Apontamentos que me suscita a leitura do estudo
Retornados: Identidades de Um Grupo (In)Conformado
Estudo de Cláudia Sofia Pinto e Susana Faria
Orientado por Dr. João Arriscado Nunes
Seminário de Investigação em Sociologia da Cultura –
Setembro de 1996´
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Descarregue o estudo aqui.
1. Retornados e
Refugiados.
[---] ” a
investigação que nos propomos realizar, tomará como objecto os retornados das
ex-colónias ultramarinas, conceptualmente definidos como: todos os
indivíduos que, tendo nascido em Portugal, construíram as suas vidas nas
colónias portuguesas e foram obrigados a regressar após a sua independência. Para além desta população analisaremos
também a segunda geração de retornados, ou seja: os filhos da primeira
geração que, tendo nascido em África,
regressaram (1) a Portugal com
os seus pais, sendo ainda crianças ou adolescentes.”
(1)
Há aqui uma incorrecção referente à segunda geração: como pode alguém regressar a um lugar de onde não é natural?
Há aqui uma incorrecção referente à segunda geração: como pode alguém regressar a um lugar de onde não é natural?
“Porque se se
dirigissem a mim como retornada, eu dizia-lhe imediatamente: «Meu caro senhor
ou minha cara senhora, está plenamente enganada, porque eu retornada não sou
coisíssima nenhuma. O mais que posso ser é uma exilada ou uma refugiada. Agora,
retornada não sou!»” (entrevistada do estudo).
2. Milionários exploradores de negros.
“Inicialmente,
o 25 de Abril de 74 trazia promessas de democracia e liberdade que iam ao
encontro dos sentimentos separatistas em relação à metrópole. Contudo, os
colonos insurgiram-se contra o rumo dos acontecimentos quando o governo de
Angola foi entregue à maioria africana. De facto, as alternativas de uma
federação entre Portugal e as colónias, bem como a de uma transição lenta e
gradual para a liberdade não resistiram à pressão do MPLA, FNLA e FRELIMO. Começa
então a avolumar-se entre a comunidade dos colonos um sentimento antiportuguês,
especialmente visível entre os jovens, que assume a forma de aversão para todo
um povo, o qual acusam de os ter abandonado à sua sorte. Para com o Governo, a
antipatia remonta às suas intromissões na vida da colónia. Relativamente aos militares,
são acusados de ter pouco interesse em acabar com a guerra colonial dados os
privilégios que esta lhes proporcionava.(2) O 25 de Abril de 74 e o consequente programa de descolonização só vêm
aumentar esta aversão. Por fim, o colono português descobre um sentimento entre
a gente portuguesa que lhe é pouco favorável e que resulta da imagem do colono
como um milionário ou explorador de negros indefesos,(3) não olhando com muita simpatia o seu irmão
que regressa do além-mar.”
“Quando chegámos
fomos muito hostilizados. O retornado foi muito hostilizado. Tanto que muitos
não conseguiram permanecer aqui e foram para o Brasil, para a Venezuela, para
muitos lados, e não quiseram ficar cá.” (entrevistado do estudo).
“Eu também
não falava dessas coisas, é o que o meu marido diz, só vale a pena falar de
retornados com pessoas que nos compreendam, que tenham tido a mesma vivência e
os mesmos problemas. Esses compreendem! Agora falar disso com outras pessoas
que não têm essas vivências é como estar a «malhar em ferro frio», não vale a
pena!” (entrevistada do estudo).
(2)
Os privilégios dos militares portugueses, o que levou ao prolongamento
da guerra, são a razão principal de inexistência de um exército genuinamente
Angolano, Moçambicano, Guineense, etc., à data do 25 de Abril. Na minha óptica,
a falta desse exército foi a causa da não imposição, por quem o deveria ter
feito – o exército português –, do cumprimento dos acordos de independência
celebrados entre o governo português e os movimentos de libertação.
(3)
Havia exploradores, claro, só assim se justificavam as colónias. Mas o
grosso dessa riqueza, dessa exploração, verdadeiramente, nem sequer ficava com
os colonos em África – não era deles: vinha para a metrópole (coisa que muitos
ignoraram mas que dela beneficiaram) e ia para as contas dos milionários, fora
de Portugal e de África. Esses, os milionários das colónias, alguns dos quais
poucas vezes puseram os pés em África, nunca foram enxovalhados pela população
portuguesa. Estavam longe! Não tiveram necessidade de enviar caixotes com
tachos e panelas para Portugal!
3. Tentar os
caminhos da paz e da harmonia, com quem?
“No caso
angolano, o grande êxodo seguiu-se aos incidentes entre o MPLA e a FNLA em
Junho de 75. A comunidade portuguesa, ignorando os apelos da Comissão Nacional de
Defesa para que ali permanecessem, exigiu
ao governo português a sua evacuação imediata para Portugal ou para qualquer
parte do mundo onde pudessem refazer a sua vida.”
[…]
“Só quando se
começa a ouvir falar que o número de retornados se aproxima já de meio milhão é
que o governo português se começa a preocupar com o seu levantamento
estatístico, bem como com as inevitáveis consequências económicas e sociais que
resultariam de um súbito aumento do número de desempregados. O Governo apela
então a todos aqueles que pensavam retornar a Portugal que repensassem a sua
decisão e se possível voltassem às ex-colónias tentando os caminhos da paz e da
harmonia.” (4)
(4)
Porém, “os caminhos da paz e da harmonia” não dependiam apenas da vontade dos retornados.
Porém, “os caminhos da paz e da harmonia” não dependiam apenas da vontade dos retornados.
“Camarada
Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para
aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a
fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças,
as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão
à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir.”
O que se transcreve faz parte de uma carta oriunda
da Repartição do Gabinete do Governo-Geral de Angola, datada de 22 de Dezembro
de 1974 e assinada pelo Vice-Almirante António Alva Rosa Coutinho.
A veracidade desta carta (ou do facto de ter sido
escrita por Rosa Coutinho) é contestada, nomeadamente, por Pacheco Pereira
no Abrupto.
Não obstante, é citada por Américo Cardoso Botelho
no seu livro – “Holocausto em Angola, Memórias
de entre o cárcere e o cemitério”, Nova Vega, Lisboa, 2007”, pp. 61-62 – e, que me pareça, Pacheco Pereira não é pessoa
mais séria do que Botelho, por fazer aquela afirmação, nem Botelho é menos
sério por incluir a carta no livro.
Seja como for, a verdade é que:
a) não
tenho memória de Rosa Coutinho ter contestado a carta (ele que sempre se
assumiu como irascível arauto da verdade – sua! – e defensor dos explorados);
b) que
o papel de Rosa Coutinho na descolonização é bem conhecido, principalmente por
quem vivia em Angola na altura;
c) que
tudo aquilo que era aconselhado a Agostinho Neto, na carta, escrita por quem
quer que tenha sido, aconteceu na verdade. Eu próprio sou disso testemunha.
Isto, no entanto, não imputa
culpas directas a Agostinho Neto. Sobre esta questão – das culpas – darei a
minha opinião em artigo separado mas, desde já, avanço um pouco: não foram
responsáveis pela “catástrofe” da descolonização , apenas ou maioritariamente,
os responsáveis angolanos. A questão fulcral é muito anterior.
4. Melhor do que o
governo, a família.
“Segundo este
estudo, uma das razões que terá facilitado a integração desta população terá
sido a persistência durante e sua estadia em África de inúmeros vínculos para
com a Metrópole, nomeadamente, vínculos de carácter familiar.”
[…]
Terá sido
devido a estes factores de carácter não-económico que os retornados se
instalaram maioritariamente nas regiões de Portugal onde viviam as suas
famílias. Esta estratégia de “retorno às origens” prende-se com a procura de
apoio nos momentos que se seguiram ao retorno, apoio este de carácter
relacional, cultural e afectivo e que parece ter sido mais importante do que o fornecido pelas entidades governamentais.”
5. Comunidade autónoma.
“Relativamente
à questão da integração dos retornados do ultramar este autor [Rui Pena
Pires, “Os Retornados: Um Estudo Sociográfico”, Cadernos IED - Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento, Lisboa, 1984] salienta ainda que, apesar de existirem entre eles cumplicidade e
solidariedades de vários tipos, elas apresentam um carácter relativamente
pontual, não se constituindo portanto como uma verdadeira comunidade autónoma.
(5) Tal não significa a inexistência de casos em que a fragilidade das
solidariedades familiares e locais foi parcialmente compensada pelo
desenvolvimento de relações mais intensas entre os retornados, criando
condições favoráveis à emergência de referentes de identidade colectiva.”
(5)
A minha experiência diz-me o contrário: que os retornados se constituíram, não obstante a integração, uma verdadeira “comunidade autónoma”, muito embora não haja apetência dos órgãos de comunicação social pelos seus movimentos de encontros, físicos (reuniões anuais de retornados pelo país fora) e virtuais (na internet, em canais próprios ou no Facebook e outros).
A minha experiência diz-me o contrário: que os retornados se constituíram, não obstante a integração, uma verdadeira “comunidade autónoma”, muito embora não haja apetência dos órgãos de comunicação social pelos seus movimentos de encontros, físicos (reuniões anuais de retornados pelo país fora) e virtuais (na internet, em canais próprios ou no Facebook e outros).
Não queiram que esses encontros sejam reuniões bolorentas entre
governantes para se congratularem pelas medidas (sempre acertadas) que tomaram
em relação ao futuro défice do país. Não, esses encontros servem apenas para conservar e estreitar laços que se trouxeram de
África ou que, entretanto, se criaram por cá.
“Olhe,
aqueles encontros de retornados, eu numa
1ª fase nunca lá fui” (…) Eu não tenho muito feitio para o choradinho e
estou convencida que aquelas reuniões no princípio era um bocadinho o chorar o
leite derramado! E eu não estava para aí virada! Estava a apontar para o futuro
e para construir uma vida nova, e era aquilo que eu tinha que fazer!” (entrevistada
do estudo).
Contrariamente ao que muita gente pensa (alguns retornados incluídos),
os encontros de retornados não são, hoje, reuniões de “choradinho” nem se
destinam a “chorar o leite derramado”. São encontros “banais”, como quaisquer
outros, entre pessoas que mantêm afinidades e que querem conservá-las. Poderiam
ser encontros entre professores do mesmo curso ou da mesma escola, entre
pessoas que viveram na Aldeia da Luz, que foi submersa, poderiam ser encontros
de antigos alunos de uma escola que já não existe, mas não são: são encontros
entre pessoas – ou grupos, heterogéneos embora - que sofreram um estigma comum,
que ultrapassaram as dificuldades e que construíram o futuro sem, no entanto,
deixar de olhar para o passado. Porque essas, as pessoas que avançam para o
futuro tendo em conta o passado, que não esquecem o que foram e o que sofreram,
sabem sempre para onde vão. Aprenderam com a experiência a ser uma “comunidade”
forte.
Não é possível negar que, no início (eu também não fui adepto desses
primeiros encontros – comecei a frequentar alguns a partir de 1999, e muita coisa
apreendi dessas reuniões passadas) se
tentava apenas vazar uma frustração e apenas se pretendia “chorar sobre o
leite derramado”. Alguns dos retornados tinham culpas, directas ou indirectas,
sobre esse derramamento de leite (melhor, de sangue).
Porém, como o tempo é, sempre, o melhor conselheiro, as coisas foram
mudando, as pessoas também e quem protestava por não ter podido trazer Angola
às costas ou em caixotes, resignou-se. Com
o correr do tempo, concluindo que nada conseguiam dessa forma (nem de outras),
alguns foram abandonando os encontros e houve uma selecção natural das posições
e opiniões.
Conheço muito boa gente que não pensa hoje da mesma forma que pensava
em 1975 e que reconhece haver culpas repartidas. Para essa mudança de atitude,
penso eu, muito contribuíram os tais encontros de angolanos e a amálgama de opiniões
de grupos tão heterogéneos.
Há também os que não mudaram e que, como alguns dos “metropolitanos”,
consideram ainda que toda a culpa deve ser imputada ao 25 de Abril, aos capitães,
ao Mário Soares, ao Almeida Santos, ao Melo Antunes… enfim, esses são os casos
perdidos.
A internet, por outro lado, permitiu o encontro virtual de inúmeros
retornados e refugiados espalhados pelo mundo. Se todos fizessem o mesmo, penso
que o mundo seria bem melhor: conversam, contam histórias de filhos e netos,
escrevem poemas, falam da música que ouvem, dos filmes a que assistem, riem e
choram, e recordam o passado, o que não é crime algum. E, principalmente,
aprendem uns com os outros a rever o
que se passou. Basta aceder a alguns dos fóruns angolanos na internet, para confirmar
a evolução do pensamento dos retornados
6. Mesmo assim, com melhor formação.
“Quanto à formação escolar, o Censo de 1981 revela que a população de
retornados apresenta qualificações acima da média o que parece dever-se ao
acelerado crescimento económico e à necessidade que o Estado português sentiu,
com o início da Guerra Colonial, de expandir o aparelho administrativo nas
colónias e proceder à criação de novos serviços públicos como forma de
legitimar interna e internacionalmente a sua presença nos territórios
ultramarinos.” (6)
(6)
Não obstante, a maioria dos jovens que vieram de Angola não tiveram todos a mesma sorte, no que à educação diz respeito.
Não obstante, a maioria dos jovens que vieram de Angola não tiveram todos a mesma sorte, no que à educação diz respeito.
O caso da minha geração: o acesso ao ensino em Porto Alexandre/Tombua,
onde passei a infância, a adolescência e parte da juventude, como na quase totalidade
do território angolano, a educação intermédia e superior era apenas para ricos.
Isto para a população de origem europeia, porque para os africanos não era,
sequer, equacionável.
Em Porto Alexandre, quando entrei para o ensino primário, havia apenas
uma escola oficial desse tipo e um Colégio que ministrava o ensino secundário, propriedade
da Igreja Católica. Uma Escola Comercial, oficial, foi inaugurada muito perto
da ocorrência do 25 de Abril. Terminado o ensino secundário, naquele Colégio
não oficial - o que nos obrigava a prestar provas num estabelecimento oficial,
na capital do distrito - nenhuma hipótese havia de continuar os estudos na
localidade. Só quem tinha condições económicas folgadas podia mandar os filhos estudar
fora: numa capital de distrito, o ensino intermédio, ou em Luanda, o ensino
superior. O meu pai, que tinha que sustentar três filhos, não tinha essas
condições. Ganhava 6.000$00 por mês, em 1974, um pouco mais do que eu comecei a
auferir quando fui admitido no funcionalismo público – algo mais de 5.000$00.
Este caso não era a excepção – era a regra.
O facto de o Censo de 1981 revelar “que a população de retornados
apresenta qualificações acima da média” só comprova que o povo em Portugal vivia
em condições miseráveis. Do que não se pode aferir que em África fosse muito
melhor. Na educação, aquilo de que acabei de tratar.
7. Contribuição para
a mudança cultural de Portugal.
“Uma das
principais razões que nos leva a considerar o retorno como de extrema
importância é a consequente inclusão na sociedade portuguesa de um grande
número de indivíduos com trajectórias muito distintas das que caracterizavam a
grande maioria dos portugueses e que naturalmente veio introduzir nela novos
saberes, estilos de vida e valores. De facto, as sociedades coloniais
apresentavam traços particulares que possibilitaram: a emergência de percursos
de mobilidade ascendente; a atenuação de alguns constrangimentos morais de
origem tradicional, associados ao controlo social da vida quotidiana; e o
contacto directo com civilizações diferentes da europeia e da ocidental. Ao
nível das consequências do retorno para a sociedade portuguesa, estas particularidades
contribuíram para: uma recomposição das hierarquias sociais; uma maior
liberalização dos costumes; a adopção de novas orientações estéticas e novos
usos da linguagem; bem como para a incidência de novos valores e
comportamentos.” (7)
“Eu digo-te
uma coisa com toda a verdade. Eu tenho para mim como ponto de honra, não
admitir nenhum hábito, mas nenhum hábito que seja de Portugal continental! (…)
Por conseguinte, não uso a linguagem que usam cá” Não quero usar a linguagem
que usam cá!” (entrevistado do estudo).
“[…] os
nossos entrevistados utilizaram diversas vezes termos angolanos ou
moçambicanos, cujo significado tiveram que explicar por não existirem termos
equivalentes em português. Retomando a questão da comunidade interpretativa, os
retornados entre si utilizam uma linguagem carregada de representações de
determinada realidade que não tem equivalente em Portugal e portanto têm alguma
dificuldade em explicar o seu significado […]”
“A restinga era uma zona muito bonita, era uma ponta de
areia… O que é uma restinga? É uma
entrada de areia pelo mar, que forma uma restinga. Aquilo era comprido, tinha uns 10 Km de comprimento, onde ficavam
praias bonitas. Portanto, o Lobito formava ali uma baía onde o mar entrava, era
o porto e depois era tudo praias muito bonitas, com casuarinas, uma espécie de pinheiros que não há cá, do
género do pinheiro manso, mas não tão farfalhudo, mais levezinho!” (entrevistado
do estudo).
(7)
É ponto definitivamente aceite que os retornados trouxeram uma linguagem nova para Portugal. Uma linguagem mais aberta e criativa.
É ponto definitivamente aceite que os retornados trouxeram uma linguagem nova para Portugal. Uma linguagem mais aberta e criativa.
Os exemplos acima referidos não são, no entanto, os
melhores:
Restinga, uma “faixa de areia ou de
pedra que se prende ao litoral e avança pelo mar”, é um termo provavelmente de
origem castelhana que entrou para o léxico português no séc. XV. Cf. HOUAISS, António
e VILLAR, Mauro de Salles, Instituto António Houaiss, “Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa”, Global Notícias Publicações, Lisboa, 2005.
Casuarina é “design. comum às
árvores do gén. Casuarina, da fam.
das casuarináceas, que reúne 17 spp., nativas do Sudoeste da Ásia às ilhas do
Oeste do Pacífico e ger. cultivadas como quebra-vento, pela madeiram ou como
ornamentais (cf. o.c.). A designação deve-se ao facto de algumas espécies
apresentarem a copa semelhante à plumagem do casuar, ave corredora australiana.
Já encontrei casuarinas no Algarve e sei que é uma árvore ornamental apreciada
em Espanha.
Estas palavras não são, então, especificamente
angolanas, embora lá muito utilizadas. Mas também o verbo Desconseguir é muito angolano no uso, mas não na origem. Há, até,
quem pense, em Portugal, ser uma das expressões criativas dos angolanos quando
é absolutamente portuguesa, embora não usada pelos portugueses.
Outras palavras (e são inúmeras no léxico
português) no entanto, são consideradas tão puramente portuguesas que muito
pouca gente sabe que a sua origem é angolana:
Coxilar –
que prefiro a cochilar – deriva do verbo kimbundu Kukoxila, cabecear com sono;
Minhoca,
o verme anelídeo, deriva do kimbundu Munhoka,
semelhante à cobra;
Cachimbo
– caximbo estaria bem melhor – aquele aparelho de alguns fumadores, deriva do
kimbundu Kuxiba, absorver, chupar,
sorver.
Quanto ao léxico por aqui me fico, uma vez que com bués, buererés e cambas já os
portugueses estão familiarizados. Ah! Mas já agora também vos digo que a Dica (palpite), importada por Portugal via
Brasil, é também uma adaptação do kimbundu Dika!
29.01.2013
1 comentário:
Só hoje acabei de ler com a atençaõ que merecia. Obrigada, Admário - embora não concordando integralmente com tudo, tem a tua marca: honesto, frontal, bem escrito. Abraço
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