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3 de setembro de 2006

Africando os Sons



José Góis* é nascido, criado e fugido de Angola. Músico autodidacta pela curiosidade e necessidade. Nos finais dos anos 70 criou, com Paulo Fiel, Álvaro Serra e Cepeda, a banda Íris Púrpura. Depois de muitas viagens encontrou-se em estúdio com um grupo de amigos e gravou, em 1998, o CD Agridoce.

Voz da Póvoa: O africano parece nascer com os ritmos e a música, é também o seu caso?

José Góis: A música corre há gerações no sangue da minha família. A sanfona, o bandolim ou o violino, são apenas alguns dos instrumentos que o meu pai, o meu avô ou o meu bisavô tocavam. É uma herança genética à qual dei continuidade, por estar sempre pendurado na saudade de Angola. Em presença tenho estado por cá, mas em alma nunca saí de lá. O instrumento aparece como uma terapia e uma companhia.

VP: Já a viver na Póvoa a música africana acaba por ter que esperar. Porquê?

JG: Quando cheguei, em 1977, fugindo da guerra, os amigos que fui conhecendo com as suas bandas de garagem, apostavam em projectos rock, adaptei-me guardando a minha África para outra altura. O primeiro projecto chamava-se Íris Púrpura. Depois nesta história da música cabem muitos amigos, que vão chegando e abraçando as sonoridades, como Noé Gavina, Carlos Martins, Ernesto Candal, Sérgio e tantos outros. Com o evoluir dos músicos andamos ali perto do jazz e do clássico sem ter atingido nenhum dos lugares, desta fusão deu-se a confusão e cada um seguiu a sua estória.

VP: Porque razão nunca teve um projecto consistente?

JG: Na música sempre andei à procura de mim, não sigo nenhum sonho, devo apenas estar a perseguir essa história do meu lado preto. Sei que para voltar às minhas origens só posso ir por aí, pelo lado do sentimento, para assinar o meu armistício interior, que me arranca da alma as composições. Nunca tive a necessidade de me afirmar com nada. Nas viagens e nos concertos por essa Europa encontrei pessoas que gostam de mim e daquilo que faço. A música é o princípio do meu equilíbrio.

VP: Qual é a fórmula errada para que um projecto musical se perca?

JG: Penso que o músico debita um certo individualismo e quando isso acontece os projectos falham. O grupo tem a exigência da afinação para que funcione num todo. Muitos dos músicos com quem trabalhei hoje tocam sozinhos, os persistentes fazem carreira, os outros andam por aí e é pena porque havia grandes talentos que ficaram muito perto das coisas sérias. Eu também andei por aí, fiz uma viagem de 180 dias no deserto da Namíbia tendo como companhia a guitarra.

VP: E o disco Agridoce?

JG: É a primeira estória do sabor adquirido da África e do mundo. É um disco carregado de saudade e de cansaço, cantado num dialecto de Angola que, tendo passado um pouco ao lado deste país, passou muito no auditório da RDP África e nas rádios de Angola. O disco já passou pela pirataria e sofreu umas mixagens. Os tipos viram que eu estava cansado e deram-lhe outro ritmo, africanizando mais um pouco.

VP: Sei que o regresso ao estúdio está para breve. É o regresso à África dos sons?

JG: Definitivamente o projecto tomou a direcção africana, o objectivo é chegar ao corredor da lusofonia. Para esta viagem conto com um grupo de jovens amigos, o brasileiro Tuca na percussão, Toni Vieira no baixo e contrabaixo, o Tiago, como convidado, no violino e umas vozes femininas africanas. O projecto está a ser trabalhado desde o início do ano, os compromissos têm atrasado um pouco, mas está aí mesmo a bater à porta.

entrevista conduzida por José Peixoto
“A Voz da Póvoa”, 17.08.2006


* José Góis nasceu na Palanca, Humpata, Huíla a 16 de Março de 1962. Reside na Póvoa de Varzim. É irmão do artista plástico Carlos Góis Pino »»».



3 comentários:

Anónimo disse...

Olá primo.Vai em frente com a musica da nossa terra.Palanca que saudades. Sempre firme tu consegues. Beijinhos da tua prima NELINHA GÓIS

Anónimo disse...

Nelinha sempre na linha, és uma prima cá das minhas liga para 964016479,um beijinho do primo ZÉ DA MIMI e quem escreveu foi o DAVID filho da GORETTI e do Zé vale a sinceridade prima,estamos juntos e misturados e até amados.

Anónimo disse...

Quando voltmos á nossa Querida terra? O meu contcto é 916821189 liga-me. Beijinhos para todos com muitas saudades. NELINHA GÓIS