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30 de junho de 2007

Bazooka Joe

Na minha infância a ânsia na compra das xuingas não derivava apenas do supremo gozo de adocicar a salivação. Era maior o prazer de desvendar qual a tira de BD que nos iria caber do embrulho. A xuinga não seria doce, o sabor passaria despercebido, se nos calhasse uma tira repetida e, pior ainda, se não servisse a nenhum dos amigos, para troca. E, nacionalistas inconscientes, chamávamos-lhe Bazóka Jói, canhestros que éramos no linguajar do Sr Sam. Conhecíamos o Bazooka Joe, a roupa de fardo e o John Wayne. E gostávamos das três coisas, sem interiorizarmos a sua origem.

A vida correu e um dia destes o Bazooka Joe saltou das tiras e chegou a Portugal, de cheques em punho, disposto a comprar tudo: de governantes a centros culturais, de clubes de futebol a partidos políticos (não demora, descansem!). Disposto a conquistar Portugal coisa que ninguém conseguiu, até hoje, pela força de (outras) armas.

O Bazooka entaramela a língua sempre que necessita de se exprimir em português, como nós candengues fazíamos com o inglês. Mas tem, em contrapartida, a conta bancária recheada e comprou obras de arte a rodos, diz-se. Adquiriu também – e em conjunto com os quadros, estilo dois-em-um – uma indisfarçável gaguez intelectual: pensa que, com o acervo de quadros, possui bacharelato em Cultura. Mas não passa de um podre diabo e, pior ainda, convencido de ser Alguém. Há muito quem o venere mas desses sabemos nós a história toda.

Há, no entanto, alguém que o Bazooka não conseguiu comprar porque, sei-o eu e alguns mais, esse não está à venda. É uma daquelas pessoas que não necessita de acenar com a caderneta de cheques para provar quanto vale.

O facto de António Mega Ferreira se ter distanciado do Bazooka só abona a favor da nossa sanidade colectiva.

admário costa lindo

1 de junho de 2007

Dia da Criança

No Dia da Criança, para que os mais novos tenham uma ideia aproximada da evolução dos tempos, aqui deixo esta previsão:

Quando as crianças de hoje chegarem à idade da Reforma - e pelo andar da carruagem - a Lei da Segurança Social dirá, a certa altura do clausulado - o seguinte:


Artº X.


O Direito à Pensão de Reforma, salvo os casos de membros do Governo e do Poder Local, dos Tribunais, Presidência da República e restantes órgãos de soberania, bem como dos órgãos dirigentes dos partidos e sindicatos legitimamente reconhecidos pelo Estado, prescreve ao fim de 6 meses.

§ único. Os Pensionistas que, à data do termo deste direito, estejam ainda vivos, deverão requerer instrução de processo de Aplicação de Eutanásia para que o seu estado de vida se complete.


Alguns dirão que é de muito mau gosto, no dia dedicado à criança, apresentar tanto pessimismo, em lugar de organizar muitas festinhas com balões, chocolates, rebuçados e tudo.

Eu não embarco nessa! Enaltecer verdadeiramente a Vida que as Crianças têm pela frente, será fazer tudo para que esta situação seja, na verdade, de muito mau gosto.


admário costa lindo