ou Pura Filosofia
a Excepção
1. A Amnistia Internacional (AI) voltou a incluir Portugal no seu relatório anual. Segundo este organismo (referindo dados fornecidos pelo Governo Português) 39 mulheres foram mortas pelos maridos ou companheiros durante o ano de 2007. E são apenas os dados conhecidos e apurados de facto.
Aqueles que espancam, por vezes até à morte, mulheres (e também crianças, é bom lembrar) julgam-se civilizados e riem-se alarvemente quando, refastelados no sofá em frente a um televisor com uma bejeca na mão, comentam documentários sobre povos do dito “terceiro mundo” escarnecendo-os pelo simples facto de a sua cultura apresentar ritos e situações consideradas (por eles, “civilizados”) aberrantes. E acham, do alto da sua purulenta “superioridade”, que matar uma companheira, mãe dos seus filhos as mais das vezes, não é uma aberração. E a soçaite bate palmas porque andar por aí com um osso atravessado nos beiços não tá com nada! O que dá mesmo é matar de uma vez por todas.
Mentecapto é a palavra mais prazenteira que encontro para esses energúmenos .
2. A AI refere também que “as alegações de maus tratos por parte da polícia e subsequente impunidade dos envolvidos persistiram durante o ano de 2007”.
O Ministro da Administração Interna, sr. Rui Pereira, disse, a este respeito, que reafirma a sua “profunda confiança nas forças de segurança portuguesas, que têm um comportamento dedicado” e afirma “com toda a clareza, tal como me foi dito pela própria Amnistia que quaisquer comportamentos desviantes são a absoluta excepção e nunca a regra”.
Apetece-me parafrasear um cantor meu amigo: “Pois é, senhor Zé!”, não foi consigo nem com familiar seu.
Acho abominável quando os políticos tratam as pessoas como números ou regras gramaticais.
As excepções às regras gramaticais, Senhor Ministro, não fazem mossa. As excepções que o senhor refere magoam, maltratam e ferem, por vezes irreversivelmente, muitos cidadãos. E a revolta seria absolutamente a mesma se a excepção se referisse apenas a UMA pessoa.
Mas esta não é sensibilidade dos políticos que temos.
a Regra
A Regra, neste Estado super-liberal, é a subserviência do(s) Governo(s) face aos grandes Grupos Económicos. Neste caso sem Excepções.
Acho imensa graça (coitada da piada salutar!) quando oiço os comentadores políticos, da área económica, analisar a lengalenga do situacionismo (ressalvando algumas honrosas exclusões). As teorias que apresentam contravertem sempre as histórias da carochinha, aqui incluídas a do capuchinho vermelho, a dos três porquinhos e do lobo mau. Olha! Por coincidência aparece sempre um lobo. De quatro patas, que os há – e muitos – de duas apenas. Esses, sim, sãos os verdadeiros lobos das fábulas. E talvez seja por uma qualquer deficiência de discernimento humano que estes carnívoros estão em perigo de extinção, eles que não têm culpa absolutamente nenhuma do estado do planeta mas, antes, vítimas indefesas dos lobos-de-duas-patas.
Na infância ficávamos felizes porque os maus perdiam a contenda. Chegados à idade adulta verificamos que é mentira, os maus vencem sempre, nem que para tal seja necessário inverter a moral da história.
Fiquei a saber há dias, pela imprensa, que o Sr. Governo afirmou não haver hipóteses de sustentar ajudas à classe média. Mas das ajudas à classe alta não falou. Nunca, em tempo algum, se esclareceu o povo por que motivo, por exemplo, à Banca todo-poderosa, que apresenta lucros anuais pornográficos, se aplica uma taxa de IRC inferior aos demais contribuintes. Nunca se explicou por que motivo as gasolineiras constituíram um Cartel descarado na formação do preço dos combustíveis, sem que o Estado faça cumprir a Lei.
(parêntesis): Lei que é implacavelmente imposta às Organizações Não-Governamentais de ajuda aos desfavorecidos, às Sopas dos Pobres, obrigando-as a cumprir regras de acondicionamento idênticas à dos Restaurantes. Lei que acha (segundo uma entendida governamental) que é mais salutar para os pobres não comer nada do que tragar um pedaço de carne acondicionado num normal frigorífico caseiro.
É certo que o Governo já afirmou que irá chamar à Assembleia da República a Autoridade da Concorrência para explicações sobre os preços dos combustíveis. Mas, quando? Após o 30º ou o 50º aumento de preços? Ou será que ando eu distraído?
Após o 21º aumento de preço dos combustíveis a argumentação mudou de tom, precisamente porque se seguiu a uma baixa do preço do crude: a questão é que aquele que está nas refinarias ainda foi comprado ao preço anterior! “Pois é, Senhor Zé!” Mas aquando do primeiro aumento também havia muito crude à espera de refinação e o aumento aconteceu na mesma!
a Filosofia
A isto chama-se falta de vergonha!
Há quem ache que não, que é apenas pura Filosofia. E pergunto eu: mas que mal fez o homem, falecido há tantos séculos, para o desvirtuarem tão despudoradamente?
admário costa lindo