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25 de janeiro de 2007

Requentado


Cheira-me a requentado.

Futebologicamente ando pelas bandas do 4X2X4. Já o meu amigo Nando é defensor acérrimo do 4X3X3. É bom de ver que não estamos sempre de acordo.

O nosso exercício de liberdade é a crítica mútua e a cada um daqueles sistemas. É um direito que nos assiste por vivermos num Estado de Direito, Democrático.

Eu digo mais: é um Direito Natural, independentemente do local onde se viva.

O que não é natural é que nem todos pensem e executem o exercício da liberdade no seu sentido universal. Há muito quem pratique mais o sentido umbilical da questão.

O senhor Manuel Portela, director do Teatro Académico de Gil Vicente, recusou o acolhimento do Espectáculo “Sós em Miami” do grupo Teatro em Movimento (TM), “com o argumento de que se tratava de um espectáculo panfletário”.

O que significa o conceito “panfletário”?

Quanto a mim, na prática quotidiana, “panfletário” é tudo aquilo que alguém (neste caso com poder para tal) detesta ou pretende impedir de se realizar, apresentar ou ver. Tudo aquilo que esse alguém aprecia, realiza, apresenta ou vê nunca é panfletário. Porque segue os trâmites do seu pensamento ideológico ou político.

A série televisiva “Floribella” não é panfletária! Não?

Leandro Vale, director e encenador do TM, acusou Portela de ter censurado o seu trabalho.

Manuel Portela diz que “a acusação não tem qualquer fundamento, a não ser que se entenda o não programar uma proposta como acto de censura”.

Na verdade Portela teria razão se a sua resposta ficasse por aí. Não programar uma peça não é, só por isso, um acto de censura. Porém o que se segue revela que Leandro Vale tem toda a razão:

”Não havia interesse especial em apresentar um texto dessa natureza”, justificou-se Portela, considerando o espectáculo “claramente pró-cubano e antiamericano, mas de uma forma primária”.

É ou não elucidativo?

Além do mais, o senhor Portela tem um conceito de censura bastante próprio:

”Fazer censura, na perspectiva de Portela, seria programar o espectáculo e, depois, cancelá-lo ou exigir a supressão de partes indesejadas”.

A censura é só isto!

A este respeito lembrei-me de dois factos, ocorridos em Portugal, não muito distantes na memória:

1 – As loas que se teceram aos “Versícuos Satânicos” de Salman Rushdie e o tratamento de “santo” que lhe foi concedido;

2 – A posição política do senhor Lara em relação a “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” de Saramago e o tratamento de “diabo” que lhe foi concedido.

Ora digam se não cheira a requentado!


admário costa lindo

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