vivos.
Para isso, precisamos do contributo de todos os que se interessam por esta causa.

Assim, gostaríamos de conhecer qual o propósito de cada um, qual o seu vínculo , quer sejam sobreviventes, familiares, amigos ou simplesmente interessados neste esclarecimento definitivo. Nesse sentido, solicitamos que utilizando o site, ou enviando para os endereços (geral@27maio.org ou APARTADO 23 , 2731-901 BARCARENA , PORTUGAL ), nos indiquem qual o Vosso “estatuto” (amigo, sobrevivente, familiar...), a natureza do Vosso interesse, e prestem o Vosso testemunho: só congregando intenções fortes e revelações credíveis, almejaremos um dia o conhecimento da história e a demanda da justiça.

E não se esqueça de subscrever o abaixo-assinado (www.27maio.org/peticao.php)

A Direcção da Associação 27 de Maio


(mensagem por correio electrónico )


»»» http://www.27maio.org/

26 de julho de 2006

Novas da Cultura


Discos de prata

Carlos Burity, Caló Pascoal e Yola Araújo receberam discos de prata da distribuidora "Ngola Música", por terem sido vendidas mais de 10 mil cópias dos seus discos Zwela Okidi, Santa Mariazinha e Um pouco Diferente, respectivamente.





Dia Kassembe lança livro de estórias
Dia 14 na União dos Escritores Angolanos, com a chancela da Editorial Nzila, a
escritora angolana Dia Kassembe lançou o livro de estórias Os amores das sanzalas.
O acto foi precedido de uma conferência de imprensa para anúncio da 1ª Bienal Internacional do Livro de Luanda. Este importante evento, que decorrerá em Luanda, de 2 a 9 de Dezembro, sob o lema "Mais Leitura, mais Cultura", consistirá na expo-venda de literatura académica e generalista, sendo uma iniciativa da União dos Escritores Angolanos (UEA)., Editorial Nzila e da ONG Causa Solidária.


Fortalezas de Luanda valorizadas
Os Ministérios da Cultura (Mincult) e da Hotelaria e Turismo criaram, em despacho conjunto, uma equipa técnica encarregada de avaliar e elaborar propostas para a utilização e conservação das fortalezas de São Miguel, Penedo e São Pedro da Barra, todas localizadas em Luanda.

Óscar Gil conclui rodagem de mini série
Em 22 dias de filmagens, a Óscar Gil Produções conseguiu terminar a rodagem da mini série televisiva "Vidas a Preto e Branco", que esteve paralisada por dois anos, devido a falta de financiamento.
A estreia da obra audiovisual está prevista para Setembro do ano em curso.

Paulo Flores na Womex
O músico angolano Paulo Flores faz parte da lista de artistas estrangeiros convidados a participar, de 25 a 30 de Outubro, na Feira de Música do Mundo, também denominada Womex, a acontecer na cidade espanhola de Sevilha.


“Absoluto”, 13 obras de Hildebrando de Melo
"Em que lugar, em que tempo estamos?
Estamos hoje e aqui. O Passado não existe, perdeu-se. Vivemos na crista de uma onda em que, na verdade, nada muda. Tudo é imutável e, contudo… move-se.
A subtileza desse movimento, porém, induz uma apreciação relativa do tempo, cuja verdadeira essência e importância nos escapam.
Qual é, então, o segredo do tempo? O seu movimento?
Na verdade, estamos perante todo um jogo de ilusões. O tempo é fruto da ilusão do espaço em movimento.
E, contudo, a luz que chega das estrelas longínquas foi emitida há tanto tempo, que muitas delas já não existem. Mas delas ainda vemos a luz.
É nesta reflexão que importa ler o Absoluto que Hildebrando de Melo pinta. E como pinta. E, quiçá o mais misterioso, porque pinta. E para quem."

Manuel Dionísio (in convite para a inauguração)

“Absoluto”, 13 obras de estilo expressionista de Hildebrando de Melo, patentes até 17 de Agosto no Hotel Globo (R. Rainha Ginga, 100). A mostra inscreve-se no âmbito da Trienal de Luanda.

»»» ler mais sobre a Exposição

Tantã Cultural nº 221 13-19.julho.2006


Homenagem
No passado dia 12, o Estado brasileiro, através da sua Embaixada em Angola, outorgou a Medalha da Ordem do Mérito Cultural à antropóloga Ana Maria de Oliveira e ao escritor Pepetela.
A insígnia premeia personalidades brasileiras e estrangeiras que se distinguem pelas relevantes contribuições por si prestadas à cultura.


No top musical, de pedra e cal
"Crioula do Sal", de Eduardo Paim, lidera o Top 10 da música africana da Rádio e Difusão Portuguesa (RDP-África) há duas semanas.

Tantã Cultural nº 222 20-26.julho.2006

25 de julho de 2006

Mário Tendinha.Bio





MÁRIO TENDINHA


Nascido em Maio de 1950, na cidade do Namibe.

Oriundo de uma família de algarvios que chega ao Namibe em 1890, sempre teve o mar, as pescas, o deserto, o povo cuvale, como referencias naturais marcantes na sua vida.
Começa a desenhar e pintar aos 18 anos, muito influenciado pelas correntes modernas da época, a musica, os hippies e os movimentos sociais.

O surrealismo marca desde logo e para sempre o seu trabalho, ao tomar contacto com as obras dos grandes mestres, Picasso, Dali, Miro, Ernst, Klee e tantos outros.

A banda desenhada, uma das suas paixões desde a infância, deixa marcas no seu trabalho inicial que se traduz pelas técnicas e suportes então utilizados, o papel, o guache e aguarela, a tinta-da-china.

Já no Bié e casado, onde estava a cumprir o serviço militar, desenvolve uma grande produção e prepara a sua primeira exposição individual que se realiza no Huambo.

Depois novos trabalhos e exposições e sobretudo a sua ligação a fundação da Oficina d’Arte, no Lubango, em conjunto com outros artistas locais, que culmina com uma grande exposição colectiva que reúne obras de artistas de todo o pais em 1974 na cidade do Lubango. A Oficina d’Arte funcionava no antigo Palácio do Governo, era um espaço cedido pela Câmara Municipal do Lubango, onde os artistas em geral se reuniam, pintavam, faziam suas tertúlias literárias, se lia poesia e se ensaiavam peças de teatro, conversavam e partilhavam o seu trabalho, livremente.

Depois da invasão sul-africana e a sua casa e estúdio terem sido completamente vandalizados, deixou de pintar.

Esteve ligado ao movimento sindical angolano, militou no MPLA, e foi gestor de empresas, funções que ainda hoje exerce.

Apenas em 2002, depois de 25 anos sem pintar, para alem de uns “bonecos” que ia fazendo esporadicamente, depois de 28 anos sem expor, motivado e incentivado pelos pintores angolanos, António Ole, seu amigo de infância, e Isabel Batista e sobretudo pela sua mulher, volta a expor e retoma a sua actividade nas artes plásticas.





Exposições Individuais


1972 – Biblioteca Municipal – Huambo – Angola
1973 – CITA – Luanda – Angola
2003 – “...la para o Sul” – Galeria Cenarius – Luanda – Angola
2004 – “Partilhar” (I) – Casa das Artes – Famalicão – Portugal
2004 – “Partilhar” (II) – Centro Cultural do Instituto Camões – Luanda – Angola

Exposições Colectivas


1974 – Oficina d’Arte – Lubango – Angola


Mário Tendinha no »»» ArtHaria

série Anos 70/80
Ébrio * Incitamento * Madrugada * Queda

série Desenhos
Depapoproar * Engraxador * Fodido e mal pago * Kianda * Let's go * Pastuuss

série ...dos ogros...do fantástico...
Ekisi * Tcazangombe

série Lá para o Sul
Caçador da Paz * Caçadores * Carroça cheia de nada * Expectativa * Kianda no Mussulo * Lá para o sul * No sul os pastores * Ongombes nossos no Sul * Quitandeira com filha às costas no mercado * Velas ao Vento no Mussulo

série Obras do baú do atelier
Fetiche * Mukaia com lenha e lenço azul * Namoro na ilha de Moçambique * Peixe Papagaio

série Partilhar
Bué de Bocas * Carapaué * Carmina Miranda * Fado I * Fado II * Ginvuluvulu * Hepi ou o pastor de poucos bois * Herdeiros do Sol * Homo Urbanus * Nampingo's * Pensamento muinto * Rebita

»»» há muito mais no sítio do Mário

14 de julho de 2006

A. Costa Lindo. AutoBio


a Canon




Sou homem de várias paixões. Por exemplo, entre a leitura e a escrita prefiro ambas. Mas isto é mais do que uma paixão: é um respirar, uma necessidade vital.

A paixão pela fotografia agarrei-a em 1972 em Carmona, Uije, no norte de Angola. Comprei, a um colega de trabalho, uma Canon (de que já não me lembro o modelo) em segunda-mão. E comecei imediatamente a disparar: contra tudo, o que mexia e o que estava quieto. Fui devorando livros sobre fotografia. Cedo os abandonei, depois de adquirir os conhecimentos básicos, porque sabia que o principal era a prática: regular, focar, enquadrar, disparar, disparar, disparar.

A certa altura concluí que o disparo não me chegava. Montei um mini laboratório para fotografia a preto-e-branco, também em segunda-mão. E foi então que descobri a fotografia como a quero: manipulável. Era isso, afinal, o que eu procurava: uma forma de pintar à minha maneira.

Desse tempo quase nada salvei. A minha família vivia no extremo oposto, no sul desértico. Para lá ia levando uma ou outra fotografia que aí ficava arquivada em álbum, junto a algumas outras que ia tirando nas férias que por lá passava. Muito poucas porque nessas alturas o que eu queria era o sol e o mar que me faltavam durante o resto do ano. Foram essas poucas fotografias que a minha mãe, com o seu zeloso sentido de amor, trouxe para Portugal. Muito pouco do que produzi entre 1972 e 1974.

Entretanto, no Uije, fui visitar, com alguns amigos, o primeiro acampamento da FNLA, em liberdade total. A minha inseparável Canon foi também. Foram longas horas de conversa com os guerrilheiros, acompanhando uma funjada comida à maneira tradicional: com os dedos. Saber bem, soube. Mas só até ao momento em que me lembrei que deixara a Canon no Landrover, que o Neves tinha o fraco costume de deixar aberto. E foi um ar que lhe deu, à minha Canon.

Depois veio a guerra, a segunda, a prisão, a fuga para Portugal em 1979 e etc.

Nunca deixei de ir adquirindo uma maquineta para me entreter, agora mais modestas porque o dinheiro está muito caro. Mas sempre pensei (e continuo a pensar) que a máquina não é tudo. Por vezes é, até, quase nada. O mais importante está por trás dela (o maquinista) e à sua frente (os carris e os passageiros).

E descobri a digitalização: as máquinas e os programas – aquilo que eu procurava quando me encafuava no minilaboratório do Uije. Descobri que há, agora, uma nova forma de pintar as fotografias. Com a vantagem de os pincéis e as tintas não borrarem as mãos.

Presentemente ando a cismar com outra hipótese: a de ver com o olhar de uma libelinha, de um lince, de uma cabra-de-leque ou de um gavião. Mas como essa questão está relacionada com a manipulação genética, ainda não o consegui.

admário costa lindo

13 de julho de 2006

Futebol. O Mundial de A a Z

Algumas considerações politicamente incorrectas sobre o Campeonato Mundial de Futebol de 2006:

ANGOLA
A 1ª participação da selecção angolana numa fase final do Mundial excedeu as minhas espectativas. Para um país saído de uma guerra fratricida prolongada, conseguir 2 pontos num grupo que incluía, por ordem de ranking da FIFiA, México, Portugal e Irão, não é feito de somenos importância.

BOLA
Dizia-se que a deste Mundial era traiçoeira para os guarda-redes, pelos desvios de trajectória que, por vezes, adquire. Comprovámo-lo durante o apuramento do 3º e 4º classificados, onde os portugueses sofreram mais golos do que nos restantes jogos da competição.

CRISTIANO RONALDO
Sofreu um ataque acéfalo por parte da imprensa inglesa, a mais analfabeta que por aí anda embora se dê ares de grande dama. O nosso “miúdo” não tem condições para continuar a jogar em Inglaterra: nem o clube, nem o treinador, menos ainda os colegas, ninguém saiu em sua defesa. Aquele país não o merece. No entanto o clube não quer negociar a sua transferência. Em que ponto do masoquismo ficamos? Ou será que esta decisão tem outros objectivos... inconfessados?

DIEGO ARMANDO MARADONA
Veio à baila durante a competição. Lembram-se do célebre golo com a mão? Que eu saiba essa atitude deste endeusado do futebol nunca foi considerada falta de fair-play: isso são as quedas dos portugueses.

É FALTA!
Gritou, no seu bom francês, Raymond Domenech quando um seu jogador, o primeiro a mergulhar no jogo Portugal – França, se atirou para o chão. Mas não foi falta de fair-play: isso é com os portugueses.

FOLKLORE-PLAY
Disse o árbitro do jogo Portugal - Holanda que apenas se limitou a aplicar as leis do futebol (esqueceu-se o senhor que nós também temos inteligência e bem sabemos que a Lei é uma coisa e a sua aplicação outra, que pode ser bem diversa) e que os culpados daquilo que se passou em campo foram os jogadores holandeses comandados por Van Basten: mas nem por isso expulsou o agressor de Cristiano Ronaldo, como mandam as regras, permitindo que a violência avançasse a partir daí. Sempre que a violência é reprimida, para um dos lados, e permitida para o outro, nada de bom há a esperar. Por outro lado (ou do mesmo lado) um dirigente da FIFiA, a propósito do pedido de despenalização do 1º cartão amarelo mostrado a Deco no mesmo Portugal - Holanda, invocando-se a falta de fair-play dos holandeses, argumentou que aquela era apenas uma questão moral e não de regulamentação. Donde se conclui que o Mundial não era para se tratar de questões de moral (pelo menos no que aos “pequenos” dizia respeito) e que a Declaração de Fair-play, que as selecções participantes foram obrigadas a assinar, era apenas uma Declaração de Folklore... play.

GOLIAS
Davides éramos nós, sempre fomos. Conseguimos derrubar alguns golias mas estes tinham a lição bem encomendada: a corrupção faz a força.

HILARIANTE
Aconteceu muita hilaridade durante este Mundial. A melhor de todas, que merece ser perpetuada nos melhores manuais do riso, foi a daquele senhor árbitro que só expulsou um jogador após a mostragem do 3º cartão amarelo: isto, sim, é que é fair-play.

IMPRENSA
A Inglesa e alguma francesa fartaram-se de insultar os jogadores portugueses. Nunca se viu nem ouviu tanta mentira acumulada por parte dos pasquins mais reles do – chamado - Terceiro Mundo. Há frustrações históricas que alguns indivíduos não conseguem ultrapassar.

JOGO
Grande mesmo foi o Portugal – Alemanha. Esse sim, foi o jogo final do Mundial. O que se seguiu, entre franceses e italianos, foi uma peladinha entre compinchas para distribuição do espólio de guerra... suja.

LUÍS FIGO
Foi o capitão de selecção portuguesa, teve um comportamento exemplar, o verdadeiro timoneiro que, desde o primeiro jogo, apontou aos colegas o rumo certo. Foi de longe, mas de muito longe, superior (e de que maneira!) àquele que a FIFiA considerou o melhor jogador do campeonato. Foi mais disciplinado, sensato e educado durante toda a carreira.

MERGULHOS
1. Sinal utilizado até à exaustão pelo seleccionador francês, que o tomou como filosofia de via. 2. Disse o árbitro do Portugal – Holanda e disse-o a imprensa inglesa, que os portugueses são conhecidos por fiteiros, por se deixarem cair por dá cá aquela relva: daí a razão de a selecção portuguesa ter cometido menos faltas do que os cartões exibidos; no entanto um outro senhor do apito, certamente não instruído na mesma escola anti-fiteiros, assinalou uma grande penalidade fantasma a favor da Itália, por mergulho, que ditou a vitória desta selecção no confronto dos oitavos de final com a Austrália; um outro apitador assinalou grande-penalidade contra Portugal no jogo das meias-finais porque o jogador francês não mergulhou; quem mergulhou foi o Cristiano Ronaldo, depois de ter sido empurrado pelas costas, coisa pouca.

NAPOLEÃO
“Portugal é tão pequeno que, se dermos um pontapé aos portugueses, eles caem ao mar”. Não me recordo quem foi o francês que o disse, durante este campeonato, mas também não é necessário individualizar a afirmação por não ser tão rara como se possa pensar, por esse mundo fora. No entanto: por um lado quem o diz esquece-se que o mar nunca meteu medo aos Portugueses; por outro, esta foi também a teoria de Napoleão. A verdade, histórica mas que tentam “esquecer”, é esta: quem foi corrido a pontapé foram eles – os franceses – que, aquando das célebres Invasões, levaram para França muito o que contar.

OURO
Acaba aqui a saga da chamada “Geração de Ouro” do futebol português. Havia quem esperasse mais desta geração. Não contavam, esses, com os golias. No entanto, 2 Campeonatos de Mundo de júniores, um 2º lugar num Campeonato da Europa e um 4º lugar no Campeonato do Mundo, não são proezas a desprezar, para além das conquistas individuais.

PENALTIES
Ricardo, o guarda-redes da selecção portuguesa, defendeu 3 de uma assentada, bateu um record mundial mas não foi proeza suficiente. Outros, que sofreram mais golos, foram melhores, segundo a FIFiA.

QUALIDADE DA ARBITRAGEM
Se estes são os melhores árbitros da FIFiA, muito mal vai a cena do apito mundial. Erros (chamemos-lhe assim para não irmos mais longe) crassos e clamorosos e arbitragens rastejantes aconteceram vezes demais para uma competição desta envergadura. É nestas alturas que se confirma que os árbitros nacionais são tão bons ou melhores do que todos os outros. Os adeptos portugueses pensam que não!


RIBEIRO
Nuno, ou Maniche no meio futebolístico. Foi dos melhores em campo, sempre, e marcou contra a Holanda um dos mais (só?!) belos golos deste Mundial.

SENHORES DO MUNDO
É assim que se julgam os senhores da FIFiA. Não me cabe na cabeça que seja possível que um organismo privado se arrogue o direito de proibir os seus membros de recorrer aos tribunais civis. Nos países de regime democrático, pelo menos, a Constituição e o Sistema Judicial são os garantes dos direitos e liberdades dos cidadãos. Para a FIFiA isso são coisas da política. O “caso Bosman” não lhes serviu de exemplo. Para quando uma lição “exemplar” a estes senhores do mundo?

TESTÍCULOS
Os ingleses não sabem o que seja. Um tal de Rooney confundiu os do Ricardo Carvalho com a bola de futebol. Depois ficaram irritados com a expulsão: onde já se viu alguém ser expulso por pontapear as bolas?!

UUHH FST UUHH FST FSIUUUUUU!
É a única coisa que os adeptos ingleses sabem fazer. A par do bater de palmas quando os seus ídolos pontapeiam um adversário.

VERDADE DESPORTIVA
“O que é isso?” – pergunta a FIFiA.

XENOFOBIA
É aquilo a que (alguma) imprensa inglesa (e francesa) usa como isenção jornalística.

ZIDANE
É um senhor que agrediu à cabeçada um adversário. Foi expulso do jogo, segundo dizem o último da carreira, façanha suficiente para a FIFiA o considerar o melhor jogador do campeonato. Ficou a saber-se agora que o feito se deveu ao facto de ter sido insultado pelo adversário. Pelos vistos já tinha sido insultado no Mundial de 1998, no jogo frente à Arábia Saudita. E, segundo o “L’Equipe”, por mais 12 vezes. É que Zidane foi expulso 14 vezes durante a carreira de futebolista. Mas lá que é um menino de coro, disso não restam dúvidas. É por demais evidente que, terminada a carreira, o senhor passará a liderar as claques de apoiantes que, após as vitórias desportivas, desfilam pelas ruas de Paris incendiando viaturas, destruindo montras, disparando balas contra os adversários... isto digo eu que sou arruaceiro como os jogadores portugueses, Cristiano Ronaldo, Costinha, Petit, Deco... e João Pinto, lembram-se? A quem a FIFiA aplicou um castigo “exemplar” porque não teve justificação para a atitude que tomou contra um árbitro, no anterior Mundial. As 14 atitudes do anjo Zidane, não – essas foram plenamente justificadas.

admário costa lindo

10 de julho de 2006

Interrogação dos Mundos



Mário Tendinha:

a interrogação dos mundos e das existências


Depois de “ Lá para o Sul…”, Luanda, Galeria Cenárius, Julho de 2003, este homem do Sul de Angola regressa de forma surpreendente para “ PARTILHAR” – título da presente exposição – 14 pinturas (acrílicos sobre tela com técnicas mistas) e 10 desenhos a tinta-da-china sobre papel.

Mário Tendinha nasceu e vive em Angola há 54 anos, é descendente de uma família ligada ao mar – navegadores, pescadores algarvios e mouros – que chega ao país em 1891 num barco à vela chamado “Harmonia”que aporta em Moçamedes – actualmente a cidade do Namibe.

Com um perfil de autodidacta, desenvolve uma original visão expressionista da imensidão do universo pastoril onde passou a adolescência no Sul de Angola, no deserto do Namibe e do Iona, dos criadores de gado mucubais, a luz do sol, da vastidão do mar que abraça esta Angola excessiva; os pastores, os mucubais, as cores do céu, a observação das nuvens.

Recordações íntimas que marcaram a sua infância, retomadas nesta mostra com notável energia musical do traço, o sentido do ritmo secreto das cerimónias mucubais.

E a noite, no mar, a chegada dos pescadores sobre a proa dos barcos.

Mário Tendinha não pinta com ideias preconcebidas sobre arte, modas e teorias; avança para a tela e para os papéis com uma única legitimidade: a consciência de uma vivência íntima, sentida, visceral. Pinta também com o corpo. E com a memória.

Partilhar é um profundo sentimento da materialidade das coisas, e – ao mesmo tempo – uma enorme capacidade em estabelecer ligações nos mais variados sentidos. Uma acção interior, silenciosa, quase secreta.

As personagens de Mário Tendinha são seres complexos, com nomes – a Mingota, o Avozinho, as Zungueiras (vendedoras de fruta que percorrem as cidades angolanas) – envolvidas em contradições profundas, inocentes, desesperadas, tristes, ansiosas, flageladas, hesitantes, que perpassam do Sul ao Norte da nossa Terra.

Gente com força e dignidade que resiste num combate desigual, sem tréguas, mas também sem fim.

E, nessa fundamentação, beleza e grandeza do mundo coexistem. Mas a intensidade da presença visual dessa gente do deserto do Namibe, desses pastores excluídos e deserdados, e sobretudo dessa gente que nas cidades procura a Luz e a Vida, Mário Tendinha interroga a existência e o mundo, e convoca e motiva a emoção do espectador, assegurando a continuidade de um percurso marcado pelo legado de certos mestres da pintura que o influenciaram, mas também por uma visão pessoal da arte e da sua importância, fortemente apoiada na consciência da realidade social e económica de um mundo injusto; ou seja, numa profunda inquietude social.

O percurso de Mário Tendinha, aliás, é conseguido a pulso, e construído a partir de uma grande diversidade de registos expressivos, sobretudo baseados num inquietante e obstinado exercício de experimentação. No entanto, toda a sinalética envolvente da sua obra repousa profundamente num imaginário repleto de paisagens e lugares e pessoas com quem se cruza. É um olhar único, uma abstracção habitada.

Os desenhos que igualmente integram a presente mostra – quase todos expostos pela primeira vez – delimitam espaços habitados por personalidades algo grotescas, numa sublime gestualidade que apenas sugere um quotidiano difícil e intensamente vivido.

Partilhar é um espaço de liberdade, para frequentar sem medo nem angústias; estamos lá todos nós.

Esta obra de Mário Tendinha que cultiva a diversidade a instabilidade das linguagens deste tempo, apoiada na liberdade expressiva do autor que defende com invulgar eficácia a complexa angolanidade de que somos todos testemunhas e actores, e a própria irregularidade dos resultados, traduzem - de forma inequívoca e indesmentível - a constante frescura que é a marca da aventura livremente assumida – e vivida – pelo pintor; manifestação clara de uma criatividade corajosa, avessa a modas e a modelos.


Jerónimo Belo
Luanda, Maianga, Maio de 2004


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9 de julho de 2006

Prefácio do Sol e do Silêncio



Lá para o Sul... Prefácio do Sol e do Silêncio

Não se fazem prefácios para catálogos de pintura, muito embora os prefácios sejam mais próprios do meu hábito e costume. Nas entrelinhas das telas (tal como nos livros) encontram-se tantas leituras quantos os leitores e embora a pintura tenha uma só apresentação, o livro tem, sabe-se lá porquê, mais - a do Prefácio, a do Lançamento e, algumas vezes, a de um antiquíssimo Posfácio. Para corrigir este desajuste atrevo-me, pois, a fazer este prefácio, aonde prefácio não haveria de ser feito. Alguém virá que vos faça a apresentação destas telas e caberá a cada um de vós posfaciar, com a vossa opinião, esta exposição, à saída da vossa benquista visita. E assim, é dizer...

Mário Tendinha deixou a pintura há uma boa vintena de anos. Outras preocupações o tomavam: ganhar a vida, para poder um dia melhor viver a vida. E acreditava, quando fazia riscos e bonecos, nas chatas reuniões a que era obrigado, que o manejo do lápis seria um simples exercício de desenfastiado tédio. Não era. Era medo. Como artista, sabia que se perdesse a mão, emperraria o traço, cegaria a fantasia, a imaginação e atenção do olhar. Daí que tenha regressado ao óleo, ao acrílico, à aguarela e à tinta negra da china sem grandes embaraços, muito embora não lhe tivesse parecido suficiente voltar a pintar, mas refazer todo o seu percurso iniciando pelo desenho, até chegar à pintura.

Esta exposição é, também, por assim dizer, uma revisitação ao anterior percurso de pintor. E aqui o temos: na série “Perfis”, a delicada afinação dos dedos, o tom cuidado, embora medroso, de uma aguarela à procura de sentido. Mais adiante a infância - a menina inocente, o cão e a ausência sempre presente da mãe na mola da roupa. Olhemos os “Barcos do Mussulo” ou a saudade magoada de outras águas. Há um azul serrado, forte que nos fica a tempestuar a retina, um d’ouro e mar que nos sugere a dimensão inacabada do inatingível. O Avôzinho e Mingota é a escrita dos dias de hoje, suave porque as cores são de uma temperada suavidade, um espécie de passividade a que nos acostumamos, quando a rotina nos obriga a olhar e não ver. E de repente, intuímos, agressiva e violenta, forte e impressiva, a verdade - quase pornográfica - do erro, do abuso e da mentira. Porém onde o Mário Tendinha melhor se expressa, é na tonalidade amarelo-incandescente do deserto, cuja luz fazia morada de exílio na sua alma. Quase se diria que estes quadros são pintados sem nenhum elemento líquido. Que as figuras sempre difusas dos pastores e sempre presentes dos bois são a lembrança, perdurável e antiga, de sopros e areias, ainda mal lavados pela morrinha dos tempos. São tão só, luz, areia, crispação de vento cruciante e mar adivinhado. O Sol e o Silêncio como prefácio de um outro livro onde tudo é estranho, imperscrutável e segredoso – o deserto, o mar e o próprio homem. A infância, a solidão e o próprio sonho.Um convite a quem queira e seja capaz de ouvir esta quietude, tão já agora que leu - pequeno e pobre - este prefácio.

Darío de Melo


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8 de julho de 2006

Futebol. Alemanha 2006. Final



APURAMENTO dos 3º e 4º CLASSIFICADOS

Sábado 8/07/06 20H00, Estugarda
Alemanha 3-1 Portugal
Estádio: Gottlieb-Daimler-Stadion
Árbitro: Toru Kamiwava (Japão)
56’ 1-0 Schweinsteiger
61’ 2-0 Petit (ag)
78’ 3-0 Schweinsteiger
87’ 3-1 Nuno Gomes


de cabeça erguida! [ imagem AP/sic.sapo.pt ]




FINAL

Domingo 9/07/06 19H00, Berlim
Itália 1 – 1 (5-3*) França
Estádio: Estádio Olímpico de Berlim
Árbitro: Horacio Elizondo (Argentina)
6’ 0-1 Zinédine Zidane (gp)
19’ 1-1 Marco Materazzi


sem comentários, para quem viu o original! [ imagem AP/sic.sapo.pt ]



(ag) – auto-golo
(gp) - grande-penalidade

*
desempate por pontapés da marca de grande-penalidade

última revisão: 11.07.2006
[ os horários indicados são TMG ]

Futebol. Alemanha 2006. 1/2 Final



Terça-feira 4/07/06 20H00, Dortmund
Alemanha 0-2 Itália
Árbitro: Benito Archundia (México)
Estádio: Westfalenstadion (Signal Iduna Park)
Jogo com prolongamento
118’ 0-1 Fabio Grosso
120’ 0-2 Del Piero


[ imagem EPA/sic.sapo.pt ]




Quarta-feira 5/07/06 20H00, Munique
Portugal 0-1 França
Estádio: Allianz Arena
Árbitro: Jorge Larrionda (Uruguai)
0-1 Zinédine Zidane (gp)


[ imagem EPA/sic.sapo.pt ]





(gp) - grande-penalidade

última revisão: 9.07.2006


[ os horários indicados são TMG ]

5 de julho de 2006

Réplica e Rebeldia


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Exposição de artistas lusófonos em Luanda


O Instituto Camões inaugurou no dia 3, no Centro Cultural Português de Luanda, a exposição «Réplica e Rebeldia», que reúne cerca de sete dezenas de obras de 35 artistas de Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique. “Esta exposição pretende ser um contributo para a visibilidade de um conjunto de artistas que, sendo excelentes, não têm a projecção que era justo que tivessem”, afirmou António Pinto Ribeiro, comissário desta mostra, em declarações à Lusa na capital angolana. Nesse sentido, a exposição, integralmente produzida pelo Instituto Camões, surge numa perspectiva de “cooperação artística internacional”. “De uma forma geral, os artistas africanos são muito pouco conhecidos”, admitiu António Pinto Ribeiro, que se encontra em Luanda a preparar a abertura desta exposição de artistas lusófonos. Para António Pinto Ribeiro, uma das razões para esse desconhecimento internacional reside na “falta de mercado, de galerias e de críticos de arte em África”, mas, no caso concreto dos criadores lusófonos, também é consequência de Portugal, antigo país colonizador, “não ter força suficiente para lhes assegurar uma presença internacional”. De alguma forma, a realização da exposição pretende ser uma forma de minimizar este problema, assegurando projecção e visibilidade internacional a um conjunto de artistas de língua portuguesa que, de outra forma, teriam grandes dificuldades para apresentar o seu trabalho.

A exposição estreou em Maputo, capital de Moçambique, onde esteve patente dois meses no Museu de Arte Moderna, viajando depois para Luanda, onde poderá ser visitada até meados de Agosto no Centro Cultural Português e no Museu de História Natural. Até finais de 2008, esta exposição vai ainda estar patente no Brasil e em Cabo Verde, mas também em Berlim, capital alemã, e em Washington, nos Estados Unidos.
Segundo António Pinto Ribeiro, não é por acaso que a digressão começa por África. “A intenção - disse - foi permitir que, ao contrário do que habitualmente acontece, os artistas possam ser os primeiros a ver a exposição”. O catálogo da mostra inclui um texto da autoria de uma pessoa de cada país com artistas representados, que apresenta uma visão sobre a história da arte local, cuja evolução pretende estar sintetizada no título da exposição: «Réplica e Rebeldia». “Inicialmente, a arte africana era uma espécie de ‘réplica’ do modelo europeu, transmitido pelo país colonizador, mas, a determinada altura, surgiu uma consciência de ‘rebeldia’ dos artistas locais, que tentaram encontrar um modo de trabalho mais de acordo com a sua realidade”, afirmou António Pinto Ribeiro, explicando o título da exposição. Nesta perspectiva, o núcleo inicial da exposição “é uma espécie da retaguarda mais importante dessa rebeldia”, apresentado de uma forma que “pretende marcar a diferença” entre a fase da ‘réplica’ e a evolução que resultou da ‘rebeldia’ dos artistas africanos face aos modelos impostos pelos europeus.

“O Primeiro de Janeiro”, 3.07.2006

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«Réplica e Rebeldia» mostra arte contemporânea

Esta exposição, cujo critério deselecção esteve a cargo de Pinto Ribeiro, reúne 70 obras de artistas que correspondem à retaguarda da história contemporânea de Angola, Moçambique,
Cabo-Verde e Brasil.

Produzida e encomendada pelo Instituto Camões, numa lógica de cooperação artística internacional, «Réplica e Rebeldia» integra imagens artísticas dos criadores angolanos Victor Teixeira (Viteix) 1, Fernando Alvim 2, António Ole 3, Tiago Borges 4 e Yonamine 5, que por meio de quadros, instalações, esculturas, vídeo, fotografia e desenho poderão mostrar, através da arte, alguns dos meandros da história de Angola.

“Tantã Cultural” nº 220, 29.Junho/5.Julho.2006

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para saber Mais:
na caixa de Busca do portal
artafrica seleccione o nome do artista.

1 de julho de 2006

Protecção das Línguas "Nacionais"




Legislação de protecção de línguas nacionais deve obedecer a diversidade cultural


O jurista angolano João Pinto manifestou-se a favor da criação de uma legislação sobre a protecção jurídica das línguas nacionais que tenha em conta a sua diversidade cultural no país.

Este pensamento de João Pinto foi manifesto durante uma palestra sobre "Protecção Jurídica das Línguas Nacionais", promovida pelo Ministério da Cultura, em alusão à realização do III Simpósio de Cultura Nacional, no mês de Setembro.

Segundo ele, proteger as línguas nacionais é defender a história de um povo, por isso deve traçar-se estratégias de equilíbrio, para que constem em tal legislação, para as valorizar sem alguma influência política.

"O problema das línguas nacionais tem a ver com consolidação de um Estado de direito, assente na identidade do seu povo, dado a isso, a legislação relativa a esta problemática deve promover o conhecimento e o estudo destes idiomas sem preconceitos" - referiu.

João Pinto disse que se afigura preocupante quando em certas repartições administrativas e relações entre indivíduos, os falantes da língua nacional são nalguns casos menosprezados, por não se expressarem em português.

Isto é um erro fatal, porque, de acordo com ele, por mais que queiramos nos tornar portugueses ou ingleses não será possível, dado que entranhamos uma cultura africana e em particular angolana.

"Devemos sim, na actualidade, compreender o outro que não se expressa em língua portuguesa ou se o faz, mal, dentro do princípio da solidariedade cultural, que se pode extrair da leitura do artigo 7º da Lei Constitucional" - mencionou.

O jurista apontou que este artigo sétimo da constituição, conjugado com o artigo 18º, igualmente da Lei Constitucional, apela à igualdade de todos os indivíduos sem distinção da cor, raça ou cultural, daí que devemos elaborar uma lei de protecção das línguas nacionais, para conformar a diversidade linguística e cultural do país.

No entanto, o linguista José Pedro discordou da definição dada por João Pinto de que a língua é um meio de exteriorizar o sentir e o estar do homem, porque, para ele, é sim um instrumento de comunicação.

José Pedro, porém, corrobora com o resto da tese defendida por João Pinto, quando dá ênfase à protecção das línguas nacionais, já que a maioria da população angolana utiliza, como instrumento de comunicação, a língua de origem Bantu (falada, em África, entre o Sul dos Camarões à África do Sul).

"É necessário realmente equilíbrio linguístico, pois não há línguas superiores, pois todas são iguais e ao ser escritas recorre-se ao alfabético fonético internacional" - asseverou.

Para a confusão quanto à definição do que é língua materna (é ou não aquela do país onde se nasce), esclareceu ser materna aquela que falamos pela primeira vez.

No caso de Angola pode ser o português ou as outras línguas.

Angop, 27.06.2006



1.
Já era tempo de se tratar este tema com a acuidade premente que a Cultura Angolana merece. Sei que estão a dar-se passos importantes nesse sentido. Era bom, no entanto, que o assunto fosse mais público do que tem sido até agora.

2.
Continuo a bater na questão, um tanto antiga e diversas vezes por mim aflorada, da terminologia “Línguas Nacionais”.
Na actualidade, contrariamente a teorias ultrapassados no tempo, considera-se Nação um agrupamento autónomo de indivíduos que ocupam um território definido, que se regem pelas mesmas leis, constituição e governo, independente da sua origem, raça, religião ou língua.
Portanto, Angola é uma Nação, política e sociologicamente falando. Não é, no entanto, uma “Nação Linguística”, se podemos tratar assim a questão. Não existe em Angola nenhuma “Língua Nacional”: há uma Língua Veicular - o Português – e várias Línguas Étnicas: Kikongo, Kimbundu, !Kung, Lunda-Tchokwe, Olunyanyeka, Tchielelo, Tchikwanyama, Tchiluba, Tchingangela, Umbundu, etc, etc.

3.
“No entanto, o linguista José Pedro discordou da definição dada por João Pinto de que a língua é um meio de exteriorizar o sentir e o estar do homem, porque, para ele, é sim um instrumento de comunicação.”
Quanto a mim a Língua não é apenas “um instrumento de comunicação”. Melhor dizendo: por ser isso mesmo – um instrumento de comunicação entre indivíduos – é também “um meio de exteriorizar o sentir e o estar do homem”, porque pela palavra e pela escrita, pela Língua, também se manifesta a cultura de um Povo, as suas características intrínsecas que o distinguem de outros – como a Literatura e a Tradição Oral, tão cara aos Povos de Angola.


admário costa lindo