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4 de junho de 2008
Candidatura Luso-Galega a Património da Humanidade
É impressionante a quantidade de milhões de euros que se gastam, num país a braços com uma crise (demasiado) prolongada, com a promoção de eventos que se promovem por si próprios.
Eu sei que, em alturas determinadas, há sempre aqueles que aproveitam certas situações para aumentar a conta bancária pessoal, inventando necessidades ilusórias. Mas digam-me qual é a necessidade de um gasto tão milionário na promoção, por exemplo, do campeonato europeu de futebol, Euro 2008? Será que os amantes do desporto, particularmente do futebol, não sabem o que se passa? Ah!, já sabia!
E sabia que em 2005 a “Associação Cultural e Pedagógica Ponte… nas Ondas” promoveu a Candidatura Multinacional de Património Imaterial Galego-Português e concorreu à III Proclamação das Obras-Primas do Património Oral e Imaterial da Humanidade (Masterpiece of Oral and Intangible Heritage of Humanity), que se decidiu em Julho daquele ano?
Não sabia? Pois essa Candidatura aconteceu, na verdade!
E sabia que, não obstante todo o esforço posto ao serviço da Candidatura, a proposta não foi escolhida pela UNESCO por apresentar uma lista de património muito vasto?
Também não sabia? Pois a Candidatura refere “as tradições orais galego-portuguesas, reporta-se a uma marca distintiva das expressões culturais das regiões do Norte de Portugal e da Galiza (Espanha), que as caracteriza como uma unidade de práticas sociais e simbólicas, de que a tradição oral é uma manifestação original […] alia-a às manifestações materiais e simbólicas no Noroeste Peninsular porque nela encontram sentido e têm origem as comunidades humanas aqui residentes e que têm consciência da importância deste mundo da oralidade na construção da sua identidade cultural. […] A excepcionalidade desta candidatura reside no facto de ela ser testemunho de um passado e de um presente que ultrapassa as barreiras políticas, através do sentimento de pertença a uma cultura comum posta em causa por alguns ditames da história e pelas transformações da sociedade contemporânea e de que a experiência de novos contactos reavivou e exigiu a salvaguarda. “
E sabia que em Setembro de 2008 a Unesco, em reunião realizada em Tóquio, decidiu abrir o processo para nova inscrição e que o seu Director, Kochiro Maatsura, se tem mostrado muito empenhado e tem insistido na nossa recandidatura, prova de que a proposta de 2005 não foi em vão e mostrou a sua importância e viabilidade?
Pois, não sabia, que pena!
“Desde então, Ponte...nas ondas! coordenada por um grupo de especialistas de universidades galegas e portuguesas continuou a trabalhar na reformulação do dossier da Candidatura do Património Imaterial Galego-Português, de acordo com as sugestões feitas, na altura, pela própria Unesco.
“Esta reformulação foi já remetida ao Ministério de Cultura de Portugal para a submeter à sua aprovação, para que a proposta seja enviada, depois de aprovada pelos dois governos, para a Divisão de Património Imaterial antes de 30 de Agosto deste ano e possa concorrer às inscrições na Lista Representativa do Património Imaterial que a Unesco tornará pública em Setembro de 2009.”
A Ponte… nas Ondas, em Março do corrente ano, pediu uma audiência ao ministro da Cultura de Portugal, José António Pinto Ribeiro. O Jornal de Notícias (JN) refere hoje que, quase TRÊS MESES DEPOIS, na ausência de resposta “o investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Alexandre Parafita e os deputados do PSD eleitos por Bragança manifestaram preocupação por temer que o Norte de Portugal pudesse ficar arredado da candidatura.” E sabe-se que o prazo para a apresentação da candidatura termina no próximo dia 30 de Agosto.
À boa maneira portuguesa o Ministério da Cultura diz que “já foram dadas instruções ao Instituto dos Museus e da Conservação, entidade que tem competências na área do património imaterial, para receber em audiência a associação Ponte… nas Ondas.” E informou dessas instruções a associação?
“Ainda não foi definida uma data para o encontro, mas vai acontecer em breve" (JN). A confiarmos no sentido de brevidade do Governo, nem o pai morre nem a família almoça.
Para terminar, como não há bela sem senão, ou como tantas vezes se esconde o gato com o rabo de fora, atentem no primeiro parágrafo da notícia do JN:
“O Ministério da Cultura mostrou interesse em acompanhar e, eventualmente, apoiar uma candidatura luso-galaica à lista representativa do Património Imaterial da Humanidade da Unesco. A garantia foi dada ao JN por fonte ministerial.”
admário costa lindo
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