Mário Soares, retrato oficial por Júlio Pomar
Morreu Mário Soares, o presidente da Liberdade, como lhe chamou o Jornal de Notícias.
Mário Alberto Nobre Lopes Soares nasceu a 7 de Dezembro de 1924 em Lisboa, segundo filho do antigo sacerdote, professor e pedagogo, que foi Ministro das Colónias na Primeira República, João Lopes Soares, natural de Leiria e de Elisa Nobre Baptista, professora da instrução primária,natural de Santarém.
Foi casado com Maria Barroso, pai de João Barroso Soares e de Isabel Barroso Soares, bem como tio paterno por afinidade do cronista e antigo deputado e secretário de Estado Alfredo Barroso e tio materno por afinidade do cineasta Mário Barroso (chamado Mário Alberto em sua homenagem e de quem é padrinho) do médico-cirurgião Eduardo Barroso e da bailarina Graça Barroso.
Foi advogado e professor do ensino secundário privado. Dirigiu o Colégio Moderno, fundado por seu pai.
Defendeu presos políticos, participando em numerosos julgamentos no Tribunal Plenário e no Tribunal Militar. Representou Álvaro Cunhal, acusado de crimes políticos e a família de Humberto Delgado, na investigação do seu assassinato. Com Adelino da Palma Carlos defendeu a causa dinástica de Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança.
A sua actividade política iniciou-se nos grupos de oposição ao Estado Novo, actividade que o levaria à prisão por 12 vezes (cumpriu um total de cerca de três anos de cadeia) e levaria o governo de Salazar a deportá-lo para São Tomé, onde permaneceu até o governo de Marcello Caetano lhe permitir o exílio em França.
1943 – Adere ao Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF), estrutura ligada ao Partido Comunista Português (PCP), por influência de Álvaro Cunhal.
1946 – Integra a Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática (MUD), sob a presidência de Mário de Azevedo Gomes. É co-fundador do MUD Juvenil e membro da sua primeira Comissão Central.
1949, 22 de Fevereiro - Casa-se na prisão, com registo na 3.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, com Maria Barroso.
1949 – É secretário da Comissão Central da candidatura do general Norton de Matos à Presidência da República.
1951 – Licencia-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
1955 – Afasta-se do PCP e funda a Resistência Republicana e Socialista, reunindo aí outros elementos vindos do PCP (como Fernando Piteira Santos, expulso do PCP em 1949), da União Socialista (como Manuel Mendes, antigo militante do MUD Juvenil), Gustavo Soromenho, Ramos da Costa, José Ribeiro dos Santos, Teófilo Carvalho Santos, José Magalhães Godinho e outros.
1956 – em nome da Resistência Republicana e Socialista e a convite de Armando Adão e Silva entra para o Directório Democrato-Social, de que faziam parte António Sérgio, Jaime Cortesão e Azevedo Gomes.
1957 – Licencia-se em Direito, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
1958 – Pertence à comissão da candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República.
1961 – É redactor e signatário do Programa para a Democratização da República.
1965 - Candidata-se a deputado à Assembleia Nacional do Estado Novo, nas listas da Oposição Democrática, pela Comissão Democrática Eleitoral (CDE).
1968 – É deportado, sem julgamento, para a ilha de S. Tomé, pelo governo de Salazar.
1969 - Candidata-se a deputado à Assembleia Nacional do Estado Novo, nas listas da Oposição Democrática, pela Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD).
1970 – Exila-se em França. Durante o período de exílo (1970-1974) é chargé de cours nas universidades de Paris VIII (Vincennes) e Paris IV (Sorbonne) e professor convidado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha, em Rennes, que mais tarde lhe atribui o grau de Doutor Honoris Causa.
1972 – Ainda durante o exílio vai à loja maçónica parisiense "Les Compagnons Ardents", da "Grande Loge de France", pedir apoio para a luta política contra o Estado Novo e ingressa na maçonaria, segundo ele próprio, optando depois por ficar "adormecido".
1973, 19 de Abril - Exilado em França, funda, com outros camaradas, o Partido Socialista Português.
1974, 28 de Abril – regressa a Portugal, no chamado "Comboio da Liberdade", na sequência da Revolução de 25 de Abril.
1974, Março – É nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros, cargo que exerce até Março de 1975; impulsiona a independência das colónias portuguesas, sendo responsável por parte desse processo.
1975, 25 de Abril – PS Ganha as eleições para a Assembleia Constituinte.
1976, 23 de Julho – É nomeado 105º Primeiro-Ministro de Portugal, no I Governo Constitucional. Sucedeu a Vasco de Almeida e Costa (nomeado interinamente) e antecedeu Alfredo Nobre da Costa.
1977, Março – Inicia a colaboração no processo de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE)-
1978, 23 de Janeiro - É o Chefe do II Governo Constitucional. A formação do Governo resultou de um acordo de incidência parlamentar entre o Partido Socialista (PS) e o Centro Democrático Social (CDS). Exerceu o cargo até 28 de Agosto de 1978, na sequência de desentendimentos entre os dois partidos.
1983, 9 de Junho – É o 112º Primeiro-Ministro de Portugal, Chefe do IX Governo Constitucional. A formação do Governo resultou de um acordo de incidência parlamentar entre o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD), com base nos resultados das eleições legislativas de 1983. Sucedeu a Francisco Pinto Balsemão e antecedeu Aníbal Cavaco Silva. Exerceu o cargo até 6 de Novembro de 1985.
1985, 12 de Julho - Subscreve, como primeiro-ministro, o Tratado de Adesão à CEE.
1986, 8 de Março – É eleito 17º Presidente da República Portuguesa (1.º mandato de 10 de Março de 1986 a 1991, 2.º mandato de 13 de Janeiro de 1991 a 1996). Sucedeu a Ramalho Eanes e antecedeu Jorge Sampaio. Exerceu o cargo até 9 de Março de 1996.
1987, 21 Janeiro – Recebe, das mãos do rei da Suécia, a medalha de Cavaleiro da Ordem Real do Serafim.
1991 - Inaugura a Fundação Mário Soares.
1995, Dezembro - Assume a presidência da Comissão Mundial Independente Sobre os Oceanos.
1997, Setembro - É escolhido para a presidência do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água.
No mesmo ano assume a presidência da Fundação Portugal África — fundada pelo Banco de Fomento e Exterior (posteriormente integrado no Banco Português de Investimento) — e a presidência do Movimento Europeu Internacional (MEI), uma ONGD cuja fundação remonta ao pós-Segunda Grande Guerra e que impulsionou da fundação do Conselho da Europa, em 1949.
1999 - três anos depois de terminar o seu mandato como Presidente do MEI, Mário Soares é o cabeça-de-lista do PS às eleições europeias. Uma vez eleito é logo de seguida candidato a presidente do Parlamento Europeu, mas perde a eleição para Nicole Fontaine, a quem não tem pejo em afirmar que tem «um discurso de dona de casa», no sentido pejorativo do termo.
2005, 22 de Fevereiro – Soares surpreende o país ao aceitar um regresso à disputa pelo cargo de Presidente da República. O motivo da sua entrada na corrida é nem mais nem menos do que impedir que José Sócrates, então secretário-geral do PS tivesse de apoiar o candidato Manuel Alegre, após algumas crispações deste histórico do PS com as hostes do seu próprio partido. Soares obtém apenas o terceiro lugar, com 14% dos votos, ficando inclusive atrás da candidatura (que acabou por não ter apoio partidário) de Manuel Alegre. Aníbal Cavaco Silva vence as eleições com maioria absoluta.
2007 – É nomeado presidente da Comissão de Liberdade Religiosa.
2009 – É patrono do International Ocean Institute, cargo que exerce até à sua morte.
2010 - Preside ao Júri do Prémio Félix Houphouët-Boigny, da UNESCO.
2010, 11 de Outubro - Recebe o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa aquando das comemorações do seu centenário, coincidindo com as comemorações do centenário da República Portuguesa (5 de Outubro).
2013 - Com 89 anos, é eleito a personalidade do ano,pela imprensa estrangeira, radicada em Portugal.
2016, 25 de Abril - Recebe a chave da cidade de Lisboa, do presidente da CML, Fernando Medina, a mais alta distinção atribuída pelo município a personalidades com relevância nacional e internacional.
2017, 7 de Janeiro – Falece, às 15h28m, aos 92 anos de idade, no Hospital da Cruz Vermelha, em São Domingos de Benfica, Lisboa, depois de ter estado mais de duas semanas internado em coma profundo.
a descolonização
Embora Mário Soares não tenha sido o único fautor do processo de descolonização e, não obstante, tenha afirmado que a "Descolonização foi óptima", o seu retrato no caso ficou, para os retornados, muito desfocado.
A sua declaração ao Der Spiegel, então, foi, para eles, hedionda:
"Portanto, se necessário, o exército português fará fogo sobre portugueses brancos?"
"Ele não hesitará e não pode hesitar. O exército já mostrou que tem mão forte e quer manter a ordem a todo o custo."
Esse mesmo exército só não teve "mão forte", "não quis manter a ordem a todo o custo" e não disparou contra os desmandados da FNLA, MPLA e UNITA, quando estes puseram Luanda a ferro e fogo.
Os retornados não perdoam a Mário Soares que, na Cimeira de Alvor, não tenha estado nenhum representante dos portugueses radicados em África (e portugueses nascidos em África, seus descendentes), que, durante o processo de descolonização a sua segurança tenha sido deixada ao deus-dará (muitos portugueses foram chacinados antes da independência de Angola e Moçambique) e não terem sido acautelados os seus haveres. Para Portugal, os retornados apenas trouxeram alguns caixotes com "tachos e panelas".
Fontes:
Sem comentários:
Enviar um comentário